Prejuízo da Celg aumenta quase seis vezes em 2022 e supera R$ 808 milhões

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de abril de 2023

A necessidade de levantar recursos no mercado para financiar seu capital de giro e realizar investimentos, a custos turbinados pela escalada dos juros, e uma redução expressiva nos valores destinados a cobrir custos não gerenciáveis, associados à chamada “parcela A”, ajudaram a corroer a conta de resultados da Enel Distribuição Goiás (antiga Celg Distribuição e, atualmente, Equatorial Goiás) no ano passado. A linha final da demonstração de resultado da distribuidora goiana apontou um prejuízo líquido de R$ 808,417 milhões em 2022, representando um salto de 583,45% frente a perdas de R$ 118,284 milhões acumuladas nos 12 meses de 2021.

O resultado do exercício foi influenciado pela disparada do prejuízo no trimestre final do ano passado, período em que a concessionária anotou um resultado negativo líquido na faixa de R$ 491,445 milhões, nada menos do que quase 8,9 vezes mais o prejuízo realizado no quarto trimestre do ano anterior, algo próximo a R$ 55,487 milhões. Para comparação, o prejuízo da companhia no terceiro trimestre de 2022 havia alcançado R$ 145,948 milhões. O grupo Equatorial assumiu o controle da Enel Goiás em 29 de dezembro de 2022.

Com a dívida bruta total da distribuidora goiana atingindo R$ 7,107 bilhões em dezembro do ano passado, a conta financeira contribuiu de forma muito negativa na formação do resultado de 2022, especialmente porque o endividamento apresentava concentração excessiva no curto prazo – situação que tende a ser revertida neste ano em função do alongamento da dívida contratada e ainda pela antecipação no pagamento do saldo devido à antiga controladora. Comparada a dezembro de 2021, quando havia alcançado algo próximo a R$ 5,668 bilhões, o endividamento bruto havia avançado 25,4%, com 99,28% do total a vencer em até 12 meses. A dívida de curto prazo, um ano antes, respondia por 58,49% do total.

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Dívida e investimentos

Até ali, o saldo devedor representava qualquer coisa ao redor de 36,5% do total de ativos da empresa, frente a 29,90% em 2021. Esse avanço estaria, em princípio, relacionado às necessidades de investimento enfrentadas pela companhia como forma de alcançar melhorias na qualidade do serviço prestado aos clientes, diante de pressões crescentes do mercado e ainda do governo do Estado. Entre 2019 e 2022, ainda sem incluir os recursos destinados ao programa Luz Para Todos, a Enel Goiás havia investido em torno de R$ 5,560 bilhões. Parte dos recursos veio de operações de mútuo realizadas entre a distribuidora, o grupo Enel e seu braço financeiro global, a Enel Finance International (EFI), gerando um passivo em grande parte já solucionado pelo novo controlador.

Balanço

  • Embora as receitas financeiras da distribuidora tenham crescido 121,1% entre 2021 e 2022, saindo de R$ 309,460 milhões para R$ 684,170 milhões, favorecidas pela alta dos juros básicos, as despesas financeiras cresceram mais rapidamente e sobre uma base proporcionalmente mais ampla. Saíram de R$ 760,612 milhões em 2021 para praticamente R$ 1,789 bilhão no ano passado, refletindo o endividamento mais elevado e de curto prazo, assim como custos financeiros mais desafiadores num cenário de alta acelerada dos juros básicos. Na comparação entre os dois períodos, a despesa financeira aumentou 135,2%.
  • A conta financeira, portanto, deixou um rombo de quase R$ 1,105 bilhão em 2022, saltando 144,84% frente ao resultado financeiro negativo de R$ 451,152 milhões acumulado nos quatro trimestres de 2021. De maneira direta, a conta financeira respondeu por quase 68,6% do aumento do prejuízo antes da aplicação de impostos sobre os lucros, que avançou de R$ 150,777 milhões para R$ 1,104 bilhão.
  • A expectativa é de melhora naqueles números, conforme sugere a Equatorial Energia na divulgação dos resultados da distribuidora goiana. Como parte do processo de aquisição da concessionária, os contratos de mútuos firmados com a Enel Brasil e a EFI passaram por uma reestruturação, fazendo a dívida de curto prazo aumentar de R$ 3,315 bilhões para R$ 7,056 bilhões, em alta de 112,85%. O aumento nas obrigações de curto prazo foi responsável ainda pelo agravamento no passivo circulante a descoberto, que aumentou 161,26%, saindo de R$ 2,382 bilhões (12,57% do ativo total) para R$ 6,223 bilhões (31,94% dos ativos).
  • Como parte dos compromissos assumidos pela Equatorial, foi acertado o pagamento de um terço do saldo devedor total num prazo de 90 dias a partir da compra, com a dívida restante devendo ser quitada até dezembro deste ano. Ainda em 30 de dezembro passado, havia sido aprovada a segunda rodada de emissões de debêntures pela distribuidora, num total de R$ 7,0 bilhões com prazo até janeiro de 2026. Os recursos serão destinados a refinanciar os passivos financeiros da Celg Distribuição, desafogando os compromissos de curto prazo. Em 26 de janeiro deste ano, a companhia antecipou o pagamento de R$ 5,058 bilhões, equivalentes a 71,2% do endividamento total, utilizando parte dos recursos captados na emissão de debêntures.
  • Além do custo financeiro mais pesado, a conta de resultados foi afetada pela redução de 7,22% na receita operacional líquida, que recuou de R$ 9,735 bilhões para R$ 9,032 bilhões, numa perda de R$ 703,182 milhões. A redução veio na esteira de uma diminuição de 7,1% na receita bruta, saindo de quase R$ 15,0 bilhões para R$ 13,934 bilhões. Em grandes linhas, a queda decorreu principalmente do tombo de 71,26% nos valores destinados a bancas despesas não gerenciáveis, que despencaram de R$ 1,619 bilhão para R$ 303,355 milhões.
  • Os investimentos registraram variação de apenas 4,1% entre 2021 e 2022, passando de R$ 1,805 bilhão para R$ 1,879 bilhão (sem inclui o Luz Para Todos). Como resultado dos investimentos realizados nos quatro últimos anos, os indicadores de duração (DEC) e da frequência (FEC) das quedas de energia anotaram baixas de 36,3% e de quase 40% entre o primeiro trimestre de 2019 e o quatro trimestre de 2022. O DEC passou de 24,58 horas por consumidor ao ano para 15,66, com o FEC caindo de 13,03 para 7,83. As perdas de energia se aproximaram um pouco mais das metas regulatórias, saindo de 14,15% em 2021 para 12,16% no ano passado (frente a uma meta de 11,74%).