PIB tende a ligeira desaceleração em Goiás neste ano, projeta consultoria
Desta vez, a vigorosa recuperação esperada para a atividade no campo aparentemente não deverá ser suficiente para compensar integralmente o desaquecimento projetado para os demais grandes setores da economia estadual. Assim, Goiás tende a crescer um pouco menos ao longo deste ano, quando comparado à variação projetada para 2024. Em ambos os exercícios, os dados correspondem a estimativas da Tendências Consultoria, que trabalha com economias regionais e projeta cenários para cada Estado.
A edição mais recente do estudo projeta variação de 3,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Centro-Oeste neste ano, com elevação de 2,6% em Goiás e de 2,9% no Distrito Federal, mas com saltos de 4,5% e 4,1% respectivamente para Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, revertendo integralmente os recuos de 0,8% e 0,3% sugeridos para 2024. Ao contrário dos demais Estados, que tendem a avançar de forma mais acelerada neste ano, Goiás e DF podem apresentar taxas de crescimento inferiores àquelas previstas para 2024 ou ao menos moderadamente inferiores.
No ano passado, segundo a modelagem da consultoria, as projeções mais recentes sugerem que o PIB goiano teria crescido 2,8%, com elevação de 3,5% no DF. Ou seja, para 2025, há uma variação 0,2 ponto percentual menor para Goiás e uma desaceleração de 0,6 ponto no DF. Na margem, as economias goiana e da capital federal tendem a acompanhar o desempenho do PIB nacional, que deve sair de 3,4% em 2024, segundo o IBGE, para algo em torno de 2,2% neste ano — uma “perda” relativa de 1,2 ponto percentual. Para alguns institutos independentes, como o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o crescimento pode ficar até abaixo de 2,0%.
Risco de retração
Na visão da economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim de Conjuntura do Ibre/FGV, o segundo semestre deve apresentar crescimento nulo, com risco de PIB negativo no último trimestre. Essa desaceleração não estaria necessariamente ligada à guerra tarifária promovida pelos Estados Unidos, mas refletiria em grande medida os efeitos retardados da política de juros altos.
As taxas reais de juros, medidas pelas operações de Swap de 360 dias com desconto da inflação projetada, saltaram de 6,0% ao ano no final de 2023 para 9,7% na média de julho de 2025 — um “choque monetário” considerado excessivo e provavelmente desnecessário diante do comportamento da inflação nos últimos anos.
Balanço
A Tendências aponta que a forte recuperação da agropecuária deve sustentar parte do desempenho goiano em 2025. A alta é estimada em 8,0%, depois de um recuo de 0,2% em 2024, influenciada principalmente pela redução de 7,21% na produção de grãos, que caiu de 32,19 milhões para 30,26 milhões de toneladas entre as safras 2022/23 e 2023/24.
Para a safra praticamente concluída em junho deste ano, a Conab elevou sua previsão para 36,98 milhões de toneladas — um salto de 22,2% (ou 6,71 milhões de toneladas a mais), estabelecendo recorde para Goiás. No Brasil, a colheita deve alcançar 345,23 milhões de toneladas em 2024/25, crescimento de 47,74 milhões sobre a safra anterior.
A produção de carne bovina também tende a crescer. Nos 12 meses encerrados no primeiro trimestre de 2025, o número de animais abatidos aumentou quase 6,0% em relação ao período anterior, passando de 3,80 milhões para 4,02 milhões de cabeças. Isso gerou 1,06 milhão de toneladas em peso de carcaça, 4,9% acima dos valores registrados entre o segundo trimestre de 2023 e o primeiro de 2024.
No entanto, os ganhos no campo devem ser “amortizados” pelo desaquecimento do varejo, da massa salarial e da indústria. As vendas do varejo ampliado devem recuar 1,9% neste ano, após um crescimento de 8,7% em 2024, especialmente em segmentos de bens duráveis dependentes de crédito, pressionados pelo encarecimento dos empréstimos. Já a massa de rendimentos reais deve desacelerar de 6,0% para 4,0% entre 2024 e 2025, depois de um salto de 13,3% em 2023.
Na indústria, a alta de 6,0% registrada em 2023 caiu para 2,6% em 2024, e deve se limitar a 2,2% neste ano.
Projeções para 2026
Numa estimativa de prazo mais longo, a Tendências prevê que o PIB goiano crescerá em torno de 2,0% em 2026, abaixo da taxa projetada para 2025. No País como um todo, a expansão deve ser de 1,6%. Para Goiás, a consultoria prevê “ligeira queda da produção agropecuária, com destaque para milho, cana e bovinos”, mas com avanço do mercado de trabalho e do comércio, o que deve assegurar desempenho positivo para o Estado.