Queda nos preços continuava a perder fôlego no começo do mês

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de setembro de 2022

A deflação ensaiada pelos indicadores que aferem a variação dos preços continuou a perder ímpeto na primeira semana de setembro, como mostra o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Os preços dos combustíveis e da energia continuavam apresentando algum recuo, mas num ritmo menos intenso do que nas semanas anteriores, sempre considerando aqui períodos quadrissemanais. O dado mais recente, que compara os preços apurados entre os dias 8 de agosto e 7 de setembro em relação aos 30 dias imediatamente anteriores, apontou recuo de 0,10% na média, mas com aceleração (ou perda de velocidade na queda) para a maioria dos grupos de despesas.

Nas quatro semanas encerradas em 15 de agosto, a deflação (que pode ser traduzida, de forma nem tão apropriada, como “inflação negativa”) havia sido de 1,28%. Evidentemente, diante do comportamento recente dos preços das commodities, petróleo incluído, e do dólar, os indicadores podem vir mais bem-comportados, ainda que retornem ao terreno positivo. Antes de prosseguir, anote-se que as oscilações observadas para os mercados neste momento guardam relação nula com decisões de política econômica e não refletem principalmente a política de alta dos juros.

Mesmo no setor de combustíveis, as quedas agora observadas estão relacionadas principalmente às mudanças de humor na economia global diante dos temores de um desaquecimento geral, como consequência da escalada da inflação e consequente elevação dos juros nos países centrais, e dos impactos ainda da pandemia sobre a atividade econômica, sobretudo na China, que tende a crescer menos do que se esperava.

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Para baixo

Essa perspectiva de desaceleração generalizada tem ajudado a derrubar os preços do petróleo e de seus derivados, a despeito dos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre a oferta de óleo e gás para a Europa principalmente. Desde o início de junho, conforme dados do portal Investing.com, os preços do barril do petróleo tipos Brent (extraído no Mar do Norte, na costa do Reino Unido) e WTI (West Texas Intermediate, que lastreia as cotações nos Estados Unidos) registraram baixas de 27,4% e de 31,4% respectivamente. As cotações desabaram de US$ 122,01 (Brent) e US$ 120,67 (WTI) em 5 de junho para US$ 88,62 e US$ 82,81 no fechamento de ontem.

Balanço

  • Para relembrar, até 5 de junho, tomando como base o final da primeira semana de agosto do ano passado, as cotações do barril haviam acumulado saltos entre quase 73% e pouco mais de 76% respectivamente para os tipos Brent e WTI.
  • No mercado futuro norte-americano, os preços do gás natural e do óleo para aquecimento experimentaram baixas de 26,1% e de 18,2% entre 24 de abril e ontem, ainda conforme dados do mesmo portal. Com a proximidade do outono e as expectativas em relação à oferta durante o inverno, a tendência observada mais recentemente no setor de energia pode ainda trocar de sinais, num cenário que dependerá ainda do comportamento das maiores economias globais nos próximos meses.
  • Mantida a tendência mais recente, no entanto, haveria espaço para novas reduções nos preços dos combustíveis aqui dentro. Até aqui, os preços médios cobrados nas revendas para a gasolina e o etanol hidratado caíram em intensidade relativamente menor, segundo acompanhamento realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
  • O preço do litro da gasolina comum havia despencado 21,32% na comparação entre a primeira semana de agosto e igual período de julho, saindo de R$ 7,13 para R$ 5,61 na média de todo o País. Entre os primeiros dias de agosto e a semana encerrada no dia 3 de setembro, quando a gasolina havia registrado R$ 5,17 por litro, a queda chegou a 7,84%. O etanol hidratado saiu de R$ 4,72 para R$ 4,13 na semana entre 31 de julho e 6 de agosto, em baixa de 12,5%, e dali para R$ 3,71, correspondendo a queda de 10,17%. Neste caso, registre-se a concorrência direta da gasolina e ainda o período de safra no setor, com aumento na oferta do combustível renovável pelas usinas.
  • O comportamento do dólar, que também poderia ajudar a tirar algum vapor dos preços, mostra relativa estabilidade na primeira semana de setembro. Na média, tomando dados do Banco Central (BC), a cotação do dólar chegou a cair 4,19% entre julho e agosto. Mas apresentou ligeira elevação de 1,08% na comparação entre os valores médios alcançados na primeira semana de setembro em relação ao mês anterior.
  • Entre oito grupos de despesas que compõem o IPC-S do Ibre, seis apresentaram menor queda ou aceleração efetiva no ritmo de elevação dos preços médios entre o final de agosto e as quatro semanas encerradas em 7 de setembro – habitação (de -0,09% para 0,05%), vestuário (de 0,53% para 0,67%), saúde e cuidados pessoais (de 0,77% para 0,85%), educação e recreação (saltando de 0,46% para 3,39%), transportes (-3,56% para -2,86%) e comunicação (-1,03% nos 30 dias de agosto e -0,84% no fechamento da primeira semana de setembro).
  • O custo da alimentação, no entanto, finalmente cedeu, passando de variação de 0,07% em agosto para recuo modesto de 0,04% nos 30 dias finalizados em 7 de setembro. Além de tímida, a redução na média dos preços dos alimentos não refresca a forte alta observada no decorrer do ano, mas essa mudança de sinais pode ajudar a manter os índices de inflação em níveis menos elevados (na hipótese de que a tendência se mostre mais duradoura).