Coluna

PIB brasileiro cresce no segundo trimestre e atinge 0,4%

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 29 de agosto de 2019

Ouvem-se
rojões pelos lados do Planalto Central. “O PIB cresceu. O PIB cresceu”, exclama
o histrião. Sim, cresceu uma “enormidade”, superando as previsões dos mercados,
de analistas e até mesmo do Banco Central (BC), já que seu indicador da
atividade econômica havia antecipado certa retração no segundo trimestre do ano
para o Produto Interno Bruto, o PIB festejado pelo bufão. O crescimento no
segundo trimestre atingiu 0,4% em relação ao primeiro, quando a economia havia
registrado recuo de 0,1% – dado revisado agora pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), que havia anunciado baixa de 0,2%
anteriormente.

O
Brasil livrou-se de uma recaída recessiva, é fato, mas o volume
total de riquezas produzidas pelo País retornou, assim, aos mesmos níveis
registrados no segundo trimestre de 2012. No passo atual, com taxas de
crescimento anuais na faixa de 1,0%, será possível repetir o pico alcançado no
primeiro trimestre de 2014, antes da crise, daqui a quase cinco anos, por volta
da primeira metade de 2024, praticamente uma década após iniciada a crise e
quase oito anos depois de encerrada a recessão. Esse tipo de projeção carrega,
no entanto, um tipo de idiossincrasia insuperável: pressupõe-se que a realidade
não sofrerá mutações daqui em diante, para o bem ou para o mal.

Decisões
de política econômica ou mudanças conjunturais, como as que ocorrem neste
momento na área externa, podem alterar as tendências na economia, e o ambiente
internacional pode não favorecer expectativas mais otimistas. O cenário à vista
mostra um agravamento da crise na Argentina, à beira de um calote,
desaceleração das principais economias globais e piora no comércio mundial
(afetando negativamente as perspectivas de avanço das exportações brasileiras),
afetado pela escalada na disputa comercial entre Estados Unidos e China.

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Nesta
última área, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) refizeram suas
projeções para este ano, reduzindo a previsão do comércio global de 3,6%
(projeção feita em janeiro pelo banco) a 3,4% (na estimativa de abril do fundo)
para 2,6% e 2,5% respectivamente, na reavaliação divulgada em junho por ambas
instituições (no caso do FMI, apenas dois meses depois de prever alguma coisa
mais vigorosa para o setor).

Patinando

Nos
últimos quatro trimestres, segundo o IBGE, a variação do PIB frente aos
trimestres imediatamente anteriores flutuou entre 0,5% no terceiro trimestre do
ano passado e 0,4% no segundo deste ano, com variações de 0,1% e -0,1% no
quatro trimestre de 2018 e no primeiro deste ano, respectivamente. Pela ótica
da demanda, apenas o investimento anotou melhora relevante, com a ajuda das importações
e de algum impulso interno, já que a construção civil conseguiu crescer depois
de 20 trimestres no negativo. Os demais fatores experimentaram estabilidade
relativa ou queda de fato.

Balanço

·  
O
consumo das famílias tem se mantido baixo, com avanços de 0,6% (terceiro
trimestre de 2018), 0,5% (quarto trimestre do ano passado), 0,3% e 0,3% no
primeiro e no segundo trimestres deste ano. Esse desempenho não tem contribuído
para dar sustentação a taxas de crescimento mais auspiciosas para a economia em
seu conjunto.

·  
No
setor externo (exportações de bens e serviços menos importações) tem dado
contribuição negativa na formação do PIB, já que as exportações experimentaram
neste ano o segundo trimestre consecutivo de retração (-2,9% no primeiro e
-1,6% no segundo), enquanto as importações avançaram 0,9% e 1,0%
respectivamente.

·  
O
consumo do governo, afetado pelas medidas de restrição aos gastos públicos, que
já havia recuado 0,3% no quarto trimestre de 2018, avançou 0,5% no primeiro
trimestre deste ano e devolveu com troco a alta anterior ao baixar 1,0% no
trimestre abril-junho de 2019 (sempre em relação aos três meses imediatamente
anteriores).

·  
A
indústria extrativa continuou puxando o resultado geral para baixo, com queda
de 3,8% (principalmente por conta da redução da produção de minério de ferro),
mas as indústrias de transformação e de construção avançaram 2,0% e 1,9%.
Assim, o PIB industrial chegou a apresentar variação positiva de 0,7%.

·  
Será
preciso sustentar essas taxas daqui para frente se os setores de transformação
e da construção pretendem retomar suas melhores marcas, anteriores à crise.
Nesta comparação, conforme anota o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi), aqueles setores estão ainda 15% e 30%,
respectivamente,abaixo dos seus melhores dias.

Depois de dois trimestres de queda, o
investimento subiu 3,2% no segundo trimestre deste ano, atingindo 15,9% do PIB,
mesma taxa registrada no segundo trimestre de 2016 e ainda 26% abaixo do pico
registrado no segundo trimestre de 2013.