Coluna

Preços das carnes iniciam ano com baixa e deixam de pressionar inflação

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 24 de janeiro de 2020

Acompanhados
diariamente pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da
Esalq/USP, os preços das carnes chegam ao final do primeiro mês do ano em forte
baixa e deixam o posto de fator central de pressão sobre os índices de
inflação, papel que começa a ser exercido, daqui até fevereiro, pelos custos de
matrículas e materiais escolares. Entre o final de dezembro e a última
quinta-feira, 23, a cotação da arroba do boi gordo no mercado futuro
experimentou queda de 7,61%, enquanto, no mercado atacadista, os preços do
quilo do frango resfriado recuaram 3,56% e o quilo da carcaça suína desabou
16,35%.

Tomando
os valores médios registrados pelo centro de estudos nos primeiros 23 dias de
dezembro e de janeiro – medida que faz mais sentido quando se considera que os
índices inflacionários resultam da comparação entre os preços médios dos itens
pesquisados em períodos determinados –, a arroba bovina havia apresentado
redução de 8,78% entre dezembro e janeiro, com recuos de 1,38% e de 3,61% para
os preços da carcaça suína e do frango resfriado, respectivamente.

Entre
os fatores de pressão esperados para as próximas semanas, o destaque deverá
ficar, como sempre ocorre nessa época do ano, para as despesas com educação.
Essa alta ainda não foi captada inteiramente pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de janeiro, medido entre 12 de dezembro do ano
passado e 14 de janeiro deste ano (e comparado com os valores médios apurados
nas quatro semanas imediatamente anteriores). Segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), que responde pelo cálculo do IPCA, o grupo
educação apresentou variação de 0,23% naquele período, saindo de 0,09% nas
quatro semanas terminadas em 15 de dezembro de 2019.

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Pesos e
contrapesos

O
Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
no entanto, apontou alta de 0,95% para o período de 30 dias concluído em 22 de
janeiro, diante de recuo de 0,76% nas quatro semanas encerrados no dia 7 deste
mês, demonstrando forte evolução. No Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da
Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas da USP (Fipe), as despesas com
educação na capital paulista avançaram 1,17% até o final da primeira quinzena
de janeiro, depois de uma variação quase nula até a terceira quadrissemana de
dezembro (ou seja, nas quatro semanas encerradas no dia 20 daquele mês). A
desvantagem, no caso, é que as carnes têm um peso de 3,13% no cálculo do IPCA,
diante de 4,97% para as despesas com educação. A boa notícia é que os preços
dos alimentos, carnes incluídas, tenderão a baixar com a proximidade da safra,
aliviando as pressões da alta sazonal dos preços da educação. Nessa composição,
segundo espera o Itaú BBA, a inflação medida pelo IPCA tenderá a cair para
0,29% em janeiro (frente ao índice de 0,71% registrado no IPCA-15), retomando o
curso “normal” observado nos últimos anos (normal entre aspas porque a inflação
tem refletido o cenário de baixo crescimento da renda e da atividade econômica
como um todo, numa economia que ainda enfrenta dificuldades de monta para
deslanchar).

Balanço

·  
A
equipe de macroeconomia lembra ainda que a próxima
pesquisa do IPCA, referente aos 30 dias de janeiro, já deverá incorporar em seu
cálculo os resultados e ponderações da nova pesquisa de orçamentos familiares
(POF), que definiu pesos atualizados para cada tipo de despesa.

·  
A
expectativa é de que a POF tenha efeito baixista sobre preços relativamente
mais importantes no orçamento das famílias, levando a uma redução das taxas
inflacionárias.

·  
No
curto prazo, os preços dos combustíveis, sobretudo do etanol, tendem a se
tornar outro foco de pressão altista, especialmente por conta da entressafra no
setor de cana. Aqui, no entanto, haverá um limite para alta dos preços do
etanol representado pelos preços da gasolina, concorrente direto do
biocombustível.

·  
Neste
momento, a despeito da insegurança provocada pelo ataque dos Estados Unidos ao
segundo homem na hierarquia iraniana em pleno território do Iraque, nos
primeiros dias de 2020, os preços do petróleo recuaram vigorosamente, depois da
alta experimentada logo na sequência do atentado norte-americano.

·  
O
barril do petróleo tipo Brent (classificação em geral aplicada ao petróleo
extraído do Mar do Norte, no Reino Unido), que chegou a atingir quase US$ 70,50
na madrugada do dia 6 de janeiro, vinha sendo negociado ontem a menos de US$ 60,80.
Desde seu momento de maior elevação, portanto, os preços do barril baixaram
13,8%. Na média diária, o Brent recuou 11,8% desde o último dia 6, quando havia
alcançado US$ 68,91.

·  
Esse
comportamento afasta, por enquanto, as tentações de adotar novas correções para
os preços dos derivados de petróleo aqui dentro, lembrando que os níveis atuais
no mercado internacional estão muito próximos (senão ligeiramente abaixo)
daqueles registrados no começo de dezembro do ano passado e não muito distantes
dos US$ 60 registrados no final de janeiro de 2019.

·  
As
previsões para a inflação ao longo do ano continuam mais do que bem-comportadas
e sugerem uma taxa acumulada em 12 meses abaixo do centro da meta
inflacionária, fixada neste ano em 4,0%. O Itaú Unibanco, por exemplo, trabalha
com a perspectiva de uma inflação de 3,3%. Para alguns economistas menos
comprometidos com a ortodoxia dos mercados, haveria espaço até mesmo para novas
rodadas de redução dos juros básicos, para alguma coisa abaixo de 4,0% ao ano.