Puxado pelas vendas de veículos, comércio alcança recorde no País
Depois de resultados pouco promissores nos meses iniciais deste semestre, as vendas do comércio experimentaram alguma tração em setembro
Depois de resultados pouco promissores nos meses iniciais deste semestre, as vendas do comércio experimentaram alguma tração em setembro, puxadas em boa medida pelas concessionárias de veículos e motos e pelas lojas de autopeças. Com o empurrão daquele segmento de um lado e das farmácias de outro, tanto o varejo mais restrito quanto o comércio varejista ampliado, que incorpora veículos e o “atacarejo” de materiais de construção e o comércio atacadista especializado em alimentos, bebidas e fumo, retomaram em setembro os níveis recordes já alcançados em maio deste ano.
A reação, de toda forma, pode ter fôlego mais curto do que se poderia contar, fosse outra a situação atual e o cenário projetado daqui para a frente, diante do arrocho imposto mais uma vez ao crédito pelo Banco Central (BC) ao elevar os juros básicos em meio ponto percentual, para 11,25% ao ano. Os mercados pressionam para que a autoridade monetária aperte um pouco mais o cinto, com nova elevação de meio ponto na última reunião deste ano do Comitê de Política Monetária (Copom), definida para dezembro próximo.
O encarecimento do crédito tenderá a esfriar a atividade econômica nos setores que mais dependem de empréstimos e financiamentos, especialmente, no caso do comércio de bens, para aqueles produtos de maior valor unitário, a exemplo de veículos, eletroeletrônicos e mesmo materiais de construção. Como a economia funciona como um sistema de vasos comunicantes, a perda de fôlego em segmentos relevantes tenderia a espalhar o esfriamento para outras áreas da economia, derrubando a velocidade de crescimento do consumo, da produção e do emprego, afetando duplamente a renda das famílias ao final – com o aumento na transferência de rendimentos para o setor financeiro, por meio de juros mais altos, e com menor avanço das contratações, o que pressionaria os salários para baixo.
O que mostra a pesquisa
Segundo a pesquisa mensal do comércio realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na série de dados dessazonalizados, quer dizer, com a exclusão de eventos e fatores que sempre ocorrem nas mesmas épocas todos os anos, o comercio varejista saiu de um recuo de 0,2% em agosto, na comparação com julho, para elevação de 0,5% na saída de agosto para setembro. No varejo mais amplo, o recuo de 0,4% observado em agosto deu lugar a um crescimento de 1,8% em setembro. Tomando igual período do ano passado como base, o varejo mais tradicional, sem lojas atacadistas, experimentou alguma desaceleração ao avançar 2,1% em setembro, saindo de uma variação de 5,3% em agosto. Para o comércio varejista ampliado, as taxas em agosto e setembro alcançaram, respectivamente, 3,2% e 3,9%, em alguma aceleração motivada pelos aumentos de 18,0% nas vendas de veículos, motos e peças e de 9,4% para as lojas de materiais de construção. Em agosto, aqueles dois setores haviam crescido, na mesma ordem, 8,1% e 4,6%.
Balanço
- Goiás seguiu mais ou menos tendência semelhante, com vigor relativamente menor quando se consideram os dados dessazonalizados. Na comparação com o mês imediatamente anterior, o varejo convencional saiu de redução de 0,8% em agosto para ligeira alta de 0,4% em setembro, persistindo um recuo de 0,4% na comparação entre setembro e julho. A taxa mensal foi a mais baixa em setembro desde a variação de 0,8% anotada em dezembro do ano passado, num incremento de 2,6% em relação a setembro do ano passado, inferior à elevação de 7,8% registrada em agosto.
- O varejo ampliado não havia crescido em junho e, na sequência, registrou dois meses negativos, com recuos de 0,2% e de 2,4% em julho e agosto, sempre na comparação com o mês anterior. Em setembro, o setor cresceu 1,4% em todo o Estado. A série recente mostra redução de 3,8% na comparação entre setembro e abril deste ano.
- Assim como no varejo mais tradicional, a taxa mensal no comércio mais amplo anotou algum desaquecimento ao crescer 6,7% em setembro, o que se compara com a alta de 8,3% registrada em agosto, agora m relação aos mesmos meses do ano passado.
- Ainda no dado mensal, tomando idênticos períodos de 2023 como base, o desempenho do comércio em Goiás foi influenciado em setembro pelas altas de 5,0% nas vendas dos supermercados, assim como pelos saltos de 26,0% nas vendas de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumes e cosméticos e de 21,9% para veículos, motos e suas peças.
- No acumulado entre janeiro e setembro deste ano, frente aos mesmos nove meses de 2023, o comércio varejista avançou 6,0% (levemente abaixo da elevação de 6,5% acumulada até agosto), diante de alta de 11,6% para varejo ampliado.
- Na análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), “a simplificação na execução de garantias proporcionada pelo novo marco legal e estratégias mais agressivas de bancos associados a montadoras, apoiadas na redução da taxa básica de juros que ocorreu até maio, nutriram as vendas do varejo de veículos e autopeças” em todo o País. Nesta área, o ritmo de crescimento saiu de 9,4% no primeiro trimestre deste ano para 14,8% no segundo, alcançando 15,3% no terceiro trimestre, sempre em relação aos mesmos períodos do ano passado.
- O instituto destaca três outros segmentos que, neste ano, “estão se saindo melhor do que em 2023”, crescendo de forma mais robusta do que a média do varejo no terceiro trimestre, apontando as lojas de tecidos, vestuário e calçados, com alta de 4,2%, depois de dois trimestres de baixa em sequência; móveis e eletrodomésticos, com ganho de 4,7%; e materiais de construção, com apresentou avanço de 8,2%. Em todos esses segmentos, no entanto, aponta o Iedi, há alguma dependência do crédito como instrumento para “dinamizar suas vendas”. Por esse motivo, “é provável que percam um pouco de fôlego à medida que o novo ciclo de alta da Selic, inaugurado em setembro, comece a contaminar os juros dos empréstimos às famílias”.