Na maior “revolução” em cinco anos, pecuária bovina turbina produtividade
Nos últimos cinco anos, a pecuária bovina teria operado sua “maior
revolução num espaço de tempo muito curto”, na avaliação de Maurício
Palma Nogueira, diretor da consultoria Athenagro, observada
especialmente depois da consolidação da China como principal mercado de
destino da carne bovina brasileira. Entre 2019 e 2024, a participação
chinesa na pauta de exportações do setor saiu de 26,7% para 46,1%. Em
toneladas, a China respondeu ainda por quase 82% do aumento das
exportações brasileiras de carne bovina naquele período. A exigência
chinesa do abate de animais com até 30 meses, pondera Nogueira, levou a
uma “corrida para melhorar a fertilidade das fêmeas”, ampliar os índices de
reprodução do rebanho, reduzir o tempo para terminação dos animais, o
que tornou o ciclo pecuário mais curto e alterou o perfil dos abates.
“A pecuária apresenta hoje uma capacidade muito superior para
substituição de fêmeas, com o aumento da produtividade diluindo a sua
retenção pelos pecuaristas”, observa ainda. No curto prazo, o peso médio
dos animais abatidos observou alguma redução, refletindo a maior
proporção de fêmeas. “Em março, pela primeira vez na história, o número
de fêmeas superou o total de machos levados ao abate”, reforça Nogueira.
A tendência de longo prazo, no entanto, mostra um incremento do peso
médio das carcaças, com avanço em torno de 10,2% entre 2014 e o ano
passado. Em igual intervalo, enquanto o rebanho cresceu 14%, a área de
pastagens foi reduzida em quase 7%, num movimento acompanhado pelo
salto de 57% na taxa de ocupação, que passou de 0,77 para 1,21 unidades
animais por hectare – cada unidade corresponde a um bovino adulto com
peso vivo de 450 quilos.
Consumo estável?
O aumento de 5,6% no total de bovinos abatidos no primeiro trimestre
mexeu com as projeções para 2025, na avaliação de Nogueira e do gerente
da Consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar Castro Alves. Havia a expectativa
de uma redução na produção de carne frente ao volume histórico produzido
em 2024, algo como 11,812 milhões de toneladas em carcaça equivalente,
segundo a Associação Brasileira das Indústrias Brasileiras de Carnes
(Abiec). Em sua estimativa inicial, Alves trabalhava com redução próxima
de 1,0%. O ritmo acelerado dos abates chegou a sugerir que a produção
poderia se aproximar ou repetir o recorde do ano passado, o que poderia
dar sustentação às exportações do setor, que tem encontrado caminhos para
driblar ou pelo menos amenizar os impactos do tarifaço de 50% imposto
pelos Estados Unidos sobre as exportações de carne bovina.
Balanço
Cesar Castro Alves antecipa cenários positivos para os setores de
suínos e de aves, a despeito da ocorrência de gripe aviária na região
de Montenegro (RS). Os preços do frango abatido chegam a baixar
16% entre maio e as primeiras semanas de junho, mas a queda já
havia sido interrompida ao final daquele mês, com os preços
voltando a sua média histórica.
“As margens de rentabilidade no caso do frango abatido caíram de
45% para 37%, mas o setor preservou suas vantagens relativas e
pode renovar seus recordes de produção e exportação neste ano”,
comenta ele. Com a exportação em ritmo vigoroso e produção em
“ritmo bem controlado”, conforme Alves, os preços dos suínos têm
se mantido bem acima dos custos, registrando margens próximas de
26% em junho, frente a 1% na média histórica.
A melhora na sanidade dos rebanhos pode ajudar a cumprir as metas
climáticas assumidas pelo país, declara Luiz Monteiro, diretor
técnico do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde
Animal (Sindan). Estimativas sugerem que um aumento de 1% na
vacinação dos rebanhos geraria elevação de 0,7% na produção de
carne, algo com 70 mil toneladas a mais no caso brasileiro, conforme
Monteiro. “Uma redução de 10% na ocorrência de doenças entre
animais, por sua vez, traria redução de 800 mil toneladas nas
emissões de metano”, registra ele.
O sindicato lidera uma ofensiva, em parceria com a Health for
Animals, associação global que reúne as principais indústrias de
saúde animal, para “alinhar toda a cadeia de produção de proteína
animal” na busca por sustentabilidade, apostando nos ganhos de
produtividade que uma melhora na sanidade animal poderá trazer.
A iniciativa será levada à COP30, mas terá prosseguimento após a
cúpula do clima, aponta Monteiro. “O sindicato discute com o
governo a instituição de um protocolo básico de sanidade para todo o
País, um programa de vacinação e prevenção de doenças, assim
como a criação de um banco de vacinas que poderão ser usadas no
caso da entrada no país de cepas de aftosa não prevalentes no
Brasil”, resume ele.