Receitas do varejo crescem puxadas pela alta nos preços

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de setembro de 2021

Sob impacto da alta de preços em geral, as receitas nominais do varejo acumulam aumento muitas vezes acima da variação indicada pelo volume de vendas, segundo a pesquisa mensal do comércio realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Num exercício de aproximação, baseado na observação dos dados trazidos pela pesquisa, supostamente o comércio varejista tem conseguido repassar à frente parte dos aumentos registrados nos últimos meses pelos produtos vendidos ao consumidor final. Como o processo inflacionário tem prevalecido nos meses seguintes, a questão é saber até quando o repasse será possível sem afetar negativamente os volumes vendidos, considerando especialmente o efeito corrosivo da inflação sobre a renda das famílias, o desemprego muito elevado e uma reação do emprego muito aquém da que seria necessária para ativar as cadeias da demanda.

Segundo o IBGE, o comércio varejista mais tradicional apresentou variação de 1,2% na passagem de junho para julho, acima das expectativas do mercado, crescendo ainda 5,7% frente a julho do ano passado (efeito da base de comparação bastante achatada pela pandemia e pelas medidas de distanciamento social). Nos sete meses iniciais de 2021, ainda de acordo com a pesquisa, as vendas no setor aumentaram 6,6% em relação ao mesmo período do ano passado. No varejo ampliado, que inclui, como já se sabe, lojas e revendas de veículos, motos, autopeças e materiais de construção, observou-se elevação de 1,1% entre junho e julho, na sequência de uma redução de 2,1%, avanço de 7,1% diante de julho de 2020 e alta de 11,4% entre os sete primeiros meses deste ano frente igual intervalo do ano passado.

O “efeito preço”

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Considerando o comportamento acumulado entre os meses de janeiro e julho de 2021 e 2020, as receitas nominais saltaram 18,6% no varejo restrito e 24,5% no resultado do comércio em seu conceito mais amplo. Isso significa que a variação dos preços teve papel preponderante para explicar o crescimento das receitas. Numa estimativa da coluna, quase metade do aumento das receitas do varejo amplo veio do aumento dos preços. No comércio mais restrito, a relação foi maior, aproximando-se de 61% por influência dos setores de combustíveis e lubrificantes e supermercados. No caso dos supermercados, incluindo as grandes redes de hipermercados, o volume de vendas tem patinado e acumula redução de 2,6% nos primeiros sete meses do ano, com salto, no entanto, de 11,0% na receita nominal. Neste caso, a alta nos preços respondeu integralmente pelo incremento registrado pelas lojas em seu faturamento. O setor de combustíveis conseguiu levar suas vendas de 4,3% nos mesmos sete meses, mas as receitas saltaram 33,0%. Assim, o “efeito preço” explica 83% do crescimento das receitas, o que pode ser comprovado pelo forte aumento nos preços dos combustíveis ao longo do ano.

Balanço

  • As vendas de combustíveis voltaram a sofrer recuos na comparação mês a mês, registrandorecuos de 0,8% e 0,3% em junho e julho, mas ainda cresceu 6,4% frente a julho do ano passado, quando as vendas do setor haviam desabado 10,6%.
  • As lojas de materiais de construção, outro setor em forte aumento de preços pela demanda de setores no topo da distribuição de renda no País, experimentaram salto de 43,3% nas receitas, embora o volume vendido tenha acumulado elevação de 16,6%. Neste caso, os preços mais caros explicaram praticamente 53% do crescimento das receitas.
  • As concessionárias de veículos e motos e as lojas de peças e partes para veículos, analisadas em conjunto, têm registrado fortes altas neste ano, na comparação com 2020, expressamente porque os resultados haviam sido muito ruins no ano passado. Em julho, a alta de 18,0% se deu em relação a uma base reduzida em 16,3% em 2020 (comparada a julho de 2019). Em sete meses, até julho deste ano, o volume de vendas aumentou 25,9% e as receitas cresceram 39,5%. No caso, os preços tiveram influência relativamente mais baixa sobre as receitas, estimando-se uma contribuição de 27% aproximadamente.
  • Na leitura do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), as vendas reais do comércio varejista continuaram em expansão, mas com intensidade um pouco menor do que nos meses anteriores, iniciando o segundo semestre “com performances muito heterogêneas entre os distintos segmentos do varejo. Poucos foram os que avançaram com mais vigor”.
  • Entre julho do ano passado e igual mês deste ano, cinco setores frequentaram o terreno negativo e cinco mantiveram taxas positivas. As lojas de outros artigos de uso pessoal e doméstico, turbinadas pelo comércio virtual, saltaram 36,8% frente a julho de 2020, com avanço de 18,0% para o segmento de veículos. Combinados, os dois setores foram responsáveis por 97,2% do crescimento registrado pelo volume de vendas em todo o varejo ampliado.
  • As vendas de livros, jornais, revistas, artigos de papelaria continuaram reagindo de forma muito negativa, tendência observada desde o começo da pandemia. Em julho, o setor sofreu baixa de 5,2% em relação a junho deste ano e desabou 23,2% diante de julho de 2020 (quando já havia caído 25,1%). Nos sete primeiros meses do ano, a queda foi de 22,9%.
  • Setor mais dependente de crédito, as lojas de móveis e eletrodomésticos experimentaram recuo de 1,4% entre junho e julho, com tombo de 12,0% frente a julho do ano passado (depois de já terem encolhido 5,3% em junho, igualmente na comparação com idêntico mês de 2020).Hiper e supermercados, com alta na inflação dos alimentos, haviam recuado 0,5% em junho e mantiveram virtual estabilidade em julho (mais 0,2%). Frente aos mesmos períodos de 2020, registraram-se baixas de 4,3%, de 3,0% e de 1,8% em maio, junho e julho, pela ordem.
  • As vendas em Goiás subiram mais do que a média do País em julho, com ganhos de 2,5% e de 2,2% para as lojas do varejo restrito e amplo, respectivamente, na comparação entre julho e junho deste ano. Em relação a julho do ano passado, seguindo a mesma ordem, o IBGE anota avanços de 5,9% e de 17,2% (puxado, no varejo amplo, pelo salto de 50,1% nas vendas de veículos, já que setor de materiais de construção encolheu 2,5%).
  • Se as vendas de tecidos, roupas e calçados e de medicamentos saltaram 71,0% e 23,6% em julho (frente ao mesmo mês de 2020), hiper e supermercados e ainda as lojas de móveis e eletrodomésticos amargaram perdas de 10,7% e de 15,2% na mesma comparação.