Prejuízo da Enel Goiás salta 409%até setembro e dívida cresce 34%

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 16 de novembro de 2022

A necessidade de levantar recursos no mercado para financiar seu capital de giro e realizar investimentos, a custos turbinados pela escalada dos juros, e a pressão adicional exercida sobre a receita bruta pelo salto na conta de desenvolvimento energético continuaram a corroer os resultados da Enel Distribuição Goiás (antiga Celg Distribuição). O prejuízo acumulado nos nove primeiros meses deste ano foi multiplicado em pouco mais de cinco vezes frente ao mesmo período de 2021, enquanto a dívida líquida da companhia apresentou variação de 34,3% entre setembro de 2021 e igual mês deste ano, avançando de R$ 4,712 bilhões para alguma coisa próxima a R$ 6,327 bilhões.
Em processo de transferência de seu capital para a Equatorial Participações e Investimentos S.A., o braço goiano da italiana Enel realizou um prejuízo de R$ 316,972 milhões entre janeiro e setembro deste ano, o que se compara com perdas ao redor de R$ 62,797 milhões em igual período do ano passado. Na comparação entre os dois períodos, o prejuízo aumentou 409,53%. No terceiro trimestre deste ano, a última linha das demonstrações financeiras registrou um prejuízo de R$ 145,948 milhões, equivalente a pouco mais de 46,0% de toda a perda acumulada até setembro deste ano e correspondendo ainda a um incremento de 122,19% em relação ao prejuízo de R$ 65,685 milhões observado no mesmo trimestre do ano passado.
A conta financeira da empresa desempenhou papel relevante na determinação dos resultados negativos que a Enel Distribuição Goiás tem apresentado neste ano. Descontadas as receitas financeiras, que quase triplicaram, saindo de R$ 236,421 milhões para R$ 699,907 milhões na comparação entre os primeiros nove meses deste ano e de 2021, numa alta de 196,04%, a conta financeira ficou negativa em R$ 703,544 milhões entre janeiro e setembro deste ano. Em idêntico período do ano passado, o prejuízo financeiro havia sido de R$ 269,174 milhões.

Pressões
As despesas financeiras avançaram proporcionalmente menos, mas sobre uma base muito mais alargada, o que contribuiu para elevar substancialmente o resultado final daquela conta. Em relação ao ano passado, sempre tomando o período entre janeiro e setembro, aquele tipo de gasto aumentou 177,58% e superaram R$ 1,403 bilhão em 2022, diante de R$ 505,595 milhões nos mesmos nove meses de 2021. Entre outras, os desembolsos relacionados a operações com derivativos dispararam de R$ 47,444 milhões para R$ 537,939 milhões, nada menos do que 11,3 vezes mais. Os encargos incidentes sobre dívidas e sobre operações de mútuos aumentaram 3,13 vezes, subindo de R$ 146,208 milhões para R$ 457,613 milhões.

Balanço
Segundo a empresa, o resultado na conta financeira foi influenciado pela alta dos custos dos certificados de depósitos interbancários, que acompanham a chamada “taxa Selic” (os juros básicos definidos pelo Banco Central), e ainda pelo “aumento no volume de empréstimos contratados entre os períodos analisados para financiar investimentos e capital de giro”.
A necessidade de levantar recursos adicionais no mercado, mas principalmente junto à controladora e a outras empresas do grupo Enel, e ainda o refinanciamento de dívidas afetaram negativamente o perfil de endividamento da distribuidora, num cenário agravado ainda pela queda na geração de caixa. O saldo da dívida bruta cresceu 32,5% entre setembro de 2021 e igual mês deste ano, passando de R$ 4,837 bilhões para R$ 6,408 bilhões, em valores aproximados.
A principal contribuição veio do crescimento da dívida com empresas do mesmo grupo, que avançou de R$ 4,422 bilhões (91,43% da dívida bruta total) para R$ 5,890 bilhões (91,92% de toda a dívida bruta), numa variação de 33,2%. A dívida com terceiros, por sua vez, aumentou 24,8%, saindo de R$ 414,687 milhões para R$ 517,728 milhões. Os números do balanço mostram que 75% da dívida bruta estão alocados em operações de curto prazo e que 98% do saldo devido encontravam-se atrelados à taxa dos depósitos interbancários.
Enquanto o caixa, equivalentes de caixa e aplicações financeiras sofreram baixa de 35,1% na comparação entre os nove meses iniciais deste e do ano passado, encolhendo de R$ 124,586 milhões para R$ 80,839 milhões, a dívida líquida cresceu 34,3%. Na posição de setembro, o endividamento líquido passou de pouco mais de R$ 4,712 bilhões para quase R$ 6,327 bilhões.
O nível de endividamento, aferido em relação ao retorno antes de impostos, juros, amortizações e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês), registrou piora, saindo de 4,47 para 5,94. Medida pelo Ebitda, a geração operacional de caixa registrou elevação de 12,2% na comparação com os nove meses iniciais do ano passado, alcançando R$ 549,532 milhões, o que se compara com R$ 489,707 milhões nos mesmos nove meses do ano passado.
As receitas líquidas recuaram de R$ 7,147 bilhões para R$ 6,724 bilhões entre aqueles dois períodos, encolhendo 5,9%. Os custos do serviço e as despesas operacionais igualmente ficaram menores, caindo 6,7%, de R$ 6,956 bilhões para R$ 6,487 bilhões.
Os investimentos chegaram a cair fortemente no terceiro trimestre deste ano, saindo de R$ 650,677 milhões em 2021 para R$ 427,389 milhões. No acumulado do ano, até setembro, a redução foi menos intensa, num recuo de 2,6%, com o investimento total diminuindo de R$ 1,481 bilhão para R$ 1,443 bilhão. O investimento em novas conexões baixou de R$ 550,638 milhões para R$ 541,132 milhões, recuando 1,7%. A rede recebeu investimentos de R$ 513,804 milhões, em baixa de 24,1% em relação a R$ 677,067 milhões nos mesmos nove meses de 2021.

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Texto 2º tri 2022

O aumento nos custos de captação de recursos no mercado, em meio ao incremento vigoroso dos juros básicos na economia, acionado pelo Banco Central (BC), e dos encargos setoriais contribuíram de forma decisiva para multiplicar em quase seis vezes o prejuízo da Enel Distribuição Goiás no segundo trimestre deste ano. Os investimentos seguiram trajetória contrária, depois do forte avanço registrado no primeiro trimestre, o que manteve em crescimento os valores investidos pela empresa no Estado ao longo dos primeiros seis meses de 2022.
Os dados das demonstrações financeiras apontam um resultado líquido negativo de R$ 119,392 milhões no segundo trimestre deste ano, diante de um prejuízo de R$ 20,376 milhões em igual período do ano passado, num salto de 486,1%. Nos três primeiros meses deste ano, o balanço já havia registrado perdas de R$ 51,633 milhões, o que significa que o prejuízo mais do que dobrou no trimestre seguinte, numa alta de 131,2%. O salto nos juros explica em grande parte o crescimento do prejuízo. A conta líquida das despesas financeiras, já descontadas as receitas nesta área, apresentou alta de 148,65% entre o segundo trimestre do ano passado e idêntico intervalo deste ano, subindo de R$ 81,386 milhões para R$ 202,366 milhões. O gasto financeiro líquido passou a representar 9,77% da receita operacional líquida, diante de 3,55% no segundo trimestre do ano passado.
O investimento na expansão da rede de distribuição e de transmissão, envolvendo combate a perdas, melhoria da qualidade do sistema e adequação de carga, e em novas conexões, entre outros, registrou baixa de 20% entre aqueles dois períodos, saindo de R$ 560,824 milhões para R$ 448,612 milhões. A queda veio na sequência de um aumento de 114,9% observado no primeiro trimestre, também em relação a igual período de 2021, com o investimento saindo de R$ 269,580 milhões para R$ 579,254 milhões.

Receita em baixa
O efeito combinado do recuo da receita bruta no segundo trimestre, passando de R$ 3,394 bilhões no ano passado para R$ 3,378 bilhões, e do avanço de 18,4% dos custos deduzidos da receita operacional (impostos e encargos setoriais basicamente) na mesma comparação, saindo de quase R$ 1,103 bilhão para R$ 1,306 bilhão, derrubaram a receita líquida da companhia de R$ 2,291 bilhões para alguma coisa abaixo de R$ 2,072 bilhões, numa queda de 9,6% em termos nominais. A Enel Distribuição Goiás conseguiu, no entanto, reduzir o custo do serviço em 8,4% entre os dois trimestres, com cortes de 8,0% nas despesas e custos operacionais. Esses movimentos amenizaram, mas não evitaram, conforme anotado acima, o impacto do salto nos custos financeiros.

Balanço

  • No acumulado do primeiro semestre, a última linha da conta de resultados mudou de sinal, saindo de um lucro de modestos R$ 2,883 milhões em 2021 para um prejuízo de R$ 171,025 milhões neste ano. A receita bruta chegou a crescer 15,5% em relação à primeira metade do ano passado, somando R$ 7,428 bilhões diante de praticamente R$ 6,433 bilhões nos seis meses iniciais de 2021. Mas a receita líquida avançou apenas 2,3% em igual período, variando de R$ 4,265 bilhões para R$ 4,363 bilhões.
  • O desempenho pode ser explicado pelo salto de 41,4% no valor total das deduções, que subiram de R$ 2,167 bilhões para R$ 3,065 bilhões. O incremento pode ser explicado principalmente pela conta mais pesada do Impostos sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) antes do limite aprovado pelo Congresso no final de junho para a cobrança do imposto pelos Estados. No primeiro semestre deste ano, a empresa recolheu R$ 1,435 bilhão de ICMS destacado na fatura de energia apresentada aos clientes, frente a R$ 1,126 bilhão nos mesmos seis meses de 2021, num aumento de 27,5%.
  • Os encargos setoriais quase dobraram, saindo de R$ 604,380 milhões para R$ 1,152 bilhão, pressionados pelo pagamento do empréstimo tomado pela distribuidora para fazer frente aos efeitos da pandemia em 2020 (lançado à conta de desenvolvimento energético) e pelo incremento dos encargos do consumidor, gerados pela bandeira de escassez hídrica que vigorou até abril deste ano.
  • Outro fator de pressão sobre o balanço veio, mais uma vez, da conta financeira, que acumulou variação de 162,8% no primeiro semestre deste ano, atingindo R$ 382,258 milhões em relação a R$ 145,435 milhões nos mesmos seis meses do ano passado. A elevação de 12,3% nos custos e despesas operacionais, saindo de R$ 1,756 bilhão para R$ 1,972 bilhão, foi parcialmente compensado pela redução de 3,8% no custo do serviço (de R$ 2,348 bilhões para pouco menos de R$ 2,260 bilhões), explicado pelo tombo de 46,3% nos encargos de conexão e uso da rede (de R$ 508,536 milhões para R$ 273,221 milhões).
  • A necessidade de captar recursos para fazer frente aos investimentos e ao capital de giro necessário para as operações diárias terminou levando a um salto de 62,6% no saldo da dívida bruta da companhia entre junho do ano passado e igual mês deste ano, elevando-a de R$ 4,070 bilhões para R$ 6,617 bilhões (95,1% devidos ao próprio grupo Enel e a suas controladas).
  • Com o caixa crescendo mais de seis vezes, de R$ 111,037 milhões para R$ 699,007 milhões, a dívida líquida teve seu crescimento “limitado” a 49,5% na mesma comparação, passando de R$ 3,959 bilhões para R$ 5,918 bilhão. O nível de endividamento, aferido em relação ao retorno antes de impostos, juros, amortizações e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês), registrou piora, saindo de 3,99 para 5,31 vezes.