Produção industrial recua pelo terceiro mês consecutivo em Goiás

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de maio de 2024

O ano parece ainda não ter se iniciado para parte da indústria goiana, que chegou a março contabilizando o terceiro mês consecutivo de redução em sua produção, nos registros “dessazonalizados” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou seja, já desconsiderados os fatores que ocorrem sempre nos mesmos períodos a cada ano e que poderiam distorcer a comparação mês a mês, gerando uma percepção equivocada sobre as tendências em cena naquele momento. Segundo os dados apurados pela pesquisa mensal realizada pelo instituto, a produção industrial em Goiás sofreu baixas de 2,1% em janeiro e fevereiro, na comparação com os meses imediatamente anteriores, com recuo de 1,4% em março, acumulando redução de 5,40% desde dezembro do ano passado, quando o setor havia alcançado seu melhor desempenho em toda a série histórica do IBGE.

A estatística mensal foi atualizada pelo instituto, que havia apontado quedas de 3,9% e de 2,4% nos dois primeiros meses deste ano, na comparação, respetivamente, com dezembro e janeiro últimos. Numa visão menos negativa, o ajuste sugere que a tendência de baixa teria menos severa do que aquela inicialmente desenhada pelo acompanhamento do instituto. Como já registrado aqui, as séries estatísticas do IBGE não contemplam dados igualmente dessazonalizados para os diversos setores da indústria regional, o que impede uma visão mais detalhada da evolução do setor mês a mês.

Pode-se supor que o desempenho negativo tenha recebido influências negativas dos principais setores, incluindo a indústria extrativa e possivelmente, com uma margem grande de dúvida aqui, também nos setores que mais pesam na composição do valor agregado do setor, a exemplo de produtos alimentícios. A indústria de biocombustíveis, como sugerem os números coletados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), aparentemente teria contribuído de forma negativa em janeiro e fevereiro, quando a produção registrada pela agência anotou quedas de 39,63% e de 4,84% em relação aos dois meses imediatamente anteriores. Mas apresentou alta de 6,18% na passagem de fevereiro para março, na soma da produção realizada pelas usinas de etanol e biodiesel.

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Onze meses de alta

De toda forma, o desempenho mês a mês sugere uma tendência de perda de fôlego do setor e mesmo a comparação com igual período de 2023 indica alguma desaceleração no ritmo de alta da produção realizada pelo agregado de todo o setor industrial goiano, embora mostre que setor continua transitando por território positivo, com 11 meses seguidos de crescimento. A perda de intensidade torna-se mais evidente quando considerados os números mais recentes, que mostram saltos de 19,5% em dezembro de 2023 (na comparação com o último mês de 2022), de 12,8% em janeiro e de 13,0% em fevereiro. O dado de março apontou elevação de 7,0%, fazendo o resultado acumulado no ano limitar-se a uma variação de 10,9% em relação aos primeiros três meses do ano passado. Claro, a “limitação” mencionada refere-se às taxas observadas nos trimestres anteriores. Como exemplo, no trimestre final de 2023, a produção realizada pela indústria goiana cresceu a uma taxa anual de 16,8%.

Balanço

  • Parece bem claro que uma alta de 10,9% é muito positiva. Mas o ponto a se anotar, igualmente, diz respeito à perda relativa de ímpeto, considerando os resultados alcançados mês a mês desde janeiro, depois de oito meses de avanços, numa tendência iniciada em maio do ano passado e interrompida nos meses iniciais deste ano.
  • Adicionalmente, os resultados mensais, aqui considerados em comparação a idênticos períodos do ano anterior, têm vindo fortemente positivos neste ano, em grande parte como reflexo do desempenho negativo apurado nos meses iniciais de 2023. Em fevereiro, como complemento, o registro de um dia útil a mais em função do ano bissexto igualmente ajudou a alavancar a produção de certa forma.
  • Parte do crescimento observado na comparação interanual, portanto, corresponde a uma recuperação frente a níveis mais baixos anotados um ano antes. Em fevereiro e março de 2023, na comparação com os mesmos meses de 2022, a produção havia sofrido baixas de 3,2% e de 4,9% e acumulou, no período, uma redução de 3,2% frente aos níveis de janeiro, no dado dessazonalizado.
  • O avanço de 13,0% registrado em fevereiro deste ano diante de idêntico mês de 2023 veio sustentado pelo incremento da produção em oito setores, com baixa para cinco deles, entre os 13 segmentos acompanhados pelo IBGE em Goiás. Em março, sete setores registraram números negativos e seis continuaram a crescer, mas quatro deles entraram em desaceleração no ritmo de alta.
  • Entre aqueles, produtos alimentícios, saindo de 16,1% para 6,8%; produtos químicos (adubos e fertilizantes, produtos de limpeza e de higiene pessoal e outros), de 40,7% para 20,2% (ainda um salto expressivo, inegavelmente, sustentado por desodorantes, detergentes e sabões, fosfatos de monoamônio e superfosfatos); minerais não metálicos, de 23,5% para 3,5%; e metalurgia, que havia crescido 4,0% em fevereiro e passou a avançar 1,3%. A indústria extrativa puxou a estatística para baixo, com redução de 9,2% em março, sempre em relação ao mesmo mês do ano passado, com perdas na produção pedras calcárias, amianto e minérios de cobre.
  • A indústria de vestuário, que havia sofrido tombo de 15,5% em fevereiro, passou a registrar salto de 167,2%. Ao mesmo tempo, a produção de veículos aumentou 85,0% depois de já ter crescido 82,0% em fevereiro, acumulando alta de 72,6% no primeiro trimestre. Em conjunto, as indústrias de alimentos e de vestuário responderam por 79,4% do crescimento observado em março. No trimestre inicial deste ano, a contribuição dos setores alimentício e de veículos atingiu 71,7%.