Perspectivas mais animadoras para biocombustíveis em 2022

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 12 de maio de 2022

A indústria de biocombustíveis deixa para trás um ano agrícola desafiador, na descrição do presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), Evandro Gussi, e antevê perspectivas mais animadoras mais adiante. No longo prazo, as questões relacionadas à mobilidade e à transição energética, na busca de uma economia de baixo carbono em todo o mundo, passam a demandar soluções mais sustentáveis e o etanol tende a cumprir papel estratégico naquelas áreas, observa ele.

Num horizonte mais imediato, a expectativa de normalização na economia, “com as pessoas passando a se locomover mais” diante da desaceleração dos casos de Covid-19, antecipa alguma melhoria para o mercado doméstico, que tem apresentado quedas expressivas na demanda por etanol desde o começo da crise sanitária. Externamente, “é preciso olhar com atenção movimentos recentes na Europa”, sugere Gussi, apontando o que parece ser uma mudança na retórica europeia em relação ao biocombustível brasileiro.

Seja por desinformação ou preconceito, afirma o presidente da Unica, o avanço da produção de etanol vinha sendo associado por “alguns países europeus” ao desmatamento e a uma suposta competição com a produção de alimentos – argumentos, segundo ele, “sem sustentação”. Sob impacto do conflito no leste europeu, a Europa tem experimentado um “chacoalhão energético”, em sua definição, o que parece ter contribuído para uma mudança no discurso. “O que temos, por enquanto”, pondera Gussi, “são falas retóricas ainda”, sugerindo que as restrições impostas ao etanol brasileiro poderão vir a ser requalificadas com base em dados mais próximos da realidade.

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Forte demanda

Num cenário de mudanças climáticas, Gussi identifica “demanda forte por energia de baixo carbono, despertando a atenção de players internacionais como a Índia”, país que deve elevar o percentual da mistura de etanol na gasolina de algo próximo a 6% atualmente para 20% até 2025. No dado mais recente da U.S. Energy InformationAdministration (EIA), referente a 2019, o consumo de gasolina na Índia aproximava-se de 30 bilhões de litros, para um consumo de etanol de 1,89 bilhão de litros, indicando uma mistura efetiva de 6,3%. O aumento nesse percentual poderá abrir espaço para uma demanda adicional de quase 4,11 bilhões de litros, elevando o consumo para aproximadamente 6,0 bilhões de litros.Já há três anos a Unica desenvolve um trabalho estratégico naquele país, oferecendo a expertise de pouco mais de quatro décadas de uso do etanol como combustível. “Estamos trabalhando o etanol com foco em segurança energética. Ninguém mais quer depender de fonte geograficamente concentrada para suprimento de combustível. Na nossa visão, é estratégico contribuir para a diversificação geográfica da produção de etanol no mundo”, argumenta Gussi.

Balanço

  • A safra encerrada em março foi afetada pela estiagem mais acentuada em 90 anos, geadas e incêndios acidentais, na descrição de Gussi, o que reduziu a moagem de cana para algo em torno de 525,0 milhões de toneladas no Centro-Sul, saindo de 605,5 milhões ciclo 2020/21. “Apesar de tudo isso, o setor entregou um volume ainda expressivo de etanol, produzindo 27,3 bilhões de litros”, aponta ele. O volume tende a recuar perto de 9% em relação à safra anterior, considerando ainda os dados do Centro-Sul. Mas os preços médios recebidos pelas usinas, segundo acompanhamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP, subiram desde o ano passado, atingindo R$ 3,55 por litro na semana encerrada em 8 de abril, em alta de 49,5% frente ao mesmo período de 2021.
  • A expectativa de manutenção de preços elevados e de alguma recuperação da produção na safra 2022/23, iniciada em abril, segundo Guilherme Bellotti, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, tornam os prognósticos “bastante positivos para o setor sucroenergético”. O regime de chuvas tem sido mais favorável neste começo de ano, observa Annelise Sakamoto Izumi, analista de agronegócio do Itaú BBA, o que permite estimar uma colheita próxima a 560 milhões de toneladas no Centro-Sul, numa alta de 6,7%.
  • O volume maior de cana e o crescimento da produção de etanol de milho, prossegue Annalise, indicam uma produção de 29,3 bilhões de litros do biocombustível, o que representaria elevação ao redor de 7%. As vendas totais de etanol, incluindo hidratado e anidro, caíram 16,6% entre 2019 e o ano passado, saindo de 32,8 bilhões para 27,4 bilhões de litros, conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). E continuavam em baixa no primeiro bimestre deste ano, com perda acumulada de 20,5% em relação ao mesmo período de 2021, saindo de 4,64 bilhões para menos de 3,95 bilhões de litros.
  • Para o longo prazo, acredita Mariana Campos, advogada do Souto Correa Advogados, a tendência global sugere a “aceleração da transição energética para fontes renováveis, limpas e sustentáveis”, o que deverá criar oportunidades para o biocombustível brasileiro. Entre outras consequências, menciona Mariana, a guerra entre Rússia e Ucrânia deverá acirrar a busca por alternativas energéticas. “Diante do compromisso de expandir cada vez mais a matriz energética renovável, a demanda global por outras fontes de energia pode ser favorável aos setores de etanol e biodiesel”, sugere ela.