Num mês de especulação deslavada, dados contrariam chororô do mercado
Em meio à crescente onda especulativa estimulada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, quando decidiu por conta própria alterar a orientação previamente acordada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para a política de juros, a cotação do dólar saltou de R$ 5,24 no final de maio para R$ 5,56 no encerramento de […]
Em meio à crescente onda especulativa estimulada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, quando decidiu por conta própria alterar a orientação previamente acordada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para a política de juros, a cotação do dólar saltou de R$ 5,24 no final de maio para R$ 5,56 no encerramento de junho, em alta de aproximadamente 6,1%. Análises, manchetes, chamadas nas grandes redes de televisão e dos jornalões, nas suas versões digital e física, comentários de boteco, enfim, “deformadores” de opinião em série voltaram suas baterias, num ataque orquestrado, contra a política econômica, refletindo o chororô habitual dos mercados.
O cenário antevisto pelos arautos do austericídio em massa seria dominado por sangue e ranger de dentes, com o País e sua economia condenados ao fogo eterno do baixo crescimento ou, pior, do retrocesso econômico, por conta de uma fantasiosa “gastança” patrocinada pelo governo e sua equipe de gastadores contumazes. Então, em julho, foram divulgados os dados sobre o setor fiscal e o desempenho das contas externas um mês antes, quando a especulação correu despudoradamente. Os números? Ah, sim.
Claro. Desmentiram o chororô.
Conforme já registrado neste espaço (O Hoje, 30/07/2024), o déficit primário do setor público como um todo, que corresponde à diferença entre receitas e despesas, quando desconsiderados os gastos com juros, encolheu 16,41% no mês passado, na comparação com junho de 2023, baixando de R$ 48,899 bilhões para 40,873 bilhões – ou seja, uma redução de R$ 8,026 bilhões. O déficit primário do governo geral no acumulado em 12 meses até junho elevou-se para 2,44% do PIB, depois de ter encerrado 2023 em 2,29%, o que mostra uma evolução de 0,15 pontos percentuais.
O mundo não acabou
Bom, não se parece com um cenário de “fim de mundo”, especialmente quando comparado com os dados projetados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o restante do mundo. Na média, as economias mais avançadas tendem a registrar um déficit primário de 2,4% do PIB neste ano, de acordo com o Monitor Fiscal do FMI, divulgado ainda em abril passado. Para as economias emergentes, a previsão era de um déficit de 3,4% neste ano, repetindo o resultado de 2023. Mantidos os níveis atuais, o déficit do setor público brasileiro estaria praticamente um ponto percentual abaixo da média dos países emergentes.