Queda nos preços dos combustíveis e na tarifa de energia perde ímpeto

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 24 de agosto de 2022

O “namoro” da economia com índices de inflação negativos tende a ter fôlego curto como já antecipam as pesquisas semanais realizadas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) para aferir o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S). Embora o dado geral mantenha-se ainda em terreno negativo, estimulando a retórica propositadamente distorcida do desgoverno instalado em Brasília, os principais fatores que levaram à queda passam a indicar redução menos intensa de preços e tarifas, sugerindo perspectiva de reversão nas próximas semanas da tendência de baixa estimulada pela desoneração de impostos sobre os combustíveis e, no caso mais específico da energia elétrica residencial, pela mudança na bandeira tarifária a partir de julho.

Embora apurado semanalmente, o IPC-S aponta a variação média dos preços em períodos de quatro semanas. Assim, o dado mais recente divulgado, relativo à semana terminada no dia 22 de agosto, segunda-feira passada, compara os preços médios registrados entre 22 de julho e 22 de agosto com os preços levantados entre as quatro semanas imediatamente anteriores. Em cada medição, portanto, o Ibre apura a taxa média de variação mensal (ou quadrissemanal) dos preços dos produtos pesquisados.

Na série mais recente, o IPC-S parece ter atingindo seu nível mais baixo na quadrissemana finalizada em 15 de agosto, com variação de -1,28% diante das quatro semanas anteriores, com a intensidade da queda perdendo força na semana seguinte. O índice ficou negativo em 0,98% nos 30 dias finalizados no dia 22 último. Na verdade, como as pesquisas comparam preços médios, pode-se inferir que, na ponta, os preços que vinham contribuindo para murchar o índice geral já teriam experimentado reversão, interrompendo a tendência de baixa ou mesmo anotando alguma variação para cima, o que tenderá a ficar mais nítido nas próximas publicações.

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“Deflação” localizada

A “deflação” alardeada pelo desgoverno, no entanto, desde seu início, ao longo de julho, jamais envolveu um processo generalizado de queda no custo de vida. A baixa veio na sequência das medidas que limitaram a cobrança de impostos estaduais sobre energia, combustíveis e telecomunicações, da mudança para verde da bandeira sobre a tarifa de energia e ainda das medidas de desoneração de impostos e contribuições federais novamente sobre o setor de combustíveis. Esse conjunto de medidas contribuiu para derrubar o IPC-S de 0,69% na primeira semana de julho para -1,28% na segunda semana de agosto. O recuo de 0,95% na terceira semana deste mês parece sinalizar nova mudança de tendência.

Balanço

  • Antes de prosseguir, vale anotar que a inflação dos alimentos, item com maior peso exatamente no orçamento das famílias de mais baixa renda, manteve-se solidamente em terreno positivo durante todo o período, iniciando uma tendência de desaceleração no ritmo de alta apenas a partir da segunda semana de agosto.
  • Os preços da gasolina parecem ter alcançado seu momento de maios redução na primeira semana de agosto, quando acumulou redução mensal de 16,62%. Nas quatro semanas encerradas em 22 de agosto, a queda chegou a 14,34%. Trata-se, por óbvio, de uma retração ainda expressiva, mas que demonstra nitidamente perda de velocidade na baixa, sugerindo que o processo de “desinflação” pode ter atingido seu ponto máximo no começo deste mês.
  • Ainda no setor de combustíveis, os preços do etanol vinham baixando, na verdade, desde antes da desoneração, refletindo a entrada da safra de cana no ciclo 2022/23 e o consequente aumento na produção do combustível pelas usinas. Em meados de junho, os preços do etanol para o consumidor apontaram queda de 4,87%, depois de virtual estabilidade na primeira semana daquele mês. Na semana inicial de agosto, o produto sofreu baixa de 11,09%, chegando a uma variação negativa de 9,51% na terceira deste mês.
  • As tarifas de energia, que têm anotado índices negativos desde julho, com o fim das cobranças extras sobre a conta de luz, chegaram a baixar 5,31% até a última semana daquele mês, passando a anotar recuo de 3,07% nas quatro semanas encerradas no dia 22 de agosto.
  • Por conta desses movimentos, os grupos habitação, que inclui a energia, e transportes, sob influência dos combustíveis, passaram a anotar inflação um pouco menos negativa. No primeiro grupo, os preços médios chegaram a recuar 0,70% nas quatro semanas de julho, mas tiveram a deflação reduzida para 0,25% até 22 de agosto. Nos transportes, a queda aproximou-se de 5,0% até 15 de agosto (-4,99%), mas o ritmo de baixa fechou em -4,31% nos 30 dias encerrados em 22 de agosto.
  • Um terceiro grupo tem contribuído para que a “desinflação” dos preços em geral. Trata-se do setor de educação, leitura e recreação, de peso mais baixo no orçamento das famílias e, portanto, no cálculo do IPC-S. Aqui, a contribuição positiva veio das passagens aéreas, um item que tem demonstrado volatilidade intensa mês a mês, saindo de um salto de 15,90% até meados de junho para queda de 29,22% na quadrissemana finalizada em 15 de agosto. Já na quadrissemana seguinte, provavelmente resultado de novos aumentos praticados na terceira semana de agosto, os valores médios das passagens passaram a anotar queda de 13,34%.
  • Encerrados os efeitos das reduções de impostos, no entanto, os índices gerais de inflação tendem a voltar a subir, talvez em menor intensidade do que o processo inflacionário observado entre 2021 e os primeiros meses deste ano. A menor intensidade de aumentos nos preços dos alimentos poderá ajudar a reduzir as pressões altistas. A inflação nesta área, segundo o Ibre, havia atingido 1,40% na quadrissemana terminada em 7 de agosto, baixando para uma variação de 0,38% duas semanas depois.