Coluna Giramundo
O conflito no sul do Marrocos que pode influenciar a agricultura em Goiás
Publicado por: Marcelo Mariano | Postado em: 12 de julho de 2021Marcelo Mariano*
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Na última semana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou o reconhecimento da soberania do Marrocos em relação ao Saara Ocidental, uma decisão tomada ainda durante o mandato de seu antecessor, Donald Trump.
Em troca do reconhecimento, o Marrocos normalizou suas relações diplomáticas com Israel, a exemplo do que outros países árabes fizeram recentemente, como Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão.
Mas qual é a importância do Saara Ocidental e como esse território no sul do Marrocos pode influenciar a agricultura em Goiás? Antes, um pouco de contexto.
O Saara Ocidental foi uma colônia espanhola até 1976, quando a independência foi declarada. No mesmo ano, contudo, o Marrocos ocupou o território, o que se mantém até os dias de hoje.
Há um movimento independentista, liderado pela Frente Polisário, cujo líder esteve há poucas semanas na Espanha para tratar de Covid-19, gerando uma crise diplomática entre Marrocos e o país europeu.
O governo marroquino foi acusado de afrouxar suas fronteiras, o que permitiu a passagem de milhares de imigrantes sem documentos rumo ao território espanhol.
Isto posto, o Saara Ocidental é especialmente importante devido às suas reservas de fosfato. Levando em consideração as reservas do território, o Marrocos tem quase 75% de todo o fosfato do mundo, um recurso finito e essencial para os fertilizantes.
E é justamente aí que entra Goiás, que importa muito fertilizante do Marrocos. Os fertilizantes são usados na agricultura. Em especial na região do Cerrado, onde o solo é pobre em fósforo, eles são ainda mais importantes.
Portanto, qualquer instabilidade no Saara Ocidental pode causar disrupção na agricultura e na logística de alimentos não só em Goiás e no Brasil, mas em todo o mundo.
A tendência é de controle cada vez maior do Marrocos, ainda mais agora com o respaldo dos Estados Unidos. De qualquer forma, trata-se, sem dúvida, de um assunto para ficar de olho.
*Assessor internacional da Prefeitura de Goiânia, vice-presidente do Instituto Goiano de Relações Internacionais (Gori) e autor do livro “Introdução ao Oriente Médio: um guia em dez perguntas sobre uma das regiões mais importantes e complexas do mundo”. Escreve sobre política internacional às segundas-feiras.