Coluna

Prognóstico para usinas de cana registra melhora depois do tombo

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 17 de julho de 2020

No
início do ano, ainda antes da pandemia, o setor de açúcar e etanol antecipava
bons ventos para a safra 2020/21, que começaria em abril. A crise sanitária e
as medidas de isolamento social derrubaram o mercado, achataram os preços e
turvaram as perspectivas para o setor (e, de resto, para todo o restante da
economia). Números mais recentes parecem sugerir alguma melhora, muito embora
continuem abaixo dos níveis observados antes da crise – com provável exceção
para as exportações.

Em
abril e maio, as vendas de etanol pelas usinas do Centro-Sul despencaram perto
de 30% e até um pouco mais em relação aos mesmos meses de 2019, segundo dados
da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica). Em junho, o acompanhamento da safra realizado
pela instituição apontou ainda queda de 15,52% para as vendas frente ao mesmo
mês do ano passado, um ritmo ainda forte, mas menos intenso.

Os
preços recebidos pelas usinas pelo etanol hidratado, de acordo com o Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, haviam despencado
36,1% entre fevereiro e abril, saindo de R$ 2,12 para R$ 1,36 por litro,
considerando valores médios mensais. Em junho, subiram 20,8% diante da retomada
dos reajustes da gasolina em função da reação observada no mercado de petróleo,
atingindo R$ 1,64 na média mensal, ligeiramente acima dos níveis de junho de
2019, em valores nominais (alta de 1,42%). E voltaram a baixar 2,3% nas duas
primeiras semanas de julho, para R$ 1,605 por litro, perto de 18,0% acima dos
níveis de abril, mas 24,3% abaixo dos valores médios registrados em fevereiro.
Frente a idêntico intervalo de julho de 2019, os preços anotavam baixa de
2,46%.

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A
expectativa de condições mais favoráveis para a safra 2020/21, “sob o ponto de
vista da rentabilidade”, aponta o diretor de agronegócio do Itaú BBA, Pedro
Fernandes, correspondeu a uma “melhora sensível nos prognósticos para o etanol”,
se comparada à perspectiva antecipada no início de junho pelo banco. Ele lembra
que a linha de crédito que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) chegou a organizar para financiar a estocagem de etanol pelas
usinas “não se mostrou necessária”, num indício a mais a reforçar a melhoria
relativa no cenário.

Empurrão externo

O
mercado de açúcar tem se mostrado mais atrativo, o que tem alterado o mix de
produção neste ano, com as usinas destinando 46,4% da cana para a produção do
adoçante, diante de pouco menos do que 34,7% nos primeiros três meses da safra
passada. A produção de açúcar, de fato, saltou praticamente 49,0% (de 8,940
milhões para 13,297 milhões de toneladas). As exportações de açúcar e etanol
têm surpreendido favoravelmente, com crescimento acumulado de 45,3% no primeiro
semestre para o setor como um todo. As vendas saltaram de US$ 2,537 bilhões
para US$ 3,687 bilhões, crescendo ainda 51,3% em volume. As exportações de
etanol cresceram 15,2% em valor, alcançando US$ 397,16 milhões, e 28,9% em
volume. O destaque maior foi para o açúcar, que teve as vendas externas
ampliadas em 50,0% (de US$ 2,187 bilhões para US$ 3,281 bilhões), refletindo o
salto de 52,7% nos volumes embarcados (de 7,506 milhões para 11,460 milhões de
toneladas.

Balanço

·  
Num dado
adicional, aponta
Jacyr
Costa Filho, membro do Comitê Executivo do Grupo Tereos e presidente do
Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, a queda de 40% das exportações de
açúcar pela Tailândia, atingida pela pior seca em quatro décadas, abriu espaço
para o Brasil nesse mercado.

·  
Costa
Filho acredita que a pandemia deverá deixar como herança, entre outros efeitos
mais duradouros, “a maior valorização do biocombustível e da energia
renovável”, mencionando que estudo recente da Escola de Saúde Pública de
Harvard “apontou que o aumento de apenas 1% na concentração de material
particulado fino no ar resulta em um incremento de 8% das mortes pela Covid-19”.

·  
E o
etanol, lembra ele, contribuiu para reduzir as emissões de materiais
particulados na cidade de São Paulo de 59,0 microgramas de partículas por metro
cúbico em 2001 para 29,0 atualmente, considerando a média anual.

·  
Conforme a Unica, entre 1º de abril e 1º de julho, as
usinas do Centro-Sul do País haviam processado 229,4 milhões de toneladas de
cana, em torno de 5,2% mais do que no mesmo período da safra passada. O volume
de ATR (açúcares totais recuperáveis, que determinam os volumes de açúcar e
etanol que as usinas poderão produzir) aumentou quase 11,1% e, tomando a média
por tonelada de cana processada, registrou-se elevação de 5,6%.

·  
De acordo com Cleverton
Santana, da Superintendência de Informações do Agronegócio da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab), a primeira estimativa para a safra 2020/21
de cana “aponta para pequena redução da área a ser colhida”, prevista em 8,407
milhões de hectares, num recuo de 0,4% frente à safra passada.

·  
A produtividade
tende a encolher 1,5%, para 75.025 quilos de cana por hectare. “A expectativa inicial
para a produção de cana deaçúcar nesta safra era positiva, especialmente em
razão das condições climáticas favoráveis”, pondera ele. A mudança no cenário
mexeu nas projeções, que sinalizam a colheita de 630,71 milhões de toneladas de
cana (queda de 1,9%), alta de 18,5% na produção de açúcar (de 29,8 milhões para
35,3 milhões de toneladas) e redução de 10,3% na produção de etanol, estimada
em 31,9 bilhões de litros frente a 35,6 bilhões na safra anterior.

·  
lhando à frente”, considera Andy Duff, gerente
do departamento de pesquisas do Rabobank Brasil, “o fator mais importante será
a velocidade da recuperação de consumo de combustíveis. E obviamente isso
depende da trajetória de Covid-19 no País, e depende também no comportamento
das empresas e dos consumidores”.

·  
Os
números do setor muito provavelmente não vão confirmar as expectativas
preliminares, formadas antes do tombo nos preços do petróleo e da chegada da
Covid-19, “mas vão conseguir mostrar uma certa resiliência apesar da nova
realidade de 2020”, aposta Duff.