Reação tímida da indústria em 2020 não repõe perdas desde 2013

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 22 de julho de 2022

Em meio à crise causada pela pandemia e seus impactos sobre o lado real da economia, a indústria goiana até ensaiou alguma reação, refletida na abertura de novas unidades industriais e na geração de empregos, excessivamente concentrada, no primeiro caso, no setor de vestuário, e nas indústrias farmacêutica, de produtos têxteis e de extração mineral, no segundo. Os números naquelas duas áreas, no entanto, mantêm-se abaixo daqueles alcançados em 2013, o que parece reforçar as análises que têm indicado a extrema dificuldade do setor industrial de retomar o crescimento depois de quase uma década de perdas ou de desempenho sofrível numa fase mais recente.

A edição de 2020 da Pesquisa Industrial Anual (PIA), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o setor registrou a entrada de 148 novas indústrias, considerando o total de unidades industriais com cinco ou mais empregados, que avançou de 6.376 para 6.524. O setor quase não saiu do lugar se comparado às 6.513 unidades registradas em 2011 e continuou encolhida na comparação com 2013, melhor momento da indústria, quando chegou a abrigar 7.204 unidades industriais. Em oito anos, a indústria goiana perdeu 680 empresas, numa redução de 9,4%.

A variação no número de unidades industriais entre 2019 e 2020, conforme a PIA, pode ser explicada principalmente pela expansão observada na indústria de vestuário, que operou a abertura de 140 novas unidades, passando de 1.122 para 1.262 estabelecimentos industriais, num avanço de 12,48%. A pesquisa aponta ainda um avanço no total de empregos industriais, que registrou variação de 1,88% frente a 2019, avançando de 227,282 mil para 231,560 mil ocupações – ou seja, foram criados 4.278 empregos ao longo de 2020. Para contextualizar o dado, deve-se acrescentar que, em 2011, a indústria empregava 231,074 mil trabalhadores, muito próximo dos números de 2020 (na ponta do lápis, foram criadas 486 vagas desde lá, numa flutuação de 0,21%). Adicionalmente, em 2013, o setor chegou a empregar 256,831 mil trabalhadores, o que significa dizer que o total registrado em 2020 ainda apontava queda de 9,8% desde lá, com a demissão de 25,271 mil pessoas.

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Substituição às avessas

A incapacidade de experimentar novamente taxas persistentes e duradouras de crescimento tem as mesmas origens da crise que vitimou a indústria brasileira como um todo, submetida ao longo de anos em sequência a uma taxa de câmbio desajustada, com dólar muito barato, o que favoreceu a entrada de bens e produtos manufaturados importados, levando a uma substituição de importações às avessas, com avanço do conteúdo importado na produção local. Para agravar, as taxas de juros permaneceram por décadas na estratosfera, afugentando investimentos produtivos e desestimulando duplamente a renovação, modernização e diversificação do parque industrial. O curto período de queda histórica dos juros básicos nitidamente não teve forças para reverter esse processo e, para complicar, a temporada de arrocho ao crédito foi retomada desde a segunda metade de março do ano passado.

Balanço

  • A despeito das políticas de atração de investimentos e das dimensões assumidas pelos incentivos fiscais no Estado, a indústria não parece ter conseguido atingir níveis de maior agregação de valor à produção, com maior incorporação de recursos locais. Em 2020, apenas como exemplo, segundo relatório elaborado pelo Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB), as renúncias fiscais consumiram 34,03% das receitas correntes líquidas, somando em torno de R$ 8,967 bilhões.
  • O valor da transformação industrial, que reflete recursos agregados pela indústria ao longo do processo de produção (incluindo o valor do trabalho agregado aos produtos, além de insumos e matérias primas locais utilizados pela indústria), experimentou crescimento de 21,97% entre 2019 e 2020, passando de R$ 36,145 bilhões para R$ 44,086 bilhões, numa variação real de aproximadamente 15,4%, descontado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do mesmo IBGE.
  • O avanço registrado elevou apenas ligeiramente a fatia do valor da transformação sobre o valor bruto da produção, sugerindo um nível de agregação local de valor ainda muito baixo, em torno de 34,01% frente a 33,23% em 2019. Em 2011 e 2013, o uso de fatores locais na produção (insumos, matérias primas e mão de obra) respondeu por 37,86% e 38,06% do valor bruto de tudo o que foi produzido. Vale dizer, a indústria passou a utilizar percentuais mais elevados de fatores importados (seja do exterior, seja de outros Estados) para realizar sua produção.
  • O nível de agregação de recursos locais na produção em Goiás continua muito abaixo dos percentuais observados para a média da indústria brasileira, já rebaixados pelo avanço das importações nos últimos anos. Na média de toda a indústria, a relação entre o valor da intermediação e o valor bruto da produção industrial caiu de 46,06% em 2011 para 42,47% em 2020.
  • O peso dos custos a operação industrial sobre o setor elevou-se levemente, mas atingiu níveis bem mais altos do que em 2011, indicando uma tendência de elevação ao longo do período. Comparados à receita líquida das vendas de bens industriais, os custos passaram a representar 67,31% em 2020, diante de 67,21% no ano imediatamente anterior. Mas acima dos 64,31% registrados em 2011. Em valores nominais, os custos industriais subiram 159,2% entre 2011 e 2020, diante de uma variação de 147,6% acumulada pelas receitas tipicamente industriais.
  • A produtividade por empregado, considerando o valor da transformação industrial e o total de pessoas ocupadas no setor, experimentou crescimento de 19,71% na saída de 2019 para 2020, avançando de R$ 159,03 mil para R$ 190,39 mil por trabalhador. Na comparação com 2011, o aumento bateu em 118,7% (sempre em valores não corrigidos pela inflação). O desempenho, no entanto, pode ser explicado também pela virtual estagnação do emprego no período, sugerindo um crescimento “espúrio” da produtividade, já que indústria não conseguiu gerar empregos em bases relevantes na década.