Segunda-feira, 15 de julho de 2024

IPCA de junho recua para 0,21% (mesmo com a escalada do dólar)

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de julho de 2024

A conspiração armada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, conforme já registrado aqui, levou ao congelamento dos juros básicos em 10,50% provavelmente pelo restante deste ano. Mas a escalada do dólar, que veio na esteira das manobras sorrateiramente articuladas por Campos Neto, não teve impactos maiores sobre a inflação, pelo menos por enquanto. Ao longo de junho, na média mensal, o dólar subiu 4,99% na comparação com as cotações médias registadas em maio pelo BC, depois de relativa estabilidade em maio. Na ponta, quer dizer, considerando a cotação da moeda norte-americana no final de cada período, a alta em junho chegou a 6,05%, depois de uma variação de 1,35% em maio.

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As oscilações no mercado cambial, até o momento, tiveram baixo impacto sobre as taxas de inflação ou, de outra forma, teriam sido compensadas por variações menores e mesmo baixa nos preços em outros setores, menos influenciados pelo comportamento do dólar. No mês passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aferido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre os dias 30 de maio a 28 de junho, recuou para 0,21%, um tanto mais baixo do que esperava o mercado financeiro. O índice saiu de 0,46% nos 30 dias de maio, saindo de 038% em abril, para 0,39% nas quatro semanas terminadas em 14 de junho, recuando para 0,21% ao longo dos 30 dias do mês passado.

Segundo o relatório Focus, instrumento a que recorre o BC para “medir” as previsões exclusivamente do setor financeiro, a expectativa era de uma taxa mensal de 0,32% no mês passado, mais de 50% acima da projeção de 0,21% anotada quatro semanas antes. Mais claramente, no começo de maio, os mercados haviam conseguido calibrar seus modelos mais corretamente e teriam acertado o resultado mensal do IPCA, muito obviamente, caso tivessem persistido naquela mesma direção.

Manobras e conspiração

A mudança de rumos aqui, atribuída pela grande mídia corporativa a falas presidenciais críticas à política de juros extorsivos e ao catastrofismo fiscal em voga, pode ser debitada à conta do senhor Campos Neto, que não só detonou o jogo de pressões em favor do encerramento do ciclo de cortes nas taxas básicas de juros ao falar a plateias seletas de empresários e banqueiros em Nova York e em São Paulo, como também estimulou sorrateiramente a onda de turbulências nos mercados ao acionar pessoalmente banqueiros e operadores do mercado em sua manobra para preservar os ganhos do rentismo mais deslavado. A alta no mercado de câmbio, no entanto, passou a perder força nos 10 primeiros dias de julho, com o dólar passando a recuar diante de junho, o que tende a amenizar eventuais pressões inflacionárias mais adiante.

Balanço

  • As projeções consideradas com maior frequência por especialistas no tema sugerem que a desvalorização do real frente ao dólar em geral produz efeitos inflacionários três meses à frente. Em tese, a se confirmarem aquelas previsões (que evidentemente dependem do comportamento do câmbio daqui para frente), a inflação de agosto ou setembro poderá (ou não) sofrer algum tipo de estrago causado pelo câmbio.
  • Se a lógica estiver correta, o risco de inflação mais elevada nos próximos meses ficou menor. Na média dos primeiros 10 dias deste mês, o dólar avançou 1,33% frente a junho. Mas desde o dia 2 passado a moeda sofreu baixa de 4,78%, com a cotação do dólar saindo de R$ 5,67 para menos de R$ 5,40. Entre 10 de julho e o mesmo dia de junho deste ano, o câmbio experimentou variação de 0,56%.
  • Na esteira da desvalorização do real, a Petrobrás anunciou na segunda-feira, 8, reajustes de 7,11% para a gasolina e de 9,60% para o botijão de gás nas refinarias. Será preciso observar qual será o percentual da alta a ser repassado ao consumidor final e os prazos em que esse repasse poderá ocorrer. Mas, considerando o repasse integral, em tese, aqueles aumentos tenderiam a gerar um impacto próximo de 0,48 pontos percentuais.
  • O efeito final ainda não está dado, já que uma série de variáveis poderá interferir para amenizar aquele impacto, como mostra o bom comportamento geral dos preços nas últimas semanas. No mês passado, as altas de preços observadas em um grupo de sete produtos – leite longa vida, batata-inglesa, gasolina, tarifa de água e esgoto, perfume, arroz e manga – tiveram impacto de 0,22 pontos sobre o IPCA. Como o índice geral havia baixado para 0,21%, pode-se inferir que todos os demais itens teriam registrado taxa inflacionária negativa no mês.
  • Parte daquele resultado negativo deveu-se à uma queda de 9,88% nos preços das passagens aéreas. Dado o peso das passagens no cálculo do IPCA, a influência no índice geral ficou igualmente negativo em 0,06. Assim, os demais preços, que descontam aquele grupo de sete produtos, teriam experimentado variação de apenas 0,05% quando excluídas as passagens aéreas.
  • Os preços dos serviços, que têm sido apontados como uma preocupação nas atas do Conselho de Política Monetária (Copom), da mesma forma perderam fôlego em junho, anotado variação de apenas 0,04% depois da alta de 0,40% em maio. Mais uma vez, as passagens aéreas mais baratas explicam parte daquele recuo na taxa dos serviços. Mesmo com a exclusão das passagens, a “inflação” dos serviços teria passado de 0,37% para 0,10%.
  • Nos cálculos do Itaú BBA, considerando dados dessazonalizados e projetados para 12 meses, os preços dos serviços subjacentes desaceleraram de 5,0% na medição anterior para 4,4%. Na média dos chamados núcleos da inflação, que desconsideram altas e quedas mais expressivas nos preços, entre outros fatores, a taxa mensal saiu de 0,39% em maio para 0,22% em junho, com o índice de difusão (percentual dos preços em alta no período) saindo de 57,29% em maio para 52,25%.