Quinta-feira, 28 de março de 2024

OCDE revisa previsões para 2023 em meio a guerra e inflação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 27 de setembro de 2022

As projeções para a economia global sugerem um período prolongado de crescimento bem mais moderado do que o esperado anteriormente, com desaceleração mais importante ao longo do próximo ano como um dos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia, do acirramento das pressões inflacionárias, seguidas de elevações de juros em todo o mundo, e ainda dos impactos das medidas de distanciamento social ainda em vigor na China para enfrentar surtos de Covid-19. Na previsão divulgada ontem pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o “clube” das nações mais ricas do planeta, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve sair de um incremento de 3,0% neste ano, depois de avançar 5,8% em 2021, para uma variação de 2,2% no próximo ano, perto de 0,6 pontos percentuais abaixo da projeção anterior.

A escalada dos preços de alimentos e da energia (petróleo e gás), detonada pelo conflito no leste europeu, aponta a OCDE, agravaram as tendências inflacionárias em praticamente todas as economias ocidentais, num momento em que o custo de vida “já estava subindo rapidamente ao redor do mundo”. Na prática, a economia global estancou no segundo trimestre deste ano e os indicadores em “muitas economias agora apontam para um período estendido de crescimento moderado”.

Em muitos casos, prossegue a OCDE, a alta de preços passou a ter origem em focos domésticos de pressão inflacionária. Sua expectativa é que o aperto monetário (quer dizer, as altas nas taxas básicas de juros) e a melhora nos gargalos gerados pela pandemia inicialmente e depois pela guerra nas cadeias globais de suprimento de insumos, matérias-primas, peças e componentes tendem a moderar as pressões inflacionárias em 2023. Mas, pondera o organismo, “preços elevados de energia e custos trabalhistas mais elevados” podem encurtar o espaço para um declínio das taxas de inflação.

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Perdas de renda

Nas estimativas da OCDE, as economias em todo o mundo tenderão a deixar de gerar perto de US$ 2,8 trilhões em rendas, medidas em valores reais, em comparação com o que era esperado há um ano aproximadamente, antes da guerra, portanto. Esse valor representaria uma queda superior a 2,0% no PIB global, segundo dados ajustados ao poder de compra de cada economia. Ao mesmo tempo em que parece claro que a economia mundial continuou em terreno positivo no terceiro trimestre, puxada pelo avanço chinês no período, sugere o panorama global desenhado pela organização, um número substancial de indicadores registrou uma “virada para o pior”, tornando mais negras as perspectivas para o crescimento do planeta.

Balanço

  • Embora a OCDE tenha mantido sua previsão de crescimento ao redor de 3,0% neste ano, suas estimativas indicam taxas de crescimento mais baixas especialmente para a China, Estados Unidos e Alemanha. A economia chinesa, afetada pelas medidas frequentes de distanciamento social, deverá sair de um crescimento de 8,1% em 2021 para 3,2% neste ano, abaixo da previsão anterior, que girava ao redor de 4,4%. Os EUA devem sair de um avanço de 5,7% no ano passado para apenas 1,5% neste ano, em torno de um ponto abaixo da previsão precedente. Na Alemanha, o PIB já havia crescido apenas 2,6% em 2021 e deverá avançar 1,2% neste ano (frente a uma estimativa anterior de crescimento de 1,9%).
  • Para 2023, a economia alemã corre o risco de encolher 0,7% o que se compara com uma projeção de alta de 1,7% na projeção anterior. Os EUA tendem a enfrentar um cenário de desaceleração também no próximo ano, estimando-se variação de 0,5%. Para comparar, nas estimativas apresentadas no começo do ano, a OCDE havia anunciado uma previsão de variação de 1,2% para o PIB de 2023.
  • Na China, o desaquecimento tende a ser menos pronunciado, saindo de 4,9% na previsão anterior para 4,7% agora, também nas estimativas para o próximo ano.
  • O Brasil mereceu uma revisão para as taxas esperadas para este ano, saindo de 0,6% para 2,5% neste ano. Mas, no próximo ano, o crescimento esperado foi revisado de 1,2% para 0,8%.
  • O tombo esperado para o PIB russo, que havia atingido nada menos do que 10% na previsão anterior, foi reduzido para 5,5% (ainda expressivo, mas como visto, muito menor do que o esperado). Em 2023, a OCDE antecipa retração de 4,5% diante da previsão anterior de redução de 4,9%.
  • A taxa de inflação para as 20 maiores economias globais, reunidas no G-20, estimada pelo organismo para este ano, foi elevada de 7,6% para 8,2%, o que se compara com 3,8% em 2021. O índice tende a baixar para 6,6% em 2023 (diante de 6,3% na estimativa anterior).
  • A inflação brasileira deverá ser a quarta mais alta no cenário traçado pela OCDE, chegando a 10,8% neste ano, “perdendo” para Argentina (92,0%), Turquia (71,0%) e Rússia (13,9%). A estimativa parece superdimensionada quando se considera a taxa de 8,73% acumulada em 12 meses até agosto. De toda forma, a inflação brasileira continuaria entre as sete maiores no mundo.
  • Ainda em terras brasileiras, agora com base nos dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), o déficit na conta de transações correntes, que resume as relações financeiras e econômicas do Brasil com o restante do mundo, atingiu US$ 18,411 bilhões entre janeiro e julho deste ano, crescendo praticamente 89,0% frente ao déficit de US$ 9,752 bilhões em igual período do ano passado. A base de comparação encontrava-se ainda bastante deprimida, abaixo das médias históricas, como reflexo da pandemia e das medidas globais de combate ao Sars-CoV-2.