“Riqueza” estacionada no cassino financeiro cresce R$ 1,242 trilhão

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 29 de julho de 2022

O total de “haveres” financeiros em poder de rentistas, incluindo bancos, empresas, investidores em geral e famílias mais abonadas, chegou a avançar 15,36% na comparação entre abril do ano passado e o mesmo mês deste ano. O crescimento, mostram os dados do Banco Central (BC), foi moderado pela retração no saldo da boa e velha caderneta de poupança, num movimento influenciado pelos efeitos da inflação sobre a renda das famílias de renda média ou proporcionalmente mais baixa, que passaram a recorrer aos saques para complementar seu orçamento e fazer frente a despesas de consumo crescentes e a gastos com dívidas, encarecidas pela arrancada dos juros.

Medida por essa ótica, a “riqueza” financeira avançou de alguma coisa abaixo de R$ 8,088 trilhões para praticamente R$ 9,330 trilhões, num incremento de R$ 1,242 trilhão. Seria como se algo ao redor de 13,7% do Produto Interno Bruto (PIB) tivesse migrado para aplicações financeiras diversas em apenas 12 meses, irrigando o cassino de juros altos no mercado financeiro e quotas em fundos de investimentos (que em geral contemplam aplicações em renda fixa e variável, ou seja, papéis remunerados pelos juros estratosféricos praticados no País ou ainda pela variação dos preços das ações em Bolsa).

A relação entre esse conjunto de “haveres” financeiros e o PIB, no entanto, recuou ligeiramente de 103,5% para 103,3% entre aqueles dois meses. Isso mesmo, raras leitoras e raros leitores. A “riqueza” estacionada no cassino financeiro supera toda a riqueza gerada pelo lado real da economia, gerando distorções em cadeia, a começar por maior concentração de renda e de riquezas num País já exaustivamente injusto. A poupança, por sua vez, teve sua fatia no PIB reduzida de 13,09% para 11,17% entre abril de 2021 e igual mês deste ano, refletindo recuo de 1,37% no saldo das cadernetas, que baixou de R$ 1,023 trilhão para R$ 1,009 trilhão, numa perda de R$ 14,004 bilhões.

Continua após a publicidade

Poupança e estrangeiros

Excluídas as cadernetas, refúgio dos recursos daquelas famílias menos abonadas, mas ainda com alguma renda sobrando para aplicações do tipo, os demais haveres financeiros registraram elevação de 17,78% naquela mesma comparação. O estoque de “riquezas”, neste caso, cresceu de R$ 7,065 trilhões para R$ 8,321 trilhões, num acréscimo de R$ 1,256 trilhão. Na comparação com o PIB, os demais haveres passaram de 90,41% para 92,10%. A relação considera o valor nominal estimado pelo BC para o PIB de abril de 2021, próximo a R$ 7,814 trilhões, e para abril deste ano, em torno de R$ 9,035 trilhões. Pessoas não residentes injetaram muito pouco recursos novos no País. O saldo desses haveres, detidos por estrangeiros aqui dentro, saiu de R$ 611,674 bilhões para R$ 616,106 bilhões, numa variação de 0,72% – movimentação nem de longe suficiente para repor a desvalorização causada pela inflação de 12,13% acumulada em 12 meses até abril deste ano.

Balanço

  • O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), aferido entre os dias 21 de junho e 20 de julho deste ano, frente às quatro semanas imediatamente anteriores, baixou para 0,21% neste mês, diante de 0,59% em junho (cobrindo o período entre 21 de maio e 20 de junho).
  • Houve algum alívio no atacado, onde os preços apresentaram variação média também de 0,21%, o que se compara com alta de 0,30% em junho, mas a redução foi mais expressiva no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), um dos componentes do IGP-M, com peso de 30% no cálculo do indicador geral. Neste caso, a taxa positiva de 0,71% observada em junho abriu espaço para uma redução média de 0,28% para o conjunto dos preços pagos pelo consumidor.
  • A exemplo da tendência mais recente capturada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda do IPC foi influenciada sobretudo pela redução do custo da energia elétrica e pela queda nos preços da gasolina e do etanol. A tarifa residencial, no primeiro caso, já havia apresentado recuo de 0,34% em junho e caiu 3,11% em julho, de acordo com a FGV.
  • Os preços da gasolina, que haviam anotado recuo de 0,19% em junho, baixaram 7,26% neste mês, ainda sem contabilizar as duas reduções mais recentes nos preços cobrados pela Petrobrás das refinarias (que devem chegar ao consumidor nas próximas semanas). Em plena colheita da safra 2022/23 de cana, com consequente aumento na oferta do combustível, o etanol ficou 9,41% mais barato, depois de ter baixado 6,25% em junho.
  • A volatilidade nos preços das passagens aéreas agora passou a contribuir para reduzir pressões de alta, já que as tarifas no setor baixaram 5,20% depois de terem saltado 13,40% em junho.
  • Mas os custos da alimentação continuam pesando, com alta de 1,47% em julho, frente a 0,74% no mês imediatamente anterior. As despesas nesta área subiram 9,20% no primeiro semestre e acumulam salto de 14,49% em 12 meses. Em julho, especificamente, os preços do leite longa vida, mamão papaia e queijo mozarela experimentaram saltos de 21,83%, de 21,20% e de 8,46% – os três itens registraram aceleração em relação a junho, quando o leite havia subido 6,13% e o queijo 5,04%. O mamão, ao contrário, chegou a ficar 6,65% mais barato no mês passado. O custo das refeições fora de casa, da mesma forma, subiu 0,89% em julho.
  • No atacado, os preços do óleo diesel quase dobraram a velocidade de alta entre junho e julho, saindo de um aumento de 6,96% para um salto de 12,68%. Esses aumentos tenderão a influir nos custos enfrentados pelo consumidor mais adiante, causando encarecimento das despesas logísticas em todo o País, o que significará que produtores, tradings e embarcadores terão que pagar mais caro para transportar suas cargas até os mercados de destino.