País deixa de ganhar US$ 6,1 bi na venda de serviços de engenharia

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 05 de maio de 2021

O Brasil chegou a ter algum protagonismo no mercado internacional de serviços de engenharia e arquitetura, atingindo receitas anuais ao redor de US$ 10,0 bilhões até 2013, já descontadas as despesas que o País teve que pagar no mesmo setor a empreiteiras estrangeiras. Essas receitas passaram a murchar nos anos seguintes e, nos 12 meses encerrados em março deste ano, dado mais recente divulgado pelo Banco Central (BC), haviam despencado para alguma coisa inferior a US$ 3,5 bilhões, refletindo perdas de receitas e aumento nos gastos nesta mesma área.

O desmantelamento do setor de engenharia a partir de 2014 contribuiu para isso, assim como a crise instalada mais recentemente na economia global por conta da pandemia causada pelo Sars-CoV-2 desde o ano passado. Em valores não atualizados, as séries estatísticas do BC mostram que o Brasil havia conseguido exportar perto de US$ 18,163 bilhões em serviços de negócio, incluindo projetos de engenharia e arquitetura, entre abril de 2012 e março de 2013. Como os gastos com serviços do mesmo tipo consumiram US$ 8,540 bilhões naquele mesmo período, as receitas líquidas haviam somado US$ 9,622 bilhões.

Entre abril do ano passado e março deste ano, com o duplo efeito do desmonte ocorrido nos últimos oito anos e do impacto drástico da pandemia sobre a atividade econômica mundial, as receitas baixaram quase 26,8%, para US$ 13,303 bilhões, enquanto as despesas subiram 15,0%, atingindo US$ 9,822 bilhões. O saldo final despencou 63,8% e ficou limitado a US$ 3,481 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, o superávit no setor de engenharia, arquitetura e demais serviços relacionados àquelas áreas ficou resumido a US$ 1,404 bilhão, em queda de 30,8% diante do saldo de US$ 2,029 bilhões acumulados nos primeiros três meses do ano passado. O tombo refletiu o recuo de 3,96% nas receitas com a venda daqueles serviços, que baixou de US$ 3,992 bilhões para US$ 3,834 bilhões, e a alta de 23,8% nas despesas, passando de US$ 1,963 bilhão para US$ 2,431 bilhões.

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Rombo em queda

A forte retração observada na conta de serviços do País, que registra todas as transações realizadas pelo Brasil com os demais países naquele setor, decorreu do tombo recorde nas despesas com viagens internacionais e, ainda mais relevante, por conta da redução nos gastos com o aluguel de equipamentos estrangeiros. Na soma geral, o setor de serviços registrou déficit de US$ 3,472 bilhões entre exportações e importações no acumulado de janeiro a março deste ano, o que representou uma redução de 46,5% frente ao primeiro trimestre de 2020, quando o déficit havia somado US$ 6,493 bilhões. As despesas com viagens internacionais, já descontadas das receitas apuradas pelo País com a entrada de turistas e executivos estrangeiros, murcharam de US$ 1,394 bilhão para US$ 167,105 milhões, conforme já divulgado pelo BC. O gasto com o aluguel de equipamentos, que havia exigido desembolsos de US$ 3,624 bilhões nos três meses iniciais de 2020, caiu a menos da metade, para US$ 1,693 bilhão, numa queda de 53,3% (ou seja, menos US$ 1,931 bilhão, respondendo por mais de dois terços da redução do déficit do País no setor de serviços).

Balanço

  • Iniciada ontem, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deverá referendar hoje nova elevação da taxa básica de juros, possivelmente para 3,50% (embora setores do mercado financeiro acreditem que o colegiado poderá impor uma alta de um ponto de porcentagem, elevando os juros para 3,75%). O BC argumenta que a alta da taxa básica fará acalmar as expectativas de alta da inflação, ajudando a conduzir o índice inflacionário para o centro da meta no próximo ano (3,50%).
  • Nas apostas do mercado, a chamada “taxa Selic” (os juros que servem de base para definir o custo do dinheiro emprestado a empresas e às famílias, mas que também calibra a despesa do Tesouro com o serviço de sua dívida) deverá chegar ao final deste ano na faixa de 5,50% ao ano, o que pressupõe uma elevação de 2,25 pontos de porcentagem em relação aos níveis atuais (sem contar com a decisão que sairá hoje).
  • Os dados mais recentes, no entanto, sugerem que o ritmo de alta dos preços em geral já vem desacelerando antes mesmo do aumento dos juros, que deverá causar impactos relevantes sobre as contas públicas ao exigir despesas ainda maiores – o que parece contradizer (e de fato contradiz) o discurso do ajuste fiscal reiteradamente assumido pela equipe econômica.
  • As pesquisas de preços realizadas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) para aferir o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) confirmam a desaceleração em curso e prenunciam também o recuo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês passado, a ser anunciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na próxima terça-feira, dia 11.
  • O IPC-S anotou variação de 0,23% nas quatro semanas de abril, saindo de uma taxa de 1,0% acumulada em 30 dias até a primeira semana do mesmo mês. Ou seja, em apenas três semanas, o índice sofreu recuo de 0,77 pontos de porcentagem. O recuo seguiu a mudança de sinais no setor de transportes, principalmente. O índice da “inflação” do setor, que chegou a 3,89% em março, ficou negativo em 0,13% nas quatro semanas de abril. Os alimentos, no entanto, voltam a pressionar, depois de uma variação de 0,03% em março. Os preços no setor subiram 0,32% em abril.
  • Os preços continuam subindo fortemente na indústria, mas a variação igualmente perdeu um pouco de ímpeto em março, com elevação de 4,78% frente a 5,16% em fevereiro. Os custos no setor já acumulam variação de 33,52% em 12 meses, diante de uma inflação ao consumidor de 6,54% nos 12 meses encerrados em abril, segundo o acompanhamento do Ibre/FGV.