Coluna

Recuperação lenta da economia ameaça crescimento no médio e longo prazos

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 09 de agosto de 2019

Os
indicadores dos grandes setores da economia embicaram para baixo no final do
semestre passado, fazendo renascer os temores de um segundo trimestre
igualmente negativo para toda a economia ou com variação muito próxima de zero
para o Produto Interno Bruto (PIB) – o que poderia
configurar uma “recessão técnica” na primeira metade de 2019, na leitura feita
pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A se
confirmar o cenário mais negativo, acrescenta o instituto, o País estaria
experimentando “uma recuperação lenta, descontínua e, por isso, com baixa
capacidade de restabelecer o emprego e a renda” aos níveis anteriores à crise
de 2015/16.

A
economia, acrescenta Bráulio Borges,
pesquisador associado do Instituto Brasileiro
de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) e economista-sênior da área
de macroeconomia da LCA Consultores, sofre nitidamente de “falta crônica de
demanda”. Além do evidente problema social causado pela estagnação econômica,
com todos os impactos negativos do desemprego sobre as famílias, afirma Borges,
o baixo ritmo da atividade econômica pode estar precisamente sacrificando as
possibilidades de um crescimento mais sustentado no médio e longo prazo, já que
o estado de “semidepressão afeta as variáveis que determinam a produtividade da
economia no longo prazo”.

Para
descrever esse fenômeno, a economia toma emprestado da física o termo
“histerese”, palavra derivada do grego, conforme o economista, e que pode ser
“traduzida” como “retardo”. Entre outras formas de manifestação, a “histerese”
afeta principalmente os trabalhadores excluídos por períodos muito longos do
mercado pelo desemprego. Deve-se recordar que a taxa de desocupação no Brasil
tem se mantido ao redor de 12% desde o trimestre finalizado em agostode 2016,
portanto, há praticamente três anos.

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Oportunidades
perdidas

Portanto,
anota Borges em texto recente, produzido em conjunto com os economistas Manoel
Pires e Gilberto Borça Júnior, também do Ibre, “quando a taxa de desemprego se
situa em patamar atipicamente elevado e por muito tempo, maior tende a ser o
ajuste e o conformismo com padrões de vida mais baixos, além dessa situação
aumentar a incidência de distúrbios mentais associados a sentimentos de
insegurança e ansiedade (inclusive para aqueles que continuam ocupados)”. Ao
permanecer por longo período fora de atividade, o trabalhador perde a
oportunidade de atualização que a convivência no ambiente de trabalho poderia
oferecer (levando ao que os economistas chamam de “perda de capital humano”).
Mais adiante, quando o mercado volta a demandar mais mão de obra, esses trabalhadores
podem “não se encontrar mais em condições de inserção no mercado ou o fazem em
condições muito desfavoráveis, isto é, em posições de baixa produtividade ou na
economia informal”.

Balanço

·  
Esse
processo pode estar já em curso, considerando-se que o recente avanço no número
de pessoas ocupadas tem se concentrado entre vagas por conta própria (em geral
sem registro oficial), vagas sem carteira assinada e em setores associados à
prestação de serviços, com remuneração média mais baixa.

·  
As
diferenças de salários entre aqueles que conseguiram preservar seus empregos
mesmo ao longo da crise e os trabalhadores que retornaram à atividade ainda na
fase de baixa da atividade econômica, segundo estudos recentes, tendem a
perdurar por bastante tempo, acentuam Borges, Pires e Borça Jr.

·  
“Dessa
forma, menores são as oportunidades, menor é o acúmulo de experiência ao longo
da vida laboral, menor é a produtividade média da economia no longo prazo”,
apontam ainda.

·  
Entre
outros efeitos mais a longo prazo da lenta recuperação, prosseguem os
economistas, a quantidade e a qualidade do “estoque de capital da economia”
(quer dizer, todas as máquinas e equipamentos em operação nas fábricas,
instalações e edificações, estradas, pontes, viadutos, ferrovias) são
igualmente sacrificados. Tornam-se obsoletos e, portanto, reduzem sua
capacidade produtiva, o que reduz a produtividade em toda a economia.

·  
“O
investimento tende a se elevar quando há demanda crescente, corrente e
esperada, por novos produtos (que pode ser atendida mediante aumento das
importações ou da expansão da oferta doméstica), abertura ou criação de novos
mercados, inovações, condições financeiras mais favoráveis e baixo nível de
incerteza”, consideram eles. Mas vários desses fatores têm atuado contra uma retomada
“mais firme dos investimentos”.

A falta de demanda, expressa na ociosidade das
fábricas e no desemprego elevado, tem sido o grande fator a limitar novos
investimentos em ativos fixos.