Conversar sobre abuso infantil continua sendo um desafio. É um tema que desperta desconforto, medo e repulsa. Mas o silêncio só fortalece a violência: no Brasil, três crianças são vítimas a cada hora. Em 95% dos casos, o agressor é alguém próximo; em 65%, parte da própria família. Diante desse cenário, a escritora Andrea Taubman decidiu transformar dor em literatura e lançou “Não me toca, seu boboca!”(Editora Aletria), obra que ganhou o Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.

A narrativa acompanha Ritoca, personagem que quase sofre um abuso, mas reage a tempo. Com versos rimados e ilustrações de animais humanizados assinadas por Thais Linhares, o livro evita estigmatizar e ao mesmo tempo oferece clareza. “Enquanto o tema for tratado como ousado, uma criança estará sendo abusada”, afirma Andrea, que conheceu de perto a realidade de meninos e meninas em abrigos.

O processo levou sete anos. A primeira versão, escrita em 2010, foi revisada inúmeras vezes após consultas com psicólogos, juristas e instituições como a Childhood Brasil. Cada palavra foi escolhida para equilibrar ludicidade e responsabilidade. “Foi um caminhar na corda bamba: dizer o necessário sem traumatizar”, resume a autora.

Além da história, a obra traz orientações sobre como denunciar casos de violência e materiais de apoio validados por entidades de proteção à infância. Para Andrea, a literatura infantil é uma ponte de afeto. “Na leitura compartilhada, criam-se vínculos que permitem abordar os assuntos mais difíceis”, diz.

Ao colocar a voz da infância no centro, Não me toca, seu boboca! se tornou referência para famílias e educadores que buscam enfrentar um dos problemas mais graves da sociedade brasileira. 

A autora

Andrea Viviana Taubman nasceu em Buenos Aires, Argentina e mora no Brasil desde 1973. Formada em Química e em Tradução do Espanhol, também estudo para ser radialista. É escritora, tradutora, palestrante e contadora de histórias. Tem 14 livros publicados. Organiza, produz e participa habitualmente de eventos de literatura infantil e juvenil. Faz parte da diretoria da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (AEILIJ) desde 2013. Ocupa a cadeira no 21 da Academia Teresopolitana de Letras. Viveu em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Teresópolis-RJ, onde foi voluntária em abrigo que recebe crianças vítimas de maus-tratos. Em 2018, seu livro “Não me toca, seu boboca!” foi agraciado com o Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.