Coluna

Mesmo insuficiente, auxílio emergencial ajuda a segurar o consumo em junho

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de agosto de 2020

A
pesquisa mensal sobre as vendas no comércio, divulgada ontem pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além dos números de junho deste
ano, acrescenta pelo menos uma informação relevante para o debate que se segue
sobre a ajuda emergencial às famílias mais vulneráveis, que veio tarde, demorou
para chegar e ainda sofre com uma execução imperfeita e lenta. Até o dia 10 de
agosto, cinco meses depois de instalada a pandemia de Covid-19 no País, o
governo havia pago R$ 167,655 bilhões, representando 65,94% de um total de R$
254,240 bilhões destacados pelo governo para o auxílio emergencial, segundo
acompanhamento realizado pela Câmara de Deputados.

Numa
aproximação, o valor liberado no período corresponderia a aproximadamente 59%
da massa salarial ampliada disponível mensal, numa estimativa própria. No
conceito definido pelo Banco Central (BC), a massa salarial ampliada, como se
sabe, considera todos os rendimentos do trabalho, mais pensões, aposentadorias,
os pagamentos do Bolsa Família e de benefícios de prestação continuada
recebidos por idosos e pessoas de baixíssima renda incapacitadas para o
trabalho. Não entra na conta o auxílio emergencial, conforme o próprio BC.
Acumulada em 12 meses, essa massa de renda atingiu R$ 3,432 trilhões em junho
deste ano, o que corresponderia, grosso modo, numa estimativa própria, a um
total médio mensal ao redor de R$ 286,0 bilhões.

A
edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, lançada pelo
IBGE para acompanhar os impactos da pandemia sobre o mercado de trabalho,
também conhecida como PNAD Covid-19, registra o desembolso de R$ 25,9 bilhões
em junho com o pagamento pelo governo do auxílio emergencial, praticamente R$
3,64 bilhões a mais do que em maio, quando as famílias teriam recebido perto de
R$ 22,230 bilhões. A entrada desses recursos no orçamento familiar tornou-se um
fator de suporte para a demanda em junho passado e ajudou a aliviar a situação
do varejo, destacadamente no caso de hiper e supermercados e lojas de materiais
de construção.

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Relutância cega

Na
comparação mensal, o auxílio representou 16,2% da massa salarial efetivamente
recebida pelos trabalhadores em junho, diante de uma participação de 14,1% em
maio. Sem essa renda extraordinária, que a equipe do superministro Paulo Guedes
insiste em reduzir ou cortar definitivamente, a renda das famílias estaria em
queda mais profunda, complicando o cenário adiante para a atividade econômica e
aprofundando a crise. O número de domicílios onde alguém havia recebido o
auxílio avançou de 26,304 milhões em maio, quando representavam 38,67% do total
de domicílios no País, para 29,369 milhões no mês seguinte, numa variação de
11,65% (mais 3,065 milhões de domicílios). Naquele mês, conforme a PNSD
Covid-19, em torno de 43,0% dos domicílios passaram a registrar ao menos uma
pessoa favorecida pelo auxílio.

Balanço

·  
Ainda
como influência positiva sobre o varejo ampliado, que contempla lojas de varejo
tradicionais, concessionárias de veículos, motos e autopeças e o segmento de
materiais de construção, o IBGE observa que junho deste ano trouxe dois dias
úteis a mais do que o mesmo mês do ano passado. Esses fatores ajudaram a conter
a redução das vendas no varejo amplo em apenas 0,9% frente a junho de 2019,
contrabalançando a perda de R$ 9,4 bilhões causada pela redução de 4,4%
registrada pela massa real de rendimentos habitualmente recebidos pelos
trabalhadores e pela menor circulação de pessoas, a despeito das medidas de
afrouxamento adotadas por várias regiões.

·  
Entre
as empresas que responderam o questionário em junho, quase um terço (32,9%) relataram
impactos causados pelo distanciamento social, abaixo dos 44,5% anotados um mês
antes e bem menor do que os 63,1% alcançados em abril.

·  
A
redução de 0,9% em junho, quarta baixa consecutiva para o setor, foi
influenciado pelas perdas de 13,7% nas vendas de veículos, motos e peças, de
44,5% nas lojas de tecidos, vestuário e calçados e de 16,3% nas vendas de
combustíveis. A compensação veio das altas de 6,4% nas
vendas dos hiper e supermercados (incluindo alimentos, bebidas e cigarro), de
22,8% nas vendas de materiais de construção e de 25,6% no setor de móveis e
eletrodomésticos (que vinha de quedas de 35,7% em abril e de 8,0% em maio,
sempre em relação ao mesmo período de 2019).

·  
Na
comparação em igual período imediatamente anterior, as vendas do varejo
ampliado avançaram 19,2% em maio e 12,6% em junho, indicando alguma desaceleração.
O varejo restrito, sem veículos e materiais de construção, avançou 0,5% em
relação a junho do ano passado e 8,0% na comparação com maio deste ano,
fechando o primeiro semestre em queda de 3,1%. No varejo ampliado, o resultado
do semestre ficou negativo em 7,4%.

·  
Em
Goiás, as vendas apresentaram desaceleração mais vigorosa, embora o número de
domicílios favorecidos pelo auxílio emergencial tenha crescido um pouco mais do
que na média do restante do País. Na comparação com o mês imediatamente
anterior, as vendas no varejo restrito e no comércio ampliado haviam crescido
respectivamente 18,9% e 22,8% em maio (o que se compara com a retração de 17,1%
e de 20,5% anotada em abril). Em junho, a variação, seguindo a mesma ordem, foi
de 4,5% e de 2,3%.

·  
Na
comparação com junho de 2019, as vendas baixaram 3,2% no varejo restrito e 3,9%
no ampliado, encerrando o semestre com retração de 6,2% e de 7,1%
respectivamente.

·  
O
número de domicílios com auxílio emergencial cresceu de 914,39 mil em maio para
1,031 milhão em junho (12,8% a mais). Os valores emergenciais recebidos subiram
de R$ 729,16 milhões para R$ 868,84 milhões, em alta de 19,2%.