Coluna

Preços domésticos do milho sobem e estimulam expansão do plantio

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 07 de fevereiro de 2020

A
perspectiva de uma produção de grãos acima daquela já projetada por institutos
de pesquisa começa a ganhar corpo diante do comportamento favorável do clima
até aqui e da melhora nos preços internos, principalmente no caso do milho. A
disseminação do coronavírus a partir da China parece ter afetado muito mais as
cotações registradas nos mercados internacionais, ao menos até aqui. 

A
expectativa de estragos mais severos, não totalmente descartada, dependerá,
muito obviamente, da evolução da epidemia nas próximas semanas. Ainda assim, as
possibilidades de preços domésticos remuneradores têm influenciado os
produtores a ampliar os plantios da segunda safra de milho.

Sob
pressão da baixa oferta do grão nesta época de entressafra, em Goiás, por
exemplo, os preços médios do milho e da soja, capturados pelo Instituto para o Fortalecimento
da Agropecuária de Goiás (Ifag), apresentavam altas de 49% e 12,8% entre ontem,
dia 6, e a mesma data de 2019. Na média estadual, os preços da saca de milho
subiram de R$ 29,82 para R$ 44,45. A soja chegou a ser negociada ontem a R$
73,75 no mercado disponível, o que se compara com R$ 65,37 no dia 6 de
fevereiro de 2019.

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Os
valores médios aferidos pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
(Cepea), da Esalq/USP apontam tendências semelhantes, indicando forte
valorização em ambos os casos. Nos contratos negociados no mercado futuro, os
preços médios do milho saltaram de quase R$ 39 por saca nos 30 dias encerrados
em 5 de fevereiro de 2019 para pouco mais de R$ 51 em igual intervalo deste
ano, indicando uma elevação de 31,4%. Para a soja, os valores médios de
praticamente R$ 85,60 alcançados neste ano representaram alta de 13,4% diante
de R$ 77,20 no início de 2019.

Descompasso

A
melhora no cenário de preços para os dois principais grãos aqui dentro tem
ocorrido a despeito de uma tendência de baixa no mercado internacional. Em
Chicago, principal centro de negociação de grãos do planeta, com papel central
na formação de preços ao redor do mundo, as cotações do milho, nos contratos
para entrega em março deste ano, baixaram 3,8% desde o pico mais recente,
alcançado em 23 de janeiro, saindo de US$ 3,94 para US$ 3,79 por bushel no
fechamento de ontem, acumulando um tombo de praticamente 8% em 12 meses. A soja
acumulou perda ainda mais dramática na comparação com o início de fevereiro do
ano passado, com baixa de 9,9% até ontem, com o bushel do grão saindo de US$
9,78 para US$ 8,81.

Balanço

·  
Embalados pela valorização da saca, observa o Instituto
Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), os produtores de milho
contrataram uma expansão de quase 5,0% na área reservada ao plantio da safra
2019/20 em Mato Grosso, estimada em 5,10 milhões de hectares.

·  
A
expansão levou o Imea a revisar sua previsão para a produção grão de 31,621
milhões de toneladas na primeira estimativa, divulgada no final do ano passado,
para 32,441 milhões de toneladas, o que, se confirmado, será a mais elevada em
toda a série histórica para o Estado. Na comparação com a colheita realizada em
2019, na faixa de 32,264 milhões de toneladas, espera-se uma ligeira alta de
0,55% se as condições climáticas continuarem ajudando daqui até a colheita.

·  
Um
dado de preocupação estava no ligeira atraso na semeadura do grão, já que, até
o final de janeiro, menos de 22% da área prevista já haviam sido cultivados,
diante de quase 30% na mesma época de 2019.

·  
O
clima explica a melhoria nas projeções para a soja. Ainda de acordo com o Imea,
a produção da oleaginosa em Mato Grosso, maior produtor brasileiro, deverá
alcançar 34,014 milhões de toneladas, pouco mais de 1,0 milhão de toneladas
maior do que a safra de 33,010 milhões estimada em outubro do ano passado para
o ciclo 2019/20 na região.

·  
Comparada
ao ano agrícola 2018/19, quando o Estado colheu 32,501 milhões de toneladas, a
produção deverá crescer 4,7%, atingindo novo recorde. “Os principais motivos
desse aumento envolvem as condições climáticas favoráveis dessa safra, as quais
permitiram dias com boa incidência de sol e chuva em momentos importantes do
ciclo da cultura, o que, juntamente com o bom manejo do agricultor, garantiu um
bom potencial produtivo das áreas”, avalia o Imea.

·  
O
instituto observa o que poderá ser uma mudança significativa na logística da
região. Com a conclusão do asfaltamento da BR-153 até o distrito de Miritituba
(PA), a chamada saída Norte tem ganhado ainda mais atenção dos produtores. O
custo do frete entre Sorriso (MT) e Miritituba baixou 12% em janeiro deste ano,
comparado ao preço médio observado em igual mês nos últimos cinco anos.
Comparada à saída por Santos, o preço do frete por tonelada de soja via
Miritituba fica 47% mais baixo e 35,5% menor em relação ao trajeto até
Paranaguá.