O grande atraso brasileiro no reuso de águas no campo

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 25 de agosto de 2022

A despeito da regulação exercida pelos conselhos nacionais de Recursos Hídricos e de Meio Ambiente, respectivamente CNRH e Conama, o País ainda está muito atrasado na discussão global sobre reuso de águas, “quando comparado com Israel, Portugal, Espanha e vários outros países”, afirma Jordana Girardello, assessora técnica da Comissão Nacional de Irrigação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo ela, as resoluções do CNRH e Conama sobre o tema “precisam ser atualizadas para garantir a segurança do usuário dessa água e de seu fornecedor”.

A CNA, prossegue Jordana, defende uma regulamentação que estimule o uso de águas residuais para consumo indireto, de forma a “tornar essa opção atrativa para a produção, pois o setor agropecuário pode ser um aliado na solução desse problema, mas precisa de segurança para fazê-lo”. De acordo com ela, algumas experiências nesta área já fazem parte do dia a dia dos produtores, “como o uso de dejetos na adubação de lavouras, na geração de energia por meio de biodigestores e na captação e acumulação da água das chuvas”. Mas não há muita informação consolidada a respeito de práticas de reuso no meio agrícola.

O dado mais recente da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) indica que o reuso de efluentes na agricultura responde por algo em torno de 2,5% da demanda de captação de água usada na irrigação agrícola. Os sistemas irrigados captam em torno de 964,6 metros cúbicos por segundo, em média, durante o ano, dos quais 941,0 m³/s têm os mananciais como fonte e apernas 24,0 m³/s são de águas de reuso.

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Eficiência hídrica

Lançado pela Raízen como projeto em 2015, o ReduZa transformou-se num programa contínuo e produziu uma redução de 16% na captação de água externa, algo em torno de 12,0 bilhões de litros, suficiente para abastecer uma cidade com 300 mil moradores, conforme José Orlando Ferreira, gerente de qualidade integrada da empresa. Entre as safras 2020/21 e 2021/22, recém-concluída, em números já ajustados à menor produção de cana no período, registrou-se um ganho de eficiência hídrica equivalente a 1,8 bilhão de litros.

Balanço

  • Comparando aos números de uma década atrás, prossegue Orlando, a captação externa foi reduzida pela metade e a meta para 2030 contempla uma redução adicional de 10%, o que significaria qualquer coisa ao redor de 8,0 bilhões a 9,0 bilhões de litros a menos. Em torno de 80% desses ganhos vieram do reuso de águas residuais, o que compreende a recuperação de águas quentes nas caldeiras e da água condensada da própria cana.
  • O reaproveitamento de água das caldeiras não tem impacto apenas sobre a captação externa. “Evito ainda um gasto maior de energia para aquecer a água”, resume Orlando. O chamado “condensado de água”, obtido durante o processo de condensação do melaço para a produção de açúcar, é reutilizado no processo, repondo as perdas de água nas torres de resfriamento. Desde 2012, a Raízen investiu em torno de R$ 50,0 milhões na gestão de recursos hídricos.
  • O reuso de água, aponta Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comunicação corporativa da Marfrig, é um dos três indicadores adotados pela empresa no gerenciamento do consumo de recursos hídricos. “Temos como meta reduzir em 20% o volume de água consumido para a produção de uma tonelada de produtos até 2035, com base na performance de 2020”, adianta ele.
  • Pianez lembra que, como produtora de alimentos, a Marfrig não pode fazer o reuso em seus processos industriais, “por isso, a companhia busca oportunidades para adotar essa prática em atividades que não demandem água potável”, a exemplo da limpeza de áreas externas, como pátios e vias, e na higienização de equipamentos nas estações de tratamento de efluentes (ETE).
  • “Atualmente, 58% das unidades brasileiras da Marfrig adotam práticas de reuso de água e 100% das unidades operacionais na América do Sul dispõem de estações de tratamento de água, adequadas aos respectivos mananciais de captação”, afirma o executivo.
  • Mudando de assunto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor 15 (IPCA-15) de agosto, cobrindo o período entre 14 de julho e 12 de agosto. O dado confirma a perda relativa de ritmo na queda dos preços que têm puxado a inflação para baixo mais recentemente. A taxa geral havia saído de 0,13% em quatro semanas encerradas na primeira metade de julho para -0,68% nos 30 dias do mês passado. O recuo havia sido, portanto, de 0,76 pontos. O IPCA-15 de agosto alcançou -0,73%, ou seja, recuou 0,05 pontos.
  • O índice, que veio acima das expectativas do mercado, que esperava queda de 0,83%, foi derrubado pelos chamados preços administrados, com destaque para a energia e gasolina. A deflação nesta área saiu de 4,35% em julho para 4,28% até a primeira metade de agosto (também considerando período de 30 dias). A energia, que havia caído 5,78%, passou a anotar baixa de 3,29%. Para a gasolina, onde o índice havia saído de -5,01% para -15,48% (10,47 pontos mais baixo), a deflação passou a ser de 16,80%, numa diferença de 1,32 pontos.
  • Em resumo, o ciclo de baixas parece caminhar para seu esgotamento assim que as reduções determinadas pelas desonerações de impostos forem absorvidas pelos índices de preços. A boa nova é que os chamados preços livres estão em desaceleração. Depois de subirem 074% em junho, encerraram os 30 dias até 12 de agosto com elevação de 0,53% (levemente acima das projeções, que sugeriam uma taxa de 0,44% na contabilidade do Itaú BBA).