Coluna

Preços em queda ou estagnados refletem economia ainda anêmica

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 11 de junho de 2020

O
ritmo dos preços em geral neste momento retrata uma economia anêmica, em plena
recessão, motivada desta vez, como já se sabe, por uma crise sanitária de
proporções inéditas para as gerações atuais e exacerbada pela já habitual
incompetência da equipe econômica no gerenciamento dos recursos necessários
para socorrer as famílias mais vulneráveis e as empresas de menor porte. Os
índices de inflação fecharam negativos em maio e iniciavam junho numa cadência
semelhante, sugerindo mais um mês de deflação ou de preços estagnados. O
fenômeno, como também se sabe, não é uma exclusividade brasileira. Ao
contrário, espalha-se entre todas as economias mundiais (ou quase todas).

Nos
Estados Unidos, referência nesses tempos de diplomacia avacalhada pelo
alinhamento automático aos “irmãos do Norte”, sem a reciprocidade esperada, o
índice de preços ao consumidor (ou CPI, na sigla em inglês) caiu 0,1% em maio, na
comparação com abril, quando a deflação (queda dos preços) havia sido de 0,8%.
Como destaca a equipe de analistas do Banco Fator, a taxa em março foi
igualmente negativa, com baixa de 0,4%. A inflação acumulada em 12 meses até
maio deste ano praticamente não se moveu, gerando uma variação de 0,1%.

As
previsões mais recentes para atividade econômica no Brasil e no mundo carregam
nas tintas negativas. No começo da semana, o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) adiantou sua nova projeção para o Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro, embutindo uma retração de 6,0% ao longo do ano, pressupondo a
reabertura da economia a partir de junho e desconsiderando riscos de uma
“segunda onda” nos casos de contaminação e das mortes.

Continua após a publicidade

Encolhimento
geral

A
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), espécie de
“clube” dos países mais ricos, em contraposição, construiu seu modelo para
estimar o PIB global levando em consideração o risco de uma “segunda onda”
gerada pela flexibilização das medidas de isolamento ou de afastamento social.
A conta considera um tombo de 6,0% para a economia em todo o planeta, se os
efeitos da crise sanitária forem contidos nos níveis atuais. Em caso de uma
recaída, o PIB poderia encolher qualquer coisa em torno de 7,6% neste ano. Detalhe:
não haverá país que conseguirá escapar de uma recessão neste ano. A queda no
Brasil, em qualquer das hipóteses, seria mais severa, com a OCDE estimando
perdas entre 7,4%, numa hipótese “otimista”, e 9,1% em caso de um segundo e
nada improvável surto do Sars-CoV-2. O Banco Mundial, que espera retração
global de 5,2%, estima queda de 8,0% para o PIB brasileiro.

Balanço

·  
Analistas
e alguns institutos de pesquisa e acompanhamento econômico começam a “pescar”
aqui e ali dados que parecem sugerir uma retomada já em plena pandemia, depois
dos resultados desastrosos observados em abril e em parte de maio. Esses
indícios deveriam ser tratados com cautela, considerando exatamente o tamanho
do retrocesso colhido nas últimas semanas.

·  
Sinteticamente,
a economia havia paralisado quase que totalmente a partir da segunda metade de
março, até por conta das incertezas enormes em relação ao vírus (e que não
foram debeladas completamente). A partir de meados de abril, em alguns casos, e
nas semanas seguintes, à medida em que governos foram autorizando a liberação
de alguns setores e mesmo com a chegada (ainda muito limitada) de recursos para
socorrer os mais pobres, alguma atividade chegou a ser “retomada”.

·  
Mas
os níveis dessa suposta “retomada” são não apenas incipientes, mas sobretudo
incertos e insuficientes para autorizar análises muito mais animadas sobre o
futuro imediato da atividade econômica, que permanece muito abaixo dos níveis
(já debilitados) de 2019.

·  
Em
maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponto deflação de 0,38%. Foi a
menor taxa para o mês desde 1980, quatro décadas atrás. Sim, a tendência de
curto prazo mostra alguma aceleração dos preços, já que o IPCA contabilizado
nas quatro semanas até 15 de maio a variação havia sido de -0,59%.

·  
O
movimento reflete a menor deflação dos combustíveis (o que deve perdurar ao
longo deste mês, diante dos reajustes já autorizados pela Petrobrás) e aumentos
de eletrodomésticos e eletroeletrônicos. No primeiro caso, o custo do grupo
transporte havia caído 3,15% nos 30 dias até a primeira quinzena de maio e
passaram a apontar baixa de 1,90% nas quatro semanas do mês passado.

·  
No
segundo, os preços dos artigos de residência, que haviam caído 1,37% em abril,
subiram 0,45% até a segunda semana de maio (ou seja, alta de 1,82 pontos de
porcentagem) e, nas quatro semanas do mesmo mês, passaram a indicam elevação de
0,58%. Numa outra leitura, portanto, o ritmo de alta arrefeceu-se nas duas semanas
finais de maio, embora a taxa de variação tenha sido maior. Mais claramente,
depois de subir 1,82 pontos em duas semanas, nas duas semanas seguintes o
índice do setor avançou 0,13 ponto de porcentagem.

·  
Para
junho, o Índice de Preço ao Consumidor Semanal (IPC-S), aferido pelo Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), fechou o período
de 30 dias até o dia 7 (domingo passado) num recuo de 0,36%. Nos 30 dias
finalizados em 31 de maio, a queda havia sido de 0,54%. A inflação paulistana,
medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP), ficou zerada na
primeira quadrissemana de junho.