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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Preços monitorados responderam por mais de dois terços da inflação

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 24 de julho de 2025
Preços monitorados responderam por mais de dois terços da inflação Foto:iStock
Preços monitorados responderam por mais de dois terços da inflação Foto:iStock

Os produtos e serviços monitorados, que têm seus preços estabelecidos pelo setor público ou definidos em contrato, responderam por quase 64,7% da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado em junho último pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao longo dos seis primeiros meses deste ano, a contribuição daqueles setores na formação do IPCA aproximou-se de qualquer coisa acima de 30%.

Em junho, a principal influência no cálculo do indicador veio das tarifas da energia elétrica residencial, respondendo, em grande parte, à mudança na bandeira tarifária, o que levou a uma alta de 2,96% para o custo do insumo suportado pelas famílias. Sozinha, a tarifa explicou 44,4% do IPCA de junho, estacionado em 0,24%.

A ser mantido naqueles níveis pelos próximos 12 meses, o IPCA acumularia variação de apenas 2,92%, o que não parece corroborar as previsões mais catastróficas sobre o comportamento dos preços em geral na economia brasileira. De forma muito evidente, como demonstram as séries históricas do IPCA, o índice continua sujeito a flutuações para baixo ou para o alto, a depender de seus condicionantes mês a mês, como eventuais choques de oferta ou de demanda, e de outros fatores, a exemplo de mudanças nos preços estabelecidos pelo poder Executivo (e não apenas em nível federal, já que tarifas do transporte coletivo urbano e taxas de água e esgoto, entre outros serviços, estão sujeitas a decisões de âmbito estadual e/ou municipal).

Os dados do IPCA de junho mostram elevação de 0,60% para setores com preços monitorados, num recuo de 0,10 ponto percentual frente a 0,70% em maio. Neste último mês, as tarifas de energia residencial haviam experimentado variação de 3,62% e explicaram quase 53% do IPCA “cheio”, calculado em 0,26%. Em junho exclusivamente, serviços e produtos sob monitoramento do setor público participam com praticamente 0,16 pontos na composição do IPCA geral. Ao longo do primeiro semestre, os preços monitorados responderam por 0,90 pontos percentuais da alta de 2,99% registrada para a inflação no período, algo como 30,1% conforme já anotado.

A influência dos preços controlados se dilui ao longo do ano devido especialmente por conta da maior contribuição dos segmentos de preços “livres”. Nos 12 meses encerrados em junho deste ano, diante de uma variação de 5,35% para o índice geral, os preços monitorados subiram 5,15% e tiveram influência de aproximadamente 25,2% na composição do IPCA total. Uma influência, de toda forma, a não ser desprezada na formulação da política de juros, que tem baixíssima interferência direta sobre aqueles preços.

Bandeira tarifária

Em comunicado distribuído no dia 30 de maio, uma sexta-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) informou sua decisão de acionar o primeiro estágio da bandeira vermelha a partir de junho. A medida gerou uma cobrança adicional de R$ 4,46 para cada 100 quilowatts/hora (kW/h) consumidos nas residências. A medida foi adotada diante da perspectiva de queda dos reservatórios com a redução sazonal das chuvas neste período do ano em toda a região Centro-Sul do País, onde se concentram as maiores hidrelétricas.

A menor vazão dos mananciais, ao determinar a baixa nos níveis das barragens, obriga o acionamento de termoelétricas movidas a combustíveis de origem fóssil, mais caros do que a geração hidroelétrica e mais poluentes.

Balanço:

Ainda sob pressão da tarifa de energia elétrica residencial, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPCS) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) voltou a experimentar alguma elevação a partir da segunda quadrissemana de julho ao atingir 0,31% diante de 0,13% na primeira quadrissemana do mesmo mês (ou seja, nas quatro semanas encerradas em 7 de julho).

A taxa de variação da energia elétrica saiu de 2,74% nos 30 dias concluídos ao final da primeira semana de julho para 2,68% nas quatro semanas encerradas no dia 22 passado (moderadamente acima da elevação de 2,63% observada até 15 de julho, também no acumulado em quatro semanas).

Os preços dos alimentos, na média do grupo, saíram de terreno negativo, com redução de 0,15% até o dia 7 de julho, para nível ligeiramente positivo, indicando elevação de 0,05% nos 30 dias finalizados na terça-feira passada, 22. Trata-se de uma variação ainda muito moderada a ser considerar, por exemplo, a alta mensal de 1,49% registrada na segunda quadrissemana de março.

As turbulências no mercado internacional, geradas pela ofensiva comercial dos Estados Unidos contra praticamente todo o restante do planeta, com raras exceções, não parecem ter gerado alguma “contaminação” para os preços domésticos, que se mantinham bem comportados até a terceira quadrissemana do mês em curso.

Influenciados pelas tarifas da energia elétrica e pelos custos em elevação das taxas de condomínios, que saíram de uma variação de 0,81% até o final da primeira quinzena deste mês para 0,93% entre 23 de junho e 22 de julho, a “taxa de inflação” do grupo habitação passou a registrar variação de 0,77% depois de ter avançado a um ritmo mensal de 0,52% até a primeira quadrissemana de julho.

O Ibre/FGV apontou pressões altistas ainda nos grupos “saúde e cuidados pessoais”, que passou de 0,05% na primeira quadrissemana para 0,30% até o dia 22 último, e “despesas diversas”, saindo de 0,08% para 0,80% em igual intervalo.

O setor de transportes tem se mantido no negativo, quer dizer, em “deflação”, com recuo de 0,15% nas quatro semanas encerradas na terça-feira passada. A tendência tem sido impulsionada pela redução nos preços da gasolina, que baixaram 0,89% na média das capitais pesquisadas pelo instituto ao longo das quatro semanas terminadas em 22 de julho. No início deste mês, aqueles preços haviam apontado redução de 0,57%.

Os preços de roupas, calçados e acessórios, que vinham pressionando a inflação em junho, entraram em desaceleração no começo de julho e passaram a anotar queda na medição mais recente, recuando 0,30% e contribuindo para aliviar a carestia.

O IPC-S acumulado em 12 voltou a demonstrar alguma elevação, saindo de 3,81% no começo de julho para 3,99%. De toda forma, a taxa mantém-se abaixo do teto da meta inflacionária fixada para este ano (4,50%) e inferior ainda aos dados observados no começo de março, quando a taxa acumulada em 12 meses havia atingido 5,18%.

 

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