Produção de bens de capital anota sétima queda mensal consecutiva

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de maio de 2023

A melhora nos indicadores industriais em março pode ter fôlego curto, a se considerar o histórico recente da produção na indústria, que tem seguido padrão incerto e de baixo dinamismo, e ainda especialmente o desempenho negativo das montadoras de veículos em abril, no pior resultado para aquele mês deste 2016. A indústria de veículos exerce influência sobre um amplo número de ramos de atividade, a começar pelos setores de aço, borracha e plástico, de fabricação de componentes eletrônicos e mesmo nas indústrias de tecidos e couro. A redução observada em abril, segundo dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotivos (Anfavea), pode trazer notícias nem tão positivas assim para o conjunto da indústria na edição da pesquisa mensal da produção industrial Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a ser divulgada no começo de junho, com as estatísticas de abril.

Na edição divulgada ontem pelo IBGE, a pesquisa registrou um avanço de 1,1% para a produção industrial na saída de fevereiro para março, depois de quatro meses de estagnação, com elevação de 0,9% na comparação com março do ano passado, na sequência da queda de 2,4% anotada em fevereiro frente ao mesmo mês do ano passado. O comportamento mais recente não foi suficiente para repor perdas, com a produção encerrando o primeiro trimestre deste ano em leve baixa de 0,4% e estagnação nos 12 meses finalizados em março deste ano.

No acompanhamento mês a mês, com desconto de fatores sazonais que poderiam distorcer a comparação, a exemplo de feriados, a indústria não registrava crescimento de fato desde novembro do ano passado, pelo menos – considerando-se que o crescimento de 1,3% alcançado em outubro apenas repôs a queda de 1,3% anotada em setembro.

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Avanço relativo

A indústria de bens de capital, que fabrica máquinas, equipamentos diversos, além de caminhões, anotou aparentemente elevação mais vigorosa, com alta de 6,3% diante de fevereiro, saindo de quedas de 1,7% e de 1,4% em dezembro e janeiro, respectivamente, e de uma variação de apenas 0,6% na sequência, sempre em relação aos meses imediatamente anteriores. O setor, no entanto, não conseguiu sair do vermelho na comparação com idênticos períodos do ano anterior, acumulando, nesse tipo de avaliação, a sétima queda mensal consecutiva. Pela ordem, a produção no setor recuou em setembro (-1,3%), em outubro (-4,7%), novembro (-0,1%) e dezembro do ano passado (-5,3%), caindo 6,6% em janeiro deste ano, para despencar 12,4% em fevereiro e observar mais um recuo em março (-0,5%). Nos últimos 20 meses, tomando julho de 2021 como base e utilizando a série de índices deflacionados do IBGE, a indústria de bens de capital sofreu baixa de 4,8%.

Balanço

  • Mas, ao contrário do restante da indústria, o setor de bens de capital ainda navega a níveis acima daqueles registrados em fevereiro de 2020, antes da pandemia, apresentando incremento de 11,9%. Parece um bom número, de fato, mas é preciso acrescentar que o setor, desde lá, apenas retomou uma parcela das perdas que acumula frente ao ponto máximo da produção desse tipo de indústria, ocorrido em abril de 2013. Nessa comparação, a produção de bens de capital encontrava-se, em março deste ano, ainda 26,6% mais baixa do que há praticamente uma década.
  • Entre os chamados “grande setores”, a indústria de bens intermediários, que de certa forma “abastece” todo o restante do setor industrial, anotou ganho de 0,9% em março, na comparação com fevereiro, quando já havia avançado 0,5%. Pode ser uma tendência, principalmente depois de o setor colecionar perdas de 1,7% e de 4,1% em dezembro e janeiro diante dos meses imediatamente anteriores.
  • Nesta área, da mesma forma, a produção não tem conseguido superar os resultados de períodos idênticos do ano anterior, anotando quatro meses consecutivos de perdas, com reduções de 0,2%, de 1,7%, de 2,8% e de 1,1% em dezembro de 2022 e em janeiro, fevereiro e março deste ano. O “coração” da indústria parece ainda capengar, o que explica os números muito modestos da atividade industrial como um todo.
  • Entre os bens de consumo, os duráveis têm apresentado o que parece ser um desempenho mais vigoroso frente ao ano anterior, apresentando salto de 13,9% em janeiro, subindo 2,1% em fevereiro e fechando março em alta de 11,1%. Parte da explicação pode estar nos tombos registrados naqueles mesmos meses em 2022, com tropeços de 25,2%, de 16,5% e de 14,3% em janeiro, fevereiro e março em relação aos mesmos três meses de 2021. No acumulado do primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2022, o setor cresceu 8,9%.
  • Mês a mês, com ajuste sazonal, a produção de bens duráveis saiu de baixas de 1,2% e de 1,5% em janeiro e fevereiro para avançar 2,5% em março. A produção de bens semiduráveis e não duráveis, categoria que inclui alimentos e bebidas, entre outros produtos, tem registrado um começo de ano ruim, com virtual estagnação em janeiro (variação de 0,1% frente a dezembro passado) e recuos de 0,2% e de 0,5% em fevereiro e março. A produção no setor continua oscilante ao ser comparada a igual período do ano anterior. A pesquisa do IBGE apontou elevação de 4,6% em janeiro, seguida de estagnação em fevereiro (variação de apenas 0,2%) e nova alta em março, agora de 4,7%.
  • Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o comportamento da produção no trimestre inicial deste ano segue “em linha com a sequência de resultados muito próximos da estabilidade que teve início no segundo trimestre de 2022”.
  • Os economistas Natalia Cotarelli e Matheus Fuck, do Itaú BBA, sugerem um “carrego estatístico” do primeiro para o segundo trimestre deste ano, conhecidos os resultados acumulados entre janeiro e março, de “mais 0,7% para o índice cheio, mais 0,8% para a indústria de transformação e 1,4% para a extrativa, na variação trimestral com ajuste sazonal”. Isso significa que, caso o setor nada cresça em todo o segundo trimestre, estaria assegurada uma variação média de 0,7% frente ao primeiro trimestre, por mera questão estatística.
  • Mas, ponderam ambos, a despeito daquele “carrego” positivo, “as condições monetárias mais apertadas (leia-se, juros altos) e a desaceleração da demanda doméstica devem pesar sobre a produção industrial ao longo do ano”.