Perdas no campo explicam menor alta para o PIB goiano neste ano

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 23 de julho de 2024

A economia goiana tende a manter ritmo mais acelerado do que a média projetada para o País ao longo deste ano, mas em nítida tendência de desaceleração quando considerado o desempenho apresentado nos últimos dois anos, conforme sugerem os dados revisados pela equipe de macroeconomia do Santander. Em sua mais recente atualização do panorama delineado para a economia regional, detalha o economista da instituição, Gabriel Souto, a taxa de crescimento projetada para o Produto Interno Bruto (PIB) em Goiás foi reduzida para 2,6% neste ano, diante de uma expectativa de variação na faixa de 5,7% estimada para 2023.

Os resultados históricos da safra agrícola no ano passado contribuíram para turbinar os números do PIB goiano, depois de um avanço de 4,4% previsto para 2022. Na visão de Souto, a economia brasileira em seu conjunto tende a experimentar algum desaquecimento ao longo deste ano, o que terá reflexos sobre as economias regionais. O PIB estimado para todo o País tende a anotar variação de 2,0% neste ano, depois de avançar 2,9% no ano passado.

Especificamente no caso de Goiás, comenta o economista, “a devolução de parte dos fortes ganhos da safra de 2022 e 2023 tende a ser um impacto negativo no PIB do Estado em 2024”. De toda forma, complementa Souto, “essa desaceleração pode ser vista mais como uma acomodação do que uma tendência mais longa”. Os resultados excepcionais da produção agropecuária no ano passado, de certa forma, acabam gerando um cenário mais propício a um desaquecimento neste ano, com uma safra menor, mas ainda muito robusta, pondera o economista.

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Numa comparação entre os Estados, Goiás surge numa 13ª posição, quase empatado com o Maranhão e ligeiramente abaixo da alta de 2,8% projetada para Maranhão neste ano. Com participação de 13,9% na composição do PIB estadual, a agropecuária deverá sair de um salto de 17,0% em 2023 para crescimento nulo neste ano. Na região, a agropecuária havia alcançado um aumento de 22,2% em 2023, com altas de 27,0% no Mato Grosso e de 20,0% em Mato Grosso do Sul, nas estimativas do Santander.

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Indústria desaquecida

Com forte participação da agroindústria, especialmente dos setores relacionados ao processamento de grãos e carnes, o PIB industrial goiano deve deixar para trás um incremento de 5,5% em 2023 para crescer em torno de 3% neste ano, projetando a mesma variação para 2025, num exercício arriscado de antecipação dada as incertezas e turbulências que ainda atribulam a economia local e internacional. Na média regional, no entanto, o desaquecimento tende a ser menos abrupto, com a variação esperada para o PIB industrial saindo de 4,0% para 3,6% – mesma taxa projetada para 2025.

Balanço

  • Ainda analisando as perspectivas para o setor industrial, Souto avalia que “a política monetária menos apertada deve contribuir adicionalmente para o setor à frente”. O efeito da redução dos juros básicos sobre a atividade econômica em geral, no entanto, pode ser limitada caso o Banco Central (BC) mantenha sua decisão de interromper o ciclo de cortes na taxa.
  • Responsável por 61,0% do PIB estadual, o setor de serviços responde mais diretamente ao comportamento da renda e das decisões de consumo das famílias e deve sustentar a mesma taxa observada em 2023, quando o PIB setorial registrou variação de 3,0%. Não deixa de ser, de toda maneira, alguma forma de desaceleração quando se consideram as taxas de 4,8% e de 5,5% colhidas em 2021 e 2022, respectivamente, depois da queda de 3,5% observada em 2020, ano mais crítico da pandemia.
  • Considerando a média esperada para o Centro-Oeste, a variação esperada para Goiás tende a ser levemente mais positiva, quando se leva em conta um incremento em torno de 2,4% para o PIB da região como um todo, depois de ter experimentado elevação de 6,0% no ano passado.
  • A se confirmarem as previsões do Santander para 2024, o PIB goiano tende a apresentar a segunda maior variação no Centro-Oeste, já que as economias do Distrito Federal, onde os serviços anotam maior participação, respondendo por 92,4% do PIB, de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso tenderão a crescer, pela ordem, 3,0%, 2,4%, 1,4%.
  • No ano passado, sempre de acordo com as projeções mais atuais do Santander, o PIB de Mato Grosso havia liderado, com salto de 10,9% em relação a 2022, seguido pelas altas de 7,3% em Mato Grosso do Sul e de 5,7% em Goiás, com o DF anotando elevação de 2,1%.
  • De volta a 2024, o economista do Santander acrescenta que o desempenho do mercado de trabalho deve continuar favorecendo a região. O emprego tem apontado “comportamento muito parecido entre todos os Estados, sinalizando um mercado de trabalho muito robusto”. Em Goiás, a criação líquida de empregos formais, já descontadas as demissões, chegou a apresentar certo desaquecimento no final do ano passado.
  • Em termos anualizados, foram abertas em torno de 40,0 mil vagas nos meses finais de 2023. Mas houve novo aquecimento no primeiro trimestre deste ano, com a criação de novos empregos formais passando a oscilar entre 70,0 mil e 80,0 mil vagas considerando o dado acumulado em 12 meses.
  • Em outro reforço ao nível de atividade, a massa salarial no Estado, prossegue Souto, apresentou crescimento nominal de 16,1% nos 12 meses finalizados em março deste ano em Goiás, liderando a variação no Centro-Oeste. Para comparação, considerando o mesmo intervalo, a massa salarial avançou 15,2% em Mato Grosso, em torno de 10,3% em Mato Grosso do Sul e 9,0% no Distrito Federal.