“O tempo das cerejas” ganha tradução no Brasil
Publicado originalmente em 1976, “O tempo das cerejas”, romance da escritora catalã Montserrat Roig (1946–1991), chega pela primeira vez ao leitor brasileiro em tradução para o português. A obra é considerada um clássico moderno da literatura em língua catalã e ganha releitura num momento em que debates sobre memória política e social voltam a atravessar diferentes países.
O enredo se passa na primavera de 1974, em Barcelona, meses antes da morte de Franco. A protagonista, Natàlia Miralpeix, retorna à cidade natal depois de mais de uma década vivendo entre França e Inglaterra. Sua volta coincide com a atmosfera de transição que tomava a Espanha: os jovens ansiando por um futuro democrático, enquanto os mais velhos carregavam as cicatrizes da Guerra Civil.
No centro da narrativa está a tentativa de uma família em recompor seus sentidos diante de um presente incerto. Pai, tia, irmão, cunhada e sobrinho se movem em busca de um lugar possível em meio ao choque entre memória e esquecimento. Natàlia, por sua vez, revive lembranças da juventude e de uma paixão que marcou sua trajetória.
A força de Roig está na construção de uma narrativa polifônica: cada personagem é peça de um mosaico histórico em que o íntimo e o político se entrelaçam. Ao transformar o cotidiano em matéria literária, a autora escapa do romance meramente memorialístico e revela a complexidade de uma geração situada entre o silêncio imposto e a promessa de liberdade.
Não à toa, o livro foi saudado pela crítica desde sua primeira publicação e se mantém relevante ao longo das décadas. Como destacou o Times Literary Supplement, “Roig usa a linguagem como uma arma contra a ‘desmemória’ política e social, dando voz àqueles que de outro modo permaneceriam silenciados, em especial as mulheres e os idosos”.
A autora
MONTSERRAT ROIG nasceu em Barcelona, em 1946. Jornalista e escritora, estreou na literatura em 1970 com os contos de Molta roba i poc sabó, vencedor do prêmio Víctor Català. Em 1972, publicou seu primeiro romance, Ramona, adéu, seguido de O tempo das cerejas (1977), vencedor do prêmio Sant Jordi, L’hora violeta (1980), L’òpera quotidiana (1982) e La veu melodiosa (1987). Sua obra também inclui narrativas jornalísticas e coletâneas de entrevistas e artigos. Morreu em 1991.

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