Remuneração dos trabalhadores recua e avança ganho dos donos do dinheiro

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 17 de novembro de 2022

A pandemia agravou as distorções em toda a economia, com intensidade especialmente mais severa no caso de Goiás, fazendo encolher a remuneração dos trabalhadores e elevando mais do que proporcionalmente os ganhos capturados pelos donos do dinheiro ao longo de 2020. Somando salários e contribuições sociais efetivas, a remuneração total do trabalho sofreu baixa de 2,3% na saída de 2019 para 2020, passando de R$ 90,8 bilhões para R$ 88,7 bilhões em valores nominais, numa perda de R$ 2,1 bilhões.

Na outra ponta, a remuneração do capital, medida pela soma do chamado “excedente operacional bruto” com “rendimentos mistos”, registrados por empregadores e trabalhadores por conta própria, aumentou de R$ 92,0 bilhões para R$ 108,6 bilhões, crescendo 18,0% entre os mesmos dois anos, o que representou um ganho de R$ 16,6 bilhões, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB).

Diante do impacto vigoroso da pandemia sobre os trabalhadores por conta própria, em tese “donos” de seu próprio negócio, a hipótese de crescimento mais expressivo dos lucros dos donos reais do capital não parece nada desprezível. Considerada essa possibilidade, uma conclusão possível sugere um avanço na concentração de riquezas no Estado, numa escala que parece mais do que proporcional em relação ao mesmo processo ocorrido no restante do País. Na média de todos os Estados, conforme as estatísticas regionais do IBGE, a remuneração do trabalho sobre o Produto Interno Bruto (PIB) recuou de 43,5% para 42,0% entre 2019 e 2020, numa perda de 1,5 pontos percentuais. A remuneração dos proprietários do capital avançou de 41,2% para 43,6% em igual comparação, correspondendo a um acréscimo de 2,4 pontos percentuais.

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Para Goiás, as perdas foram maiores para os trabalhadores, que viram sua remuneração encolher de 43,5% para 39,6% sobre o PIB, representando 3,9 pontos a menos. Na série do IBGE, esta foi a participação mais baixa desde 2012, quando a remuneração do trabalho havia representado 38,7% do PIB. A remuneração sobre o capital, ao contrário, elevou sua fatia no PIB goiano de 44,1% em 2019, já superior à média registrada em todo o País, para 48,5% no ano seguinte, refletindo um acréscimo de 4,4 pontos percentuais. Foi a participação mais elevada também desde 2012, quando aquela fatia havia alcançado 48,9%.

Balanço

  • Os lucros tiveram nitidamente melhor desempenho do que os salários durante a fase mais crítica da pandemia, mesmo com o pagamento do auxílio emergencial a milhões de famílias – despesa que não parece ter sido suficiente para colocar um freio na tendência de piora na concentração de riquezas e da renda em todo o País e igualmente em Goiás.
  • O PIB do Estado em 2020 registrou perdas relativamente menos intensas do que aquelas experimentadas em todo o País, com a geração de riquezas sofrendo baixa de 1,3%, saindo de um incremento ao redor de 2,2% em 2019. Na média brasileira, conforme já conhecido, o PIB sofreu queda de 3,3% por conta da pandemia. Diante dessa diferença de desempenho, a participação goiana no PIB de todo o País elevou-se para 2,95%, frente a 2,82% em 2019.
  • O impacto menor da crise sobre a economia goiana deveu-se em grande parte ao salto de 9,9% no volume de riquezas geradas pela agropecuária, que teve sua fatia na economia goiana elevada de 11,4% em 2019 para 14,5% em 2020. Na visão do IMB, “apesar de ter o menor peso na estrutura produtiva, a agropecuária possui grande importância decorrente de seu forte encadeamento com os demais setores econômicos”.
  • Fortemente lastreada em produtos de base agrícola, a indústria goiana anotou crescimento de 0,4%, com elevação de 0,9% para o setor de transformação. A participação da indústria como um todo na economia estadual, que havia sido de 28,3% em 2010, chegou a 23,6% em 2020, levemente acima dos 21,2% observados em 2019. O setor de serviços, mais afetado pela pandemia, encolheu 3,5% e puxou o PIB para baixo.
  • Coordenador da expedição técnica que anualmente avalia o desempenho e a evolução da pecuária de corte em todo o País, Maurício Palma Nogueira falará em Goiânia, na sexta-feira, 18, na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), sobre o cenário atual para o setor de proteínas animais e perspectivas para o mercado de carne bovina até 2030, além de temas relacionados a investimentos esperados para a pecuária no período, o balanço de carbono das propriedades rurais e projeções para preços e perspectivas para o ciclo pecuário. Será o primeiro evento presencial da edição 2022/23 do Rally da Pecuária.
  • Na visão de Nogueira, os próximos anos serão de desafios para pecuaristas e frigoríficos, considerando a escalada recente dos custos de produção, parcialmente estancada neste segundo semestre, e os custos de capital bem mais elevados, resultado da alta dos juros básicos na economia. Em sua estimativa, os custos de produção em uma fazenda comum dedicada à pecuária de corte subiram em média 12,0% ao ano nos últimos cinco anos, sob impacto mais recente da pandemia, da guerra entre Rússia e Ucrânia e de mudanças no cenário para o dólar.
  • Em uma década, prossegue Nogueira, a produtividade média da pecuária brasileira avançou a um ritmo anual de 2,3%, com ganhos ao redor de 5,7% para os segmentos acompanhados pelo Rally da Pecuária. Até o final da década, os investimentos em produtividade na pecuária tendem a crescer entre duas vezes e meia a três vezes em relação aos valores investidos entre 2011 e 2020, estimando-se um desembolso ao redor de R$ 28,0 bilhões a R$ 36,0 bilhões.