Prejuízo da Equatorial Goiás cresce 254% no segundo trimestre do ano

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 22 de setembro de 2023

Ainda sob controle da Enel, a principal empresa de distribuição de energia do Estado havia multiplicado seu prejuízo em quase sete vezes ao longo de 2022, saindo de R$ 118,284 milhões em 2021 para R$ 808,417 milhões. Já sob nova direção, a Equatorial Goiás Distribuidora de Energia conseguiu ao menos operar uma desaceleração aparente de suas perdas neste ano, o que não evitou um salto de 254,02% nas perdas realizadas ao longo do segundo trimestre de 2023, com o resultado líquido negativo avançando de R$ 119,392 milhões no trimestre encerrado em junho do ano passado para R$ 422,672 milhões. A conta de resultados na primeira metade deste ano mostra um prejuízo líquido de R$ 482,796 milhões, frente a perdas de R$ 171,025 milhões nos seis primeiros meses do ano passado, correspondendo a um incremento nominal de 182,30%.

O tropeço, condicionado por uma série de fatores detalhados nos próximos parágrafos, não foram obstáculo para um aumento do investimento no semestre. Nos seis meses iniciais do ano passado, segundo dado disponível nas demonstrações financeiras da então Enel Goiás, a distribuidora goiana havia investido alguma coisa ligeiramente abaixo de R$ 1,028 bilhão, valor elevado para R$ 1,378 bilhão no mesmo período deste ano, o que representou um aumento muito próximo de 34,0% nessa comparação. O investimento realizado em Goiás representou em torno de 31,9% de tudo o que o grupo Equatorial investiu no setor de distribuição em todo o País. Esse investimento aumentou nada menos do que 136,5% em relação ao primeiro semestre do ano passado, quando o grupo havia destinado R$ 1,825 bilhão para turbinar suas distribuidoras de energia espalhadas pelo País, valor elevado para R$ 4,317 bilhões entre janeiro e junho deste ano.

Desaceleração relativa

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Os dados das demonstrações financeiras da companhia, como qualquer outro balanço, precisam ser, no entanto, qualificados ou “colocados em contexto”, para recorrer a uma expressão já em desuso. Inicialmente, aqueles números mostram que o prejuízo do segundo trimestre representou, neste ano, em torno de 87,6% do resultado do semestre, diante de uma participação de 69,8% no ano passado, considerando idênticos intervalos. Considerando esses percentuais, a informação apreendida sugere que os prejuízos viriam em uma escalada, o que parece corresponder ao que mostram os dados dos balanços trimestrais da empresa, especialmente quando se considera que o resultado negativo havia avançado apenas 16,44% no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2022, saindo de R$ 51,633 milhões para R$ 60,124 milhões. No trimestre seguinte, portanto, as perdas cresceram pouco mais de sete vezes. A desaceleração aparente, na comparação interanual, perde um pouco de sentido, já que o curtíssimo prazo sugere uma direção inversa.

Balanço

  • Mais relevante, porém, será observar, a partir dos dados disponíveis, quais foram as condicionantes por trás dos resultados apresentados. A queda da receita operacional líquida no segundo trimestre e seu baixo crescimento no acumulado do semestre e o salto nas provisões para fazer frente a eventual redução de valores recuperáveis do Fundo de Aporte à Celg Distribuição (Funac) e de provisões para riscos judiciais explicam em grande parte o que registra a linha final da conta de resultados da distribuidora.
  • A receita líquida atingiu R$ 1,680 bilhão no segundo trimestre deste ano, o que representou uma redução de 18,9% em relação a aproximadamente R$ 2,072 bilhões no mesmo trimestre de 2022. No semestre como um todo, houve um modestíssimo avanço de 1,46% em termos nominais, o que não repõe sequer a inflação decorrida no período. Na soma dos primeiros seis meses de cada ano, a receita passou de R$ 4,363 bilhões em 2022 para R$ 4,427 bilhões neste ano.
  • Em parte, esse comportamento pode ser explicado pela redução na receita bruta com o fornecimento de energia ao mercado, que saiu de R$ 2,583 bilhões no segundo trimestre do ano passado para R$ 2,047 bilhões em igual trimestre deste ano, num tombo de 20,73%. No semestre, a queda foi até um pouco mais drástica, numa redução de 23,37%, saindo de R$ 5,753 bilhões para R$ 4,408 bilhões, o que significa que outros fatores estiveram atuando para evitar um resultado negativo para a receita líquida total.
  • Um desses fatores pode estar na queda vertical no recolhimento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), por conta da redução imposta pelo desgoverno Bolsonaro em junho do ano passado. Nos primeiros seis meses deste ano, a Equatorial Goiás recolheu R$ 678,082 milhões a título de ICMS, frente a R$ 1,435 bilhão em idêntico período de 2022, o que correspondeu a uma redução de 52,75%. O menor pagamento de imposto ajudou a desinflar as deduções aplicadas sobre a receita bruta, contribuindo para que as receitas líquidas apresentassem alguma variação positiva, embora inferior à inflação de 3,16% acumulada em 12 meses até junho deste ano.
  • As despesas operacionais cresceram fortemente no primeiro semestre, saltando de R$ 201,441 milhões para R$ 573,186 milhões, puxadas pelo aumento de 157,05% nas despesas gerais e administrativas. Essa classe de gastos foi elevada de R$ 200,707 milhões nos primeiros seis meses do ano passado para R$ 515,917 milhões neste ano.
  • As despesas administrativas foram influenciadas principalmente pelo crescimento vigoroso de provisões, destacadamente no caso das provisões para enfrentar riscos relacionados a processos judiciais, que subiram quatro vezes, de R$ 36,871 milhões para R$ 183,571 milhões, ou seja, R$ 146,700 milhões a mais (o que correspondeu a 46,54% do aumento da despesa administrativa total). A provisão para eventual redução nos valores lançados pelo Estado no Funac, criado para fazer frente a passivos eventualmente não identificados durante o processo de privatização da Celg D, em 2012, aumentou 88,54% e foi elevada de R$ 86,386 milhões para R$ 162,874 milhões no primeiro semestre deste ano.
  • O gasto com serviços de terceiros, diante da necessidade de investir e cumprir a manutenção da rede elétrica, cresceu 169,57%, de R$ 25,520 milhões para R$ 68,793 milhões. Os três itens relacionados acima contribuíram com 84,54% para o crescimento das despesas administrativas totais.