Nível muito baixo de vendas em abril de 2020 explica salto agora

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de junho de 2021

O avanço em abril das vendas do varejo amplo, que inclui concessionárias de veículos e motos, revendas de autopeças e lojas de material de construção, além de todo o restante do comércio exclusivamente varejista, teve nos veículos uma das principais ou mesmo a principal “mola propulsora”. Na comparação com abril do ano passado, quando a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) havia apontado queda de 27,4% para os volumes vendidos pelo varejo ampliado, registrou-se uma alta de impressionantes 41,0%, com salto de 132,1% nas vendas de veículos, motos e autopeças – setor que respondeu por 45,1% do crescimento observado em todo o varejo amplo.

O salto pirotécnico só foi possível pela base de comparação muito baixa, conforme destaca o próprio IBGE. As séries estatísticas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) permitem observar com maior clareza a “reação” enganosa das vendas neste ano. Em abril, em todo o País, foram licenciados 175,116 mil veículos, o que significou pouco mais do que o triplo do número de unidades licenciadas em abril do ano passado (apenas 55,735 mil veículos, incluindo automóveis, caminhonetes, caminhões e ônibus). Um incremento de 214,2%.

Descontando-se o mesmo mês do ano passado, foi o pior abril desde 2017. Mais ainda: na comparação com os 231,936 mil veículos licenciados em abril de 2019, o mercado ainda amarga perdas de 24,5%. No acumulado entre janeiro e abril, as vendas saíram de 839,536 mil em 2019 para 613,816 mil em 2020 (queda de 26,9%), subindo 14,5% na soma dos quatro primeiros meses deste ano (para 703,042 mil unidades). A comparação entre 2021 e 2019 mostra uma redução de 16,3%.

Continua após a publicidade

Reabertura

Na descrição do IBGE, “abril de 2020 foi o segundo mês após ter sido decretada o início da pandemia do coronavírus no Brasil e o mês com as maiores restrições na abertura de lojas do comércio varejista em todos os Estados do País”. Em sua avaliação, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) acrescenta que os resultados aparente melhores neste ano sofreram influência positiva da “reabertura das lojas em grandes centros urbanos, como São Paulo, na segunda metade do mês(passado), depois de algumas semanas com restrições para combater o novo surto de Covid-19, contribuiu para isso”. Ainda na análise do instituto, esse fator, “associado à liberação do novo auxílio emergencial, pode vir a continuar favorecendo as vendas”.

Balanço

  • Algumas ponderações sobre as considerações do Iedi. A possibilidade de nova alta em maio, na comparação com o mesmo mês do ano passado, de fato pode se concretizar, já que as vendas continuaram desabando, com queda de 7,4% e de 16,0% respectivamente no varejo restrito e no comércio varejista ampliado, frente a maio de 2019.
  • Como as restrições à circulação de pessoas e ao funcionamento do comércio foram muito mais brandas neste ano, muito embora a pandemia tenha alcançado recordes trágicos, a perspectiva de novo avanço não pode ser descartada, ainda que os números venham um pouco abaixo daqueles observados em abril (já que o tombo no quarto mês de 2020 havia sido muito mais severo do que em maio).
  • A despeito dessa suposta “reação”, os volumes vendidos em abril deste ano estiveram apenas 0,3% mais altos do que em fevereiro de 2020, para o varejo amplo, com elevação de 1,0% para o comércio convencional (ou restrito, na classificação do IBGE) em igual comparação.
  • Desde outubro, as vendas no varejo restrito sofreram baixa de 5,1%. O setor ficou no zero a zero em novembro, encolheu 6,2% em dezembro, manteve-se estagnado em janeiro (-0,1%), avançou 0,7% em fevereiro, mas caiu 1,1% em março para depois subir 1,8% em abril (sempre em relação ao mês imediatamente anterior).
  • No varejo amplo, o volume de vendas encontra-se ainda 6,1% inferior aos níveis alcançados em agosto de 2012, quando o setor registrou seu melhor desempenho na série histórica.
  • O desempenho em Goiás superou a média nacional, com elevação de 6,5% e de 9,9% para as vendas em abril, respectivamente, do varejo restrito e ampliado em relação a março deste ano. Em ambos os casos, aqueles setores vinham de perdas, pela ordem, de 5,8% e de 6,7% em março (comparado a fevereiro). A base de comparação muito achatada em abril do ano passado explica em grande parte os saltos de 27,7% e de 51,0% nas vendas do setor varejista restrito e do varejo ampliado em igual mês deste ano.
  • Na comparação com fevereiro do ano passado, quer dizer, antes da pandemia, as vendas no varejo tradicional ainda não se recuperaram totalmente, mostrando recuo de 0,8% em abril deste ano. Mas, com altas nas vendas de veículos e de materiais de construção, o comércio varejista em seu conceito mais amplo apresentou alta de 8,5% no mesmo intervalo.
  • O varejo goiano, ao contrário dos indicadores mais recentes, que superaram a média brasileira, continua mais distante dos picos de venda, atingidos em maio de 2014 para o comércio restrito e em agosto de 2012 no varejo amplo. Pela ordem, o IBGE aponta perdas de 28,4% e de 25,2%.
  • Numa última nota, mas não menos relevante, as vendas no setor de hiper e supermercados em Goiás têm apresentado números ainda piores do que a média brasileira. Como este foi um dos setores que não interromperam suas operações durante a pandemia, aparentemente seus resultados parecem refletir mais fielmente o comportamento do consumidor. No primeiro quadrimestre deste ano, comparado a igual período de 2020, as vendas naquela área baixaram 11,3% em Goiás, com recuo de 2,3% na média do setor em todo o País.