Projeções indicam desaceleração da economia no segundo trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 20 de julho de 2023

As projeções divulgadas ao longo dos últimos dias por institutos de pesquisa, consultorias, departamentos econômicos de grandes bancos e pelo Banco Central (BC) sugerem que a economia teria entrado em nova fase de desaquecimento no segundo trimestre deste ano, com o gradual esgotamento do “efeito safra” sobre os dados do Produto Interno Bruto (PIB) e as consequências negativas da persistência dos juros básicos nos 13,75% em vigor há 12 meses ininterruptos. Os volumes recordes, especialmente no caso da soja, colhidos no início do ano, como se sabe, ajudaram a turbinar os resultados do PIB no primeiro quarto deste ano, levando a um crescimento de 1,9% em relação ao último trimestre do ano passado e de 4,0% na comparação com o primeiro trimestre de 2022.

O impacto dos juros não deve ser desprezado, ainda que as análises em curso venham reservando destaque maior para aquele “efeito safra”, explicado pelo encerramento da colheita das principais culturas de verão. Agora neste começo de segundo semestre, a entrada da segunda de milho, que se prenuncia ainda mais elevada do que as 98,043 milhões de toneladas projetadas no início do mês pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), assim como as safras de algodão e trigo, principalmente, pode influir nos dados do terceiro trimestre, mas com impacto menor do que o observado no começo do ano. Apenas para complementar, a produção estimada pela Conab, recorde em toda a série estatística, já representava um incremento de 14,1% em relação à safra anterior.

Recordes

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O dado divulgado nesta semana pelo Rally da Safra, iniciativa liderada pela Agroconsult, sugere uma produção de quase 107,2 milhões de toneladas, crescendo 16,1%, com uma produtividade igualmente histórica, na média de todo o País, algo em torno de 6.330 quilos por hectare, em torno de 14,8% maior do que no ciclo agrícola anterior. A se confirmar, seriam quase 9,16 milhões de toneladas a mais do que os volumes esperados pela Conab, com potencial para elevar a safra de 2022/23 para alguma coisa ao redor de 326,7 milhões de toneladas, quase 54,0 milhões de toneladas a mais do que a produção colhida em 2021/22. A produção histórica tende a continuar pressionado a inflação de alimentos para baixo, mas traz também desafios logísticos, a começar pela baixa capacidade estática de armazenagem em relação ao tamanho da produção de grãos, incluindo ainda gargalos no transporte da produção até os centros de consumo e aos portos.

Balanço

  • O indicador montado pelo BC para tentar antecipar o comportamento do PIB e aferir a “temperatura” da atividade econômica antecipa uma redução de 2,0% para o PIB em maio, na comparação com abril, considerando dados dessazonalizados (quer dizer, descontados aqueles fatores que se repetem nos mesmos períodos de cada ano e podem distorcer comparações). Na comparação com maio do ano passado, o índice de atividade da autoridade monetária antecipa um avanço de 2,13% e elevação de 3,83% no trimestre encerrado em maio diante de igual período de 2022.
  • O Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado ontem, aponta retração ainda mais intensa na passagem de abril para maio, numa queda de 3,0%. O crescimento em relação a maio, nessa projeção, seria menos relevante, num avanço de 1,8% e alta de 3,5% entre o trimestre finalizado em maio deste ano e igual intervalo de 2022.
  • Na visão da economista Juliana Trece, que coordena a pesquisa, “o forte recuo da atividade econômica em maio reflete o fim dos principais meses de colheita da safra de soja. O expressivo crescimento do PIB no primeiro trimestre, sendo influenciado pelo desempenho da colheita de soja, elevou a base de comparação nos primeiros meses do ano e, em maio, com a redução da colheita deste produto, a atividade econômica retraiu”.
  • Segundo ela, ainda que a queda do PIB possa “ser majoritariamente explicada pelas particularidades da agropecuária, cabe ressaltar que também foram registradas retrações na indústria e nos serviços em maio, embora em magnitudes distintas da agropecuária (-0,1%, em ambas as atividades)”. Por fim, acrescenta a economista, “os juros elevados contribuíram para as pequenas quedas nestas atividades, o que ajuda a explicar a dificuldade de a economia crescer de forma mais robusta e menos dependente da agropecuária”.
  • Considerando a série trimestral na análise dos diversos componentes da demanda, que apresenta menor volatilidade, na versão da FGV, a pesquisa prevê um avanço de 2,9% para o consumo das famílias em relação ao trimestre terminado em maio do ano passado. Há nítida desaceleração nesta área, quando comparado ao ritmo de crescimento observado em 2022 (quando a economia ainda reagia ao fim das medidas de restrição à movimentação e aglomeração de pessoas).
  • A perda de intensidade, verificada desde o final do ano passado, pode ser observada no setor de serviços, “principal componente a explicar aquela tendência declinante”, registra a pesquisa. Ao longo de 2022, o setor experimentou crescimento médio trimestral próximo de 7,0%, taxa reduzida para 3,2% no trimestre móvel finalizado em maio deste ano. Outro componente da demanda agregada, o investimento caiu 0,8% naquele trimestre, comparado ao mesmo período de 2022. O setor de máquinas e equipamentos chegou ao quinto trimestre consecutivo de perdas, numa redução não compensada pelos segmentos da construção e outros.
  • O indicador do nível de atividade desenvolvido pelo Itaú BBA aponta leve avanço de 0,2% na saída de abril para maio e recuo de 0,7% em junho, também na comparação mensal. O banco projeta variação de 0,2% para o PIB no segundo trimestre, na comparação com os três meses anteriores, com elevação de 2,4% em relação ao segundo trimestre de 2022 – ambas estimativas inferiores às taxas observadas pelo IBGE para o PIB do primeiro trimestre deste ano.