Quinta-feira, 28 de março de 2024

Pandemia atrasa licitações e derruba investimentos da Saneago neste ano

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 19 de novembro de 2021

O resultado líquido da Saneamento de Goiás S.A. continuou avançando no terceiro trimestre deste ano, refletindo em parte o incremento observado para a receita líquida total, mas principalmente a queda nos recursos reservados pela concessionária para fazer frente a créditos de difícil recebimento e a perdas com clientes. Mas o investimento sofreu forte retração no período ainda por conta dos efeitos diretos e indiretos da pandemia e por atrasos em processos de licenciamento ambiental e de regularização fundiária.

Entre julho e setembro deste ano, a companhia investiu R$ 44,367 milhões, em queda de 42,3% frente aos R$ 76,845 milhões investidos no terceiro trimestre do ano passado. Os investimentos em sistemas de água e esgoto foram os mais afetados, com baixas de praticamente 63,7% e de 54,6% respectivamente, saído de R$ 44,243 milhões para R$ 16,067 milhões no primeiro caso e de R$ 29,001 milhões para R$ 13,170 milhões no segundo.

A pandemia desarticulou cadeias de produção em diversos setores ao redor do mundo e aqui dentro, encarecendo os preços de materiais da construção civil, levando ao “insucesso de licitações no segundo semestre de 2020”, anota a empresa. Como os certames não ocorreram a tempo, o investimento programado acabou não sendo realizado. Nos nove meses iniciais deste ano, os investimentos somaram R$ 125,607 milhões e encolheram 32,4% frente aos R$ 185,814 milhões investidos no mesmo intervalo de 2020. O relatório da administração da Saneago, que acompanha o balanço do terceiro trimestre, aponta reduções de 41,96% para o investimento em água (de R$ 96,038 milhões para R$ 55,742 milhões) e de 47,5% na área de esgoto (saindo de R$ 78,5 milhões para R$ 41,212 milhões).

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Como exceção, o grupo “outros investimentos”, ao contrário, apontou saltos de 320,2% no terceiro trimestre deste ano frente aos mesmos três meses de 2020 (saltando de R$ 3,601 milhões para R$ 15,130 milhões) e de 154,1% no acumulado até setembro (passando de R$ 11,276 milhões para R$ 28,653 milhões). Esse tipo de investimento, não relacionado a sistemas de água e esgoto, envolveu a compra de veículos, computadores e softwares, além de obras em setores administrativos e estoques.

Nota mais alta

Os números do balanço mostram resultados robustos, reconhecidos no final de outubro deste ano pela agência de classificação de risco Moody’s, que elevou o “rating” (classificação) da Saneago de A+.br, conferida em março deste ano, para AA+.br. A melhora na “nota” da companhia poderá facilitar a captação de recursos no mercado, abrindo espaço para a contratação de operações a custos mais favoráveis, num ambiente de juros básicos em forte elevação e turbulências em série nos mercados de títulos de dívida e de ações. O lucro líquido aumentou 12,6% entre o terceiro trimestre de 2020 e igual período deste ano, avançando de R$ 110,772 milhões para R$ 124,698 milhões (9,43% a mais do que o resultado do segundo trimestre deste ano, na faixa de R$ 113,949 milhões). Nos três primeiros trimestres deste ano, a empresa acumulou um resultado líquido positivo de R$ 248,498 milhões, numa variação de 7,88% em relação ao lucro de R$ 230,357 milhões realizado nos nove meses iniciais de 2020.

Balanço

  • De acordo com o conselho de administração da companhia, olhando o terceiro trimestre deste ano, a redução de 62,05% no saldo de provisões, que encolheram de R$ 27,257 milhões para R$ 10,343 milhões entre 2020 e 2021, influiu na construção do resultado líquido. Ainda segundo a empresa, a liberação de recursos antes provisionados para atender a atrasos de pagamento e para compensar o risco de prescrição futura de créditos contra clientes que não honraram seus compromissos esteve relacionada à retomada da política de cortes no fornecimento a consumidores inadimplentes, prática suspensa no ano passado em função da Covid-19.
  • A taxa de inadimplência acumulada entre janeiro e setembro deste ano foi reduzida para 3,07%, diante de 8,31% no ano passado, com os pagamentos em atraso desabando de R$ 162,630 milhões para R$ 63,399 milhões (queda de 61,02%) – ou seja, teria sido possível recuperar R$ 99,231 milhões em valores estimados pela coluna com base nos dados do balanço. Segundo aqueles números, enquanto o faturamento avançou 5,65%, passando de R$ 1,957 bilhão para R$ 2,067 bilhões, os valores de fato arrecadados pela companhia subiram 11,69%, de R$ 1,794 bilhão para R$ 2,004 bilhões.
  • O aumento no lucro líquido tem sido favorecido, ainda, por uma redução do resultado financeiro da companhia ao longo do ano. A diferença entre receitas e despesas financeiras, que havia sido negativa em R$ 61,373 milhões nos nove primeiros meses de 2020, foi reduzida para R$ 12,002 milhões, ainda no vermelho, mas 80,44% mais baixa. A queda derivou de uma redução de 5,4% nas despesas financeiras (de R$ 113,366 milhões para R$ 107,196 milhões) e principalmente do salto de 83,1% nas receitas financeiras (de R$ 51,993 milhões para R$ 95,194 milhões).
  • Esse comportamento da conta financeira ajudou a calibrar o lucro líquido, já que custos e despesas cresceram em velocidade mais acelerada do que as receitas líquidas. No acumulado até setembro, a empresa desembolsou quase R$ 1,455 bilhão para cobrir custos e despesas, pouco mais de 80,0% da receita líquida e 7,67% a mais do que em 2020 (R$ 1,351 bilhão, representando 77,08% da receita). A receita líquida registrou variação de 3,66%, saindo de R$ 1,753 bilhão para R$ 1,817 bilhão.
  • O índice de perdas de água foi reduzido de 27,65% até setembro do ano passado para 26,53% neste ano, resultado da força tarefa criada pela Saneago em 2020 e que tem desenvolvido um esforço contínuo para combater perdas nos sistemas. Entre outras ações, a equipe tem realizado pesquisas exaustivas para descobrir vazamentos, com uso de uma haste de escuta, entre outros procedimentos, além de substituir ramais danificados.
  • Desde o ano passado, ainda de acordo com a empresa, vem sendo realizado um projeto de “migração em massa” de antigos hidrômetros para nova tecnologia baseada em medidores volumétricos. Entre março de 2020 e o mesmo mês deste ano, primeira fase do projeto, foram instalados 221,0 mil medidores novos, correspondendo a 9,7% da base instalada de hidrômetros. Em janeiro deste ano, mais 600,0 mil equipamentos foram licitados e deverão ser instalados até 2023, correspondendo à troca de mais 26,4% do parque atual, o que significará a substituição, desde março do ano passado, de 36,1% de todos os hidrômetros atualmente em operação.