Reação (modesta) das vendas continua atrelada a combustíveis

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de dezembro de 2022

As vendas do comércio varejista em seu conceito mais amplo, contemplando redes de vendas de veículos, motos, autopeças e materiais de construção, além das lojas exclusivamente varejistas, tendem a fechar o ano em baixa na comparação com 2021, quando haviam registrado elevação de 4,5% na comparação com o ano anterior. Pelo menos esta é a tendência sugerida pela edição de outubro ada pesquisa sobre vendas do comércio realizada mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada ontem. No acumulado entre janeiro e outubro, o volume de vendas nesta área registrava baixa de 0,5% em relação aos mesmos 10 meses de 2021, com redução de 1,0% nos 12 meses terminados em outubro deste ano.

Uma reação além da esperada nos dois últimos meses deste ano, evidentemente, pode ainda vir a mudar o cenário antecipado pela pesquisa, mas a expectativa predominante – e já esboçada em outubro – indica desaceleração no ritmo de crescimento das vendas no trimestre final deste ano. Adicionalmente, a variação positiva na passagem de setembro para outubro e mesmo na comparação com outubro do ano passado esteve ancorada no desempenho do mercado de combustíveis, que deve os resultados mais positivos colhidos mais recentemente, ao que tudo indica, à redução das alíquotas do no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidentes sobre o setor, o que trouxe uma baixa dos preços da gasolina, levando, por sua vez, a um barateamento relativo nos preços do etanol.

Na comparação com o mês imediatamente anterior, de fato, os índices capturados pela pesquisa do IBGE mais recentemente mostram perda de fôlego em um setor que veio capengando ao longo de quase todo o ano. No varejo tradicional, o avanço de 1,2% registrado em setembro foi sucedido por uma variação de 0,4% em outubro. As vendas do varejo ampliado, que haviam crescido 1,5% na saída de agosto para setembro, registraram variação de 0,5% em outubro, com perdas de 1,7% e de 3,5% para veículos, motos e autopeças, no primeiro caso, e para materiais de construção na sequência. Ainda no segmento mais amplo do varejo, as vendas ficaram estagnadas ou recuaram em seis entre os 10 primeiros meses deste ano, sempre na comparação com o mês imediatamente anterior, sinalizando baixo dinamismo do consumo a despeito de melhorias no mercado de trabalho e nas taxas de inflação.

Continua após a publicidade

Números mistos em Goiás

O varejo goiano observou comportamento menos desfavorável em outubro, mas depois de uma sequência de resultados negativos. Em outubro, as vendas do comércio varejista restrito apresentaram modesta variação de 0,3% frente ao mês anterior, depois de recuos de 0,7% e de 0,6% respectivamente em agosto e setembro. Em seu conceito mais amplo, as vendas chegaram a aumentar expressivos 5,3% em outubro, mas havia sofrido perdas de 1,8% e de 4,4% nos dois meses anteriores. Ainda nesta área, a pesquisa mostra alta de 3,8% em outubro, na comparação com igual mês de 2021, praticamente repondo as perdas de 3,5% registradas em setembro, para acumular elevação de 2,8% no acumulado entre janeiro e outubro deste ano frente aos mesmos 10 meses de 2021. O varejo tradicional anotou desaquecimento na comparação anual, considerando-se que o crescimento de 1,9% anotado em setembro (frente a igual mês do ano passado) deu lugar a uma variação de 0,5% em outubro, levando o segmento a apresenta leve recuo de 0,1% nos 10 meses iniciais deste ano – o que significa dizer que as vendas virtualmente não saíram do lugar em relação ao ano passado.

Balanço

  • Seja na comparação com idêntico mês de 2021, seja no acumulado do ano, os números do varejo em toda sua composição foram fortemente influenciados pelo desempenho recente dos combustíveis, que vinham de longo período de perdas, como se recorda. Na composição da taxa de variação observada em outubro, com alta de 2,7% diante do décimo mês de 2021 em todo o País, o salto de 34,2% nas vendas de combustíveis elevou para 3,0 pontos de percentagem a contribuição do segmento para o comportamento geral do varejo restrito. Considerando o varejo ampliado, essa contribuição atingiu 2,1 pontos, diante de uma variação de 0,3% para as vendas do setor em relação a outubro do ano passado.
  • Com a exclusão dos combustíveis, portanto, os demais setores do varejo restrito, olhados em conjunto, teriam apresentado contribuição negativa de 0,4 ponto, significando que venderam menos do que em outubro de 2021. Apesar do crescimento de 2,6% nas vendas de hiper e supermercados, setor que tem peso de 48,1% no varejo restrito. No varejo mais amplo, a contribuição dos demais setores teria sido negativa em 1,8 pontos.
  • O resultado de outubro veio abaixo do esperado, na leitura do Itaú BBA, pelo menos em relação ao varejo ampliado. O banco esperava um crescimento de 0,8% no varejo ampliado e de 2,6% para as vendas no segmento varejista mais convencional. O índice neste último setor veio muito próximo daquele indicado pela pesquisa (elevação de 2,7%), mas a taxa do varejo amplo superou largamente a variação de apenas 0,3% registrada efetivamente. A frustação, na avaliação do banco, deveu-se aos resultados muito inferiores aos esperados no setor de materiais de construção. A expectativa era de redução de 5,9% frente a outubro do ano passado, mas a pesquisa trouxe um tombo de 12,7%.
  • Conforme o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), “com a maior parte do ano coberta pelas estatísticas do IBGE para o comércio, já dá para saber a que veio 2022”, com perda de 0,5% para o varejo ampliado no acumulado de janeiro a outubro, “muito concentrada em ramos de bens de consumo duráveis”, como mostram as quedas de 1,3% e de 8,6% respectivamente nos setores de veículos e materiais de construção.
  • Para o instituto, “a piora das condições de crédito com a elevação das taxas de juros, a recomposição da parcela de serviços no orçamento das famílias, notadamente daquelas de maior renda, que conseguiram preservar mais seu poder de compra ao longo da pandemia, e a possibilidade de adiar a aquisição de bens de duráveis influenciaram os resultados negativos daqueles segmentos”.
  • O Itaú BBA manteve sua expectativa de “arrefecimento do ritmo da atividade econômica no quarto trimestre de 2022”. Adicionalmente, as taxas relativamente mais alentadas observadas nos últimos dois meses guardam relação também com a base mais fraca registrada pelo varejo em geral ao longo de 2021.  No varejo restrito, por exemplo, o crescimento de 1,6% em agosto, de 3,2% em setembro e de 2,7% em outubro, já em desaceleração, veio em comparação a taxas de negativas observadas para aqueles mesmos meses em 2021, com quedas de 4,1%, de 5,2% e de 6,8% na mesma sequência. As variações de 0,9% e de 0,3% em setembro e outubro no varejo ampliado, da mesma forma, ocorreram sobre bases igualmente reduzidas pelas quedas de 4,0% e de 7,0% anotadas nos mesmos dois meses de 2021.