Coluna

Reação? Dados do IBGE mostram cenário (ainda) de baixo crescimento na indústria

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 09 de outubro de 2019

As
flutuações mensais dos indicadores da produção industrial no País e nos Estados
reforçam o cenário observado ao longo de todo o ano. Em síntese,a indústria
continua a patinar em praticamente todo o País, com raras exceções,
demonstrando dificuldades relevantes para voltar a crescer de forma constante e
mais intensa. Um sinal evidente dessas dificuldades está na comparação feita
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que realiza
mensalmente a pesquisa sobre o setor, tomando indicadores ajustados
sazonalmente – ou seja, descontando-se flutuações provocadas a cada época do
ano por fatores típicos e específicos. Transcorridos 16 meses, a produção
industrial no País sequer retomou os níveis observados em abril do ano passado.
Em Goiás, a variação acumulada no período limitou-se a apenas 0,5%.

Na
verdade, na média de todo o País, persiste uma queda de 3,3%. O instituto não
adotou erraticamente o mês de abril de 2018 como base para esse tipo de
comparação. Até ali, o setor vinha ensaiando alguma melhoria, acumulando alta
de 4,3% no quadrimestre encerrado naquele mês frente aos primeiros quatro meses
de 2017. Dali em diante, a economia brasileira sofreu dois choques em
sequência, a começar pelos impactos negativos trazidos pela paralisação dos
caminhoneiros, em maio.

Neste
caso, no entanto, os efeitos sobre o nível de atividade foram menos duradouros,
embora tenham alcançado intensidade nada desprezível, contribuindo para a
estagnação literal da produção industrial no segundo quadrimestre de 2018
(quando a pesquisa anotou variação de apenas 0,6% frente ao período de quatro
meses terminado em agosto de 2017). A partir de meados do ano passado, a
economia argentina iniciou seu derretimento, afetando diretamente as
exportações de manufaturas brasileiras e especialmente as vendas externas de
veículos, suas partes e peças. No último quadrimestre do ano passado, a produção
encolheu 1,6%.

Continua após a publicidade

Oomommo

Em
Goiás, como se recorda, a produção chegou a desabar 13,8% na passagem de abril
para maio do ano passado, diante de um tombo de 11,0% na média de toda a
indústria. Nos dois últimos quadrimestres de 2018, a indústria continuou
sofrendo perdas, com retração de 5,8% no segundo e de 7,2% no terceiro, sempre
em relação a idênticos períodos de 2017, e fechou o ano com baixa de 4,7%
(diante de ligeira elevação de 1,0% na média do setor no País). A variação de
0,5% na comparação entre os volumes produzidos em agosto deste ano e em maio de
2018, no Estado, não parece indicar melhoras tão expressivas quanto parecem
sugerir os dados quadrimestrais em 2019. A comparação mais recente vem se dando
sobre bases bastante reduzidas, em períodos de forte redução da atividade
industrial em Goiás.

Balanço

·  
Esse
fator parece explicar o incremento sinalizado pelos números mais recentes. Por
exemplo, a produção da indústria goiana saiu de uma estagnação virtual no
primeiro quadrimestre de 2019, quando anotou flutuação de 0,1% diante do mesmo
período do ano passado, para 3,0% no segundo quadrimestre, marcando o sexto
melhor desempenho entre os Estados pesquisados.

·  
Na
média de todo o Brasil, a indústria sofreu retração de 2,6% no primeiro
quadrimestre e fechou os quatro meses seguintes com recuo de 0,9%.

·  
Na
pesquisa industrial regional divulgada ontem, a produção goiana avançou 0,2%
entre julho e agosto, bem menos do que a taxa de 1,5% observada na passagem de
junho para o mês seguinte. Houve desaceleração igualmente na comparação com
igual mês de 2018, já que a indústria apontou avanço de 1,8% em julho (depois
de registrar queda de 2,2% em junho) e, em seguida, variação de apenas 0,5% em
agosto.

·  
A
bem da verdade, flutuações após a vírgula não alteram de forma definitiva o
cenário de baixo crescimento e nem mesmo sugerem que o setor poderá vir a
ganhar fôlego daqui para frente. Permitem concluir que a
recuperação continua ocorrendo sofrivelmente, aos trancos e barrancos.

·  
Mesmo
o “crescimento” de 0,5% registrado na comparação com agosto do ano passado pode
ser relativizado. Entre outros motivos porque o dado foi influenciado
principalmente pelo desempenho de dois setores – a indústria extrativa mineral,
que apresentou salto incomum de 45,5% no período, puxada pela maior produção de
cobre, fosfato, pedras calcárias e brita.A produção de veículos, por sua vez,
aumentou nada menos do que 45,3% em agosto, graças ao avanço no segmento de
automóveis.

·  
São
dois setores que têm apresentado comportamento instável ao longo do ano,
alternado movimentos intensos de altas e quedas. Entre janeiro e agosto, o
setor extrativo acumula elevação de 1,7%, com variação modesta de 0,5% para a
indústria automotiva.

No dado acumulado até agosto, que mostra
incremento de 1,9% para o conjunto da indústria no Estado, praticamente 84,5%
desse crescimento vieram dos setores de produção de alimentos (com alta de 2,7%
e contribuição de 74,7% para o crescimento geral) e de biocombustíveis (mais
1,6% no ano e contribuição de 14,7% diante de sua participação mais relevante no
valor adicionado da indústria).