Mochileiro biografa professor que também rodou o mundo a pé
Nilson Gomes-Carneiro
O título é de uma provocação que explicita o conteúdo da obra. Durante o mais recente regime militar no Brasil, de 1964 a 1985, o cantor Geraldo Vandré, mesmo sendo de direita e fã da Força Aérea, sacudiu as massas de esquerda com os versos “Morrer pela pátria e viver sem razão”, trecho da música “Pra não dizer que não falei das flores”. O professor Joveny Cândido de Oliveira está biografado pelo jornalista Marcio Fernandes no livro “Lutar pela pátria é viver com razão”, que será lançado às 19h desta terça-feira (5), na Escola Superior de Advocacia (ESA) – Rua 101, nº 123, Setor, Goiânia.
A capa é ilustrada com Joveny, mochila às costas e cajado à mão, fazendo o Caminho de Santiago, de Portugal a Compostela, na Espanha. A imagem poderia ser do autor da obra, pois Marcio também é mochileiro e sabe cada palmo da trilha santa. Além das romarias pela Europa e América do Sul, têm outras atividades em comum em roteiros incomuns, como a leitura, o estudo do Direito e as reuniões de amigos – se você não é amigo dos dois nem esteve nas reuniões, o livro lhe dá uma chance. São 252 páginas de relatos deliciosos, bem contados por Marcio e bem estrelados por Joveny.
Sabe a vida que você sempre quis? Pois é, Joveny a teve e se mantém nela. Filho de um exator com uma costureira, nasceu na Fazenda Bocaina, município de Goiandira, hoje com 5 mil habitantes, pouco antes da 2ª Guerra, em 1936. A cidade, no Sudeste de Goiás, faz parte do que o biografado chama de Mesopotâmia, ao lado de “Catalão, Nova Aurora, Ouvidor, Cumari, Anhanguera e Três Ranchos, entre outras povoações”. Dali, partiu para o mundo. Literalmente.
Já encheu passaportes de carimbos, mas começou por Goiânia, sua contemporânea, e sempre voltava à terra natal, “primeiro município do estado a receber a estrada de ferro, em 1913, e os trilhos corriam às margens das propriedades dos Cândido de Oliveira”, que chegaram a Goiás há dois séculos, vindos de Arcos de Valdevez, extremo Minho, em Portugal. Marcio Fernandes é habitué do lugar – do Minho, não de Goiandira, esclareça-se.
É recomendável que você leia, pois aqui não cabe nem o resumo de uma vida tão maravilhosa como é a alheia, principalmente de “um caipira legítimo”, que se revoltou contra a esquerda antes do golpe de 1964, ajudou a derrubar o presidente João Goulart e mesmo assim, “a partir do AI-5, foi sistematicamente monitorado pelo SNI”. Fundou faculdade (UniAnhanguera, na Cidade Jardim) e, mesmo assim, os sócios lhe deram uma lição de engodos e enganos.
Exímio atirador, Joveny foi oficial do Exército, no 1º Regimento de Carros de Combate, no Rio de Janeiro, onde morou. Funcionou como peça importante na fundação da União Democrática Ruralista, presidida pelo agora governador de Goiás, Ronaldo Caiado. A UDR foi gestada em seu cartório, em Goiânia. Sessenta anos antes da rusga Lula x Trump, lideranças de Brasil e Estados Unidos já se estranhavam, conta Joveny: “Houve imbecis de dentro do regime militar, notadamente o brigadeiro Veloso e o coronel Lameirão, que tiveram um ataque de loucura e quiseram botar todos os americanos para fora do Brasil”.
À beira de completar 90 anos, Joveny tem milênios de sabedoria. Parte dela é exposta no livro de Marcio Fernandes. Leitura obrigatória. Onde mais você ficaria sabendo que em Goiás alguém (no caso, Jorge, avô de Joveny) quebrou uma carabina no lombo de um integrante da Coluna Prestes” quando a organização criminosa tentou invadir a fazenda da família para roubar? Para ter mais informações sobre a obra, o contato é com a editora do livro, Britz Lopes, (62) 99973-4246.