Quinta-feira, 28 de março de 2024

Próxima safra antecipa resultados positivos nos volumes esperados

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 01 de junho de 2023

A queda e depois certa acomodação dos custos de produção neste ano, em relação a níveis historicamente elevados no ano passado, veio acompanhada de uma tendência baixista para os preços dos principais grãos, com redução relativamente menos intensa para as carnes, num cenário de maior oferta em ambos setores. Os indicadores até aqui disponíveis, a depender ainda do clima, sugerem mais uma safra cheia no ciclo 2023/24, com resultado ainda muito positivo em termos de volume, apontam Felippe Serigati, do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGVAgro), e Guilherme Bellotti, gerente da Consultoria de Agro Itaú BBA.

Inicialmente, o banco trabalha com uma safra em torno de 159,0 milhões de toneladas para a soja, embutindo avanço de 3,0% em relação à safra 2022/23, e de 130,0 milhões de toneladas para o milho, com elevação aproximada de 4,0%. Os números do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), ao contrário, sugerem recuo de 3,6% para a colheita de soja naquele Estado na próxima safra, com a produção saindo de 45,3 milhões para 43,7 milhões de toneladas.

Neste ano, reforça Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a perspectiva de não ocorrência do fenômeno conhecido como La Niña, causado pelo esfriamento das águas do Pacífico, permite antecipar melhora na produção no Sul, castigada por três anos de forte estiagem, e uma “quantidade muito boa a ser produzia no próximo ano em todo o país”. Para reforçar a expectativa de uma safra positiva, em volume ao menos, Conchon afirma que os produtores “já contrataram a próxima safra”, adquirindo seu pacote de insumos neste início de ano. “Observando o mercado, conversando com produtores, tudo indica que eles utilizarão um bom pacote tecnológico o que ampliará sua produtividade”, observa ainda.

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Neste ano, na estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade recorde, próxima de 4.048 quilos por hectare na média de todas as culturas, ajudou a impulsionar a colheita, já em fase final, para quase 313,9 milhões de toneladas, nada menos do que 41,4 milhões de toneladas a mais do que na safra 2021/22, quando a produção havia somado 272,4 milhões de toneladas. “O aumento de 10,7% da produtividade de grãos foi decisivo para esse resultado”, comenta o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Quatro safras paraguaias

Apenas a variação da produção entre aqueles dois anos agrícolas, anota Serigati, foi quatro vezes maior do que toda a produção paraguaia, impondo ao setor “imensos desafios nas áreas de armazenagem, logística, crédito, seguro e toda rede de suporte ao agronegócio”. A capacidade estática da rede de armazenagem em todo o país alcançou 189,62 milhões de toneladas neste ano, segundo dados da Conab, correspondendo a 60,7% da produção de grãos esperada. Desde 2010, quando os armazéns conseguiam acomodar 91,3% da produção, a capacidade instalada aumentou 39,2% enquanto a safra mais que dobrou, crescendo 108,6%.

Balanço

  • O ritmo mais lento de comercialização da safra, especialmente de soja e milho, acrescenta mais uma preocupação. No Mato Grosso, responsável por 30% da produção brasileira de grãos, anota Bellotti, em torno de 34% da produção de soja colhida neste ano ainda não haviam sido comercializados até maio, o que se compara com 73,4% no mesmo período de 2022.
  • Nos dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), na soma de milho e soja, em torno de 48% da produção não haviam sido vendidos até ali, correspondendo a quase 43,7 milhões de toneladas. Pode-se antever um “alongamento no fluxo de caixa dos produtores”, antecipa Bellotti, e dificuldades para acomodar toda essa produção, lembrando que a safrinha de milho está a caminho e tende a ser recorde, ligeiramente acima de 96,1 milhões de toneladas.
  • O volume recorde produzido neste ano tem pressionado os preços e derrubado os prêmios de exportação. No caso da soja, o prêmio no porto de Paranaguá estava negativo em 105 centavos de dólar por bushel no começo de maio, frente a um prêmio positivo de 137 centavos no mesmo período do ano passado, segundo dados do Imea e da equipe de agronegócio do Itaú. O indicador calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, para os preços pagos aos produtores apontava queda real de 17,0% para os grãos entre março do ano passado e igual mês deste ano, menor nível desde julho de 2020. No setor pecuário, os preços apresentavam recuo de 0,4% em 12 meses.
  • Bellotti lembra que a redução nos preços agrícolas tem sido uma tendência “genuinamente doméstica”, já que o balanço entre oferta e demanda no restante do mundo continua “apertado”, determinando quedas de preços menos intensas em Chicago. Os números apurados pelo Imea apontam quedas de 33,9% e de 33,5% para a soja e o milho, respectivamente, entre a primeira semana de maio de 2022 e igual período deste ano, no mercado disponível em Mato Grosso. Considerando praticamente os mesmos intervalos, lá fora, as cotações baixaram 20,6% para o milho e 15,0% para a soja.
  • O tombo nos preços foi mais intenso do que a redução estimada para os custos dos principais insumos. Com base em dados de março deste ano, o Imea prevê redução de 4,0% nos custos dos defensivos na safra 2023/24, comparado ao ciclo anterior, com baixa de 23,1% para fertilizantes e corretivos nas lavouras de soja geneticamente modificada. As duas categorias de insumo respondem por 55,4% do custo operacional efetivo do grão. Para as culturas de milho de alta tecnologia, as quedas variam de 7,9% para fertilizantes e corretivos a 10,0% para o custo de defensivos, que juntos representam 53,0% do custo operacional de plantio.
  • O movimento dos preços e custos sugere que o agronegócio tende a experimentar em 2024 margens mais próximas de suas médias históricas, depois de três anos de “resultados espetaculares”, nas palavras de Bellotti. Considerando apenas o custo agrícola, as estimativas do Itaú apontam para margens entre 40% e 45% para a soja em 2024. Ainda assim, o cenário à frente, prossegue ele, torna mais premente uma gestão de riscos mais atenta. “Os produtores que não fizeram uma boa gestão do seu custo, mesmo tendo uma excelente safra, poderão ter resultados negativos”, afirma Conchon.