Coluna

Redução nos volumes e nos preços das exportações explica superávit menor

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 18 de dezembro de 2019

As
oscilações frequentes na cotação do dólar, num cenário marcado por uma
sequência de altas e baixas bruscas do câmbio, por certo tornam muito mais
complicada a negociação e fechamento de contratos para entrega futura de bens,
mercadorias e serviços no mercado internacional, sobretudo no caso de contratos
de prazos mais longos. Em geral, movimentos de desvalorização do real tendem a
tornar as exportações brasileiras mais baratas lá fora e, na via inversa,
encarecer as importações, desestimulando sua entrada no mercado. Até aqui, há
poucas evidências de que alguma tendência naquela direção esteja de fato em
marcha.

“Num
cenário de incertezas, que se reflete na instabilidade cambial, os momentos de
desvalorização cambial não têm impulsionado as exportações ou retraído as
importações. Sabe-se que os efeitos das mudanças cambiais demoram a se fazer
presentes, mas no incerto cenário atual mundial e do Brasil, essa demora se estende
por um tempo mais longo”, analisa o Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) no mais recente relatório que acompanha o
Indicador de Comércio Exterior (Icomex) da entidade.

O
material relembra que, em 25 de janeiro deste ano, o relatório Focus do Banco
Central (BC), que trata de aferir os humores e apostas do mercado financeiro
para os principais indicadores econômicos, chegou a projetar para este ano um
saldo comercial (exportações menos importações) de US$ 52,0 bilhões,
considerando as tendências observadas para o comércio mundial e para a taxa de
câmbio naquele momento. Na segunda-feira passada, há menos de duas semanas para
o encerramento do ano, os departamentos de macroeconomia dos bancos passaram a
considerar a perspectiva de um superávit de US$ 43,0 bilhões (ou seja, em torno
de US$ 9,0 bilhões mais magro), o que se compara com o saldo próximo de US$
41,0 bilhões acumulado nos primeiros 11 meses deste ano, segundo números da
Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do superpoderoso Ministério da
Economia.

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Altas e baixas

Na
avaliação do Ibre, a piora nos dados da balança comercial, que se tornou mais
aguda ao longo do segundo semestre (com espaço para um exercício suspeito de
“superestimação” da queda das exportações num momento crítico para o mercado de
dólar), “está associada a uma queda de 6,4% nas exportações e a um aumento nas
importações de 1,2%” na comparação entre o acumulado de janeiro a novembro
deste ano com o mesmo intervalo de 2018. Na ponta das exportações, a redução
veio puxada principalmente pela queda de 4,8% no preço médio dos produtos
exportados e pelo recuo de 2,0% nos volumes embarcados pelo Brasil rumo ao
mercado internacional. As compras externas ficaram igualmente “mais baratas”,
com redução de 4,2% no nos preços médios, enquanto o volume importado avançou
2,3%, influenciada sobretudo pela alta de 4,3% no volume das importações de
produtos agropecuários e sob influência ainda de um incremento de 2,6% nas
importações realizadas pela indústria de transformação (aqui concentradas em
bens intermediários, ou seja, insumos, matérias-primas e outros destinados à
fabricação final de bens industriais).

Balanço

·  
O
comportamento do volume das exportações foi ditado, na avaliação do Icomex, pela
combinação de ligeira elevação nas vendas de commodities (minério de ferro,
soja, milho e outros grãos, petróleo bruto, semimanufaturados de ferro e aço,
entre outros), que avançaram 1,8% no acumulado em 11 meses, e forte baixa em
produtos não classificados como commodities (tombo de 7,0%).

·  
As
vendas externas de bens de capital e bens de consumo duráveis, medidas em
volume, despencaram 21,6% e 20,6% respectivamente, enquanto as importações
naqueles mesmos setores baixaram 6,3% e 18,7% na mesma ordem. Em sentido
inverso, tanto as exportações quanto as importações de bens intermediários
avançaram na comparação com os primeiros 11 meses do ano passado, com altas de
4,7% e de 7,9%.

·  
A
crise na economia Argentina explica boa parte da queda nos volumes exportados
de “não commodities” (especialmente bens manufaturados, de maior valor
agregado). No geral, os volumes exportados pelo Brasil para o mercado argentino
desabaram 34,0%. Mas não foi o único mercado a comprar menos manufaturas
do Brasil. O grupo “demais da América do Sul”, excluída a Argentina, muito
obviamente, apresentou recuo de 9,0%.

·  
Com
alta concentração de commodities, as exportações para a China recuaram 2,4%
(com a colaboração principal da soja em grão, já que os chineses reduziram suas
compras diante das perdas gigantescas impostas pela febre suína africana a seu
plantel) e baixaram 8,9% para a União Europeia.

·  
Exportações
e importações para os Estados Unidos apresentaram altas de 13,8% e de 13,0%, em
volume. A explicação, no caso das vendas brasileiras para aquele mercado, está
no forte embarque de petróleo em bruto e de laminados de ferro e aço, “o que
ajuda a explicar o aumento do volume exportado de commodities, embora modesto
(1,8%)”, assinala o Ibre.

Na visão do instituto, “a piora das (exportações
de) ‘não commodities’ não é explicada apenas pela recessão na Argentina. O
Brasil enfrenta o desafio de melhorar o seu desempenho exportador das ‘não
commodities’ para os mercados asiáticos, que são os que têm registrado taxas de
crescimento mais elevadas em comparação com as outras regiões na economia
mundial”.