Renda das famílias reage em julho e registra aceleração em 12 meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 29 de setembro de 2023

Os dados mais recentes do Banco Central (BC), atualizados até julho, mostram que a Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNDBF) registrou reação e apresenta aceleração na comparação anual. A tendência parece refletir o ritmo muito mais contido de alta dos preços em geral e, mais especialmente, a queda nos preços da alimentação, além do aumento nos benefícios do novíssimo Bolsa Família, revisto e turbinado pelo governo. De forma complementar, os rendimentos familiares na medida mais ampla adotada pelo BC foram reforçados ainda pelo avanço real, já descontada a inflação, da massa de salários pagos aos trabalhadores, ainda que a tendência, nesta área, venha sendo de alguma desaceleração nos últimos trimestres.

No trimestre móvel terminado em julho deste ano, a renda nacional disponível das famílias atingiu R$ 614,514 bilhões, nível mais elevado na série histórica do BC, saindo de R$ 603,659 bilhões no trimestre finalizado em abril deste ano, numa variação de 1,80%. A variação injetou nos orçamentos familiares perto de R$ 10,855 bilhões, em valores atualizados com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e ajustados sazonalmente (quer dizer, desconsiderando-se fatores que se repetem nos mesmos períodos de cada ano e que podem distorcer comparações). 

Na comparação com julho do ano passado, sempre considerando as séries trimestrais, a renda familiar bruta disponível cresceu perto de 6,9%, num ganho de R$ 39,759 bilhões frente a uma renda próxima de R$ 574,755 bilhões no trimestre maio e julho de 2022. O dado sugere tendência de aceleração no ritmo de crescimento da renda disponível, que havia apresentado variação de apenas 2,9% em relação a julho de 2021, num acréscimo de R$ 16,201 bilhões. Em valores absolutos, os ganhos das famílias nos 12 meses entre julho do ano passado e o mesmo mês deste ano foram quase duas vezes e meia maiores do que aquele apresentado nos 12 meses imediatamente anteriores.

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Benefícios sociais

Como já registrado, o crescimento da renda disponível foi turbinado pelo aumento das despesas com benefícios de prestação continuada, a exemplo da renda mensal vitalícia, e dos pagamentos do Bolsa Família. Somados, aqueles benefícios atingiram em torno de R$ 65,577 bilhões no acumulado entre maio e julho deste ano, já em valores atualizados com base no IPCA, o que correspondeu a um salto de 49,2% na comparação com os mesmos três meses do ano passado, quando esse tipo de desembolso havia alcançado ao redor de R$ 43,938 bilhões. O avanço nesta área ajudou a reforçar o total dos rendimentos recebidos pelas famílias, com a entrada adicional de R$ 21,638 bilhões. Naquele mesmo período, o pagamento de benefícios previdenciários avançou de praticamente R$ 243,140 bilhões para R$ 271,335 bilhões, correspondendo a uma elevação de 11,60% em valores atualizados até agosto deste ano.

Balanço

  • Como se sabe, o conceito de renda nacional bruta disponível das famílias desenvolvido pelo BC inclui salários recebidos pelos trabalhadores, rendas geradas pelo aluguel de imóveis, juros e rendimentos líquidos de aplicações financeiras e outras formas de investimento, dividendos e lucros distribuídos pelas empresas, aposentadorias, pensões, abono e seguro desemprego, benefícios de prestação continuada, Bolsa Família e outros benefícios de assistência social. Esses valores são descontados de impostos que incidem sobre a renda e o patrimônio das famílias (a exemplo do IPTU), contribuições pagas à Previdência e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e outras transferências de renda das famílias para outras instituições e para o exterior.
  • A autoridade monetária trabalha ainda com outra variável, a renda nacional bruta disponível restrita, que exclui rendas de aluguéis, juros e rendimentos líquidos de aplicações financeiras e de outros tipos de investimentos, além da distribuição de lucros e dividendos. A partir desse conceito, é possível estimar os rendimentos relacionados àqueles setores, primordialmente associados à propriedade de imóveis e outras formas de bens patrimoniais. 
  • Nessa aproximação, o crescimento das rendas recebidas foi bem mais moderado, quando se consideram todas as outras formas de rendimento. A renda disponível em seu conceito restrito, por exemplo, avançou de R$ 445,319 bilhões para R$ 478,851 bilhões entre os trimestres encerrados em julho de 2022 e de 2023, respectivamente, numa variação real e dessazonalizada de 7,53%. A renda restrita respondeu, nos mesmos períodos e na mesma ordem, por 77,5% e 77,9% da renda bruta total – fatia que havia atingido 79,4% em julho de 2020, quando a pandemia exigiu o desembolso de recursos extraordinários para dar sustentação à renda das famílias durante a aplicação de medidas de distanciamento social adotadas para enfrentar a pandemia.
  • Os rendimentos restantes (aluguéis, dividendos, participação nos resultados de empresas, juros e outros ganhos de aplicações financeiras e investimentos) tiveram variação estimada em 4,81% pela coluna, saindo de R$ 129,436 bilhões para R$ 135,663 bilhões entre julho do ano passado e igual período deste ano (sempre considerando a média móvel trimestral). O acréscimo ficou limitado a R$ 6,227 bilhões, praticamente um sexto do ganho geral acumulado pelas famílias quando consideradas todas as demais fontes de rendimento.