Política do café com leite é indigesta para o bolsonarismo
Os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Minas Gerais, Romeu Zema, se encontram e a novidade é isso ser novidade. Assusta, ou deveria assustar, o fato de as duas mais habitadas unidades da federação se unirem para retomar o poder. Seria a ressurreição da política do café com leite, de uma época em que a economia paulista se baseava na cultura cafeeira e a de Minas, na pecuária leiteira.
Deveria assustar a esquerda, pois é difícil combater a direita sem arroubos. Deveria assustar o bolsonarismo, porque os dois estão fora da cúpula dos imbrocháveis, segundo a famosa medalha.
Zema e Tarcísio são a direita sem tempo para radicalismos. Afinal, quanto maiores os cargos, e seus governos são os principais, maiores as responsabilidades.
Quem está com sangue no olho para aprovar impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal não vai apoiá-los, pois têm mais o que fazer além de comprar uma briga sem resultado algum que não seja confusão. Anistia ampla, total e irrestrita seria maravilhosa, se não tivesse de passar pelo STF, que virou uma espécie de Casa revisora do Congresso — nem seria necessário, pois a revisão natural é com o Senado e seu presidente, Davi Alcolumbre, está na linha de Zema e Tarcísio.
O agro nos dois Estados é muito forte e a indústria de transformação, mais forte ainda. A junção de tudo isso pode mudar o vento, que atualmente está a favor de Lula. Se tiver de enfrentar os dois governadores, o que o PT teria a falar que fosse ao mesmo tempo verdadeiro e ofensivo?
O que a esquerda mais deseja é enfrentar uma direita dividida e maluquete, do tipo que afasta a classe média. No fim das contas, o café com leite faz média para o eleitor e é indigesto para os dois extremos, o lulismo e o bolsonarismo.