Número de pobres atinge níveis recordes em Goiás e no Brasil

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 19 de julho de 2022

Atos, decisões e, sobretudo, desmandos patrocinados pelo desgoverno em Brasília acarretam consequências objetivas e reais para o mundo real fora dos gabinetes. O desmonte sistematizado de políticas sociais, o fim da política de valorização real do salário mínimo, o desmantelamento de políticas de segurança alimentar, refletida já no primeiro ato do atual desgoverno, com a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), levaram a um crescimento recorde dos números da pobreza em todo o País e Goiás não foi exceção.

Os dados foram consolidados recentemente pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), dirigido pelo economista Marcelo Neri, no estudo “Nova Mapa da Pobreza”, que oferece uma visão geral da evolução da pobreza a partir de 2012, com base em microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 2012 e 2021, o percentual de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 497 (menos de R$ 17 por dia) saiu de 19,33% para 22,52% no Estado, depois de ter atingido seu nível mais baixo em 2013, quando chegou a recuar para 15,27%.

Para o Brasil como um todo, o percentual de pobres elevou-se de 27,36% também em 2012 para 29,62% no ano passado, o que se compara com 23,72% em 2014, o percentual mais baixo na série histórica do FGV Social. O estudo mostra que os níveis da pobreza chegaram a recuar de 26,05% em 2019 para 25,08% em 2020, refletindo o auxílio distribuído emergencialmente durante a pior fase da pandemia e das medidas de distanciamento social. A pobreza voltou a avançar com o fim do auxílio no início de 2021 ou sua redução nos meses seguintes para quase 30% da população.

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Carestia e pobreza

Em Goiás, aqueles números seguem tendência um pouco diversa e tem subido desde 2018, quando o índice de pobres havia atingido 19,20% frente a 17,97% em 2017. Em 2019, o percentual recuou levemente para 19,13%, mas elevou-se para 19,28% em 2020 e agregou mais 3,24 pontos de porcentagem no ano passado. Por trás desses percentuais frios e impessoais, há pessoas, famílias inteiras lançadas na pobreza por uma política econômica desastrosa e excludente, que trouxe uma escalada da inflação, com encarecimento acelerado dos alimentos, da energia, do gás de cozinha e dos combustíveis em geral. A carestia e o desemprego, ainda historicamente elevado, têm achatado renda especialmente das famílias mais pobres, com evidentes consequências sobre os números da miserabilidade em um país já miserável e excessivamente desigual.

Balanço

  • Com base em dados populacionais do IBGE, também contemplados na PNADC, a coluna estimou a evolução do número absoluto de pobres ao longo do tempo e os dados são aterradores, assim como par ao conjunto do País (neste caso, nas estimativas do FGV Social e de seu diretor).
  • Quando a pobreza chega a seu menor índice da série, em 2013, Goiás havia registrado, no quarto trimestre do ano, perto de 6,459 milhões de habitantes. Pouco mais de um sexto desse contingente (ou, mais precisamente, 15,27% nas contas de Marcelo Néri) encontravam-se em situação de pobreza, o que correspondia, em grandes números, a algo próximo a 986,0 mil pessoas.
  • Seis anos mais tarde, o percentual de pobres havia alcançado, conforme já anotado, em torno de 19,1% da população, que havia subido para 7,055 milhões. Feitas as contas, o total de pobres já se aproximava de 1,350 milhão, num salto de praticamente 37% frente a 2013. Mais claramente, perto de 363,0 mil goianos caíram na pobreza em seis anos.
  • Com os desmandos do desgoverno e de sua equipe econômica, foram necessários apenas dois anos para que o número de pobres anotasse crescimento de 20,84%, atingindo mais de 1,630 milhão de pessoas ou 281,0 mil a mais do que em 2019. Na média anual, o número de pobres chegou a aumentar qualquer coisa ao redor de 60,6 mil ao ano entre 2013 e 2019. Nos dois anos seguintes, a média foi mais do que duplicada, para 140,7 mil, o que correspondeu a um salto de 132% (reforçando, na comparação entre as duas médias anuais, apenas para deixar claro o novo ritmo de avanço da pobreza, muito mais intenso nos anos do desgoverno).
  • Em todo o País, destaca Néri, o número total de pessoas na pobreza chegou a nada menos do que 62,930 milhões, crescendo numa velocidade muito próxima de 18% desde 2019, o que significou o acréscimo de 9,621 milhões de pessoas entre aqueles com renda domiciliar per capital abaixo de R$ 17 por dia (R$ 497 ao mês). Considerando apenas o acréscimo registrado pelo trabalho, seria como se quase toda a população de Portugal tivesse decaído para a pobreza num espaço de apenas dois anos.
  • Pouco mais de 60% desse aumento deu-se entre as pessoas com ganhos mensais de até R$ 281, algo em torno de R$ 9,40 por dia, que passaram a somar 32,167 milhões ou 5,783 milhões a mais do que em 2019 (alta de 22%). Os muito pobres, com rendimentos per capita diários de apenas R$ 3,50 (ou R$ 105 ao mês), aumentaram em torno de 13%, chegando a 12,624 milhões.
  • Na comparação regional, as desigualdades surgem de forma dramática, com números mais desesperadores para Estados nordestinos, a exemplo do Maranhão, com 57,9% da população na pobreza, e Pernambuco, onde o índice de pobres experimentou a maior variação entre 2019 e 2021.
  • Mas a pobreza atinge níveis alarmantes também nas porções mais desenvolvidas do País, superando um terço da população na região de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, e aproximando-se de 30,5% em Duque de Caxias, no mesmo Estado.