Rombo externo cai 32% em fevereiro e acumula queda de 12,2% no ano

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de março de 2023

Com números em baixa em todos os fatores que compõem a conta de transações correntes, o déficit externo brasileiro sofreu tombo de 32,25% em fevereiro deste ano, frente ao mesmo mês do ano passado, despencando de US$ 4,155 bilhões para US$ 2,815 bilhões, numa redução de quase US$ 1,340 bilhão. No primeiro bimestre deste ano, o rombo atingiu US$ 11,897 bilhões, o que correspondeu a uma redução de 12,21% em relação ao déficit de US$ 13,551 bilhões, representando US$ 1,654 bilhão a menos.

Uma fatia importante da retração observada em fevereiro veio da redução de 33,51% nas transferências de renda primária para fora do País, que baixaram de US$ 5,166 bilhões para US$ 3,435 bilhões. Essa conta reúne as remessas de lucros e dividendos auferidos aqui dentro por empresas estrangeiras para suas matrizes lá fora, e o pagamento de juros ao exterior. No primeiro caso, as remessas sofreram queda de 28,6%, saindo de US$ 2,933 bilhões em fevereiro do ano passado para US$ 2,094 bilhões no mesmo mês deste ano, numa redução de US$ 838,954 milhões. O gasto com juros, por sua vez, desabou 39,55% na mesma comparação, encolhendo de US$ 2,242 bilhões para US$ 1,355 bilhão (ou seja, US$ 886,816 milhões a menos).

As despesas com serviços, que vão desde o pagamento de fretes e gastos com viagens internacionais até remessas para fazer frente a royalties e pagamento de direitos de propriedade intelectual, saíram de US$ 2,801 bilhões em fevereiro do ano passado para US$ 2,029 bilhões, em baixa de 27,56% (US$ 772,189 milhões a menos). O recuo esteve relacionado, entre outros fatores, a uma regularização dos sistemas logísticos globais, com normalização da oferta de navios e contêineres e alguma baixa nos custos de frete. As despesas com transportes encolheram 31,57% entre fevereiro de 2022 e o mesmo mês deste ano, baixando de US$ 1,383 bilhão para US$ 946,355 milhões, numa “economia” para o País de US$ 436,617 milhões apenas em um mês.

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Venda de serviços

Praticamente 56,5% da queda nas despesas com serviços, portanto, vieram do segmento de transportes. Mas a venda de “outros serviços de negócio”, na classificação do Banco Central (BC), trouxe contribuição igualmente relevante. As receitas nesta área, que inclui os setores de serviços de engenharia duramente atingidos pela operação Lava Jato, saltaram nada menos do que 66,1% em relação a fevereiro do ano passado, subindo de US$ 532,782 milhões para US$ 884,955 milhões (quer dizer, US$ 352,173 milhões a mais). Foi o melhor resultado para um mês de fevereiro deste 2015, quando as receitas haviam somado US$ 877,834 milhões, e o mais alto, no geral, desde maio de 2017. Naquele mês, as receitas haviam alcançado US$ 900,103 milhões. Essa categoria, de acordo com o BC, inclui as vendas de serviços de pesquisa e desenvolvimento, serviços jurídicos, de publicidade, engenharia e arquitetura, serviços de limpeza e de despoluição.

Balanço

  • Além dos fatores já mencionados, o saldo entre exportações e importações de bens experimentou um tombo de 29,44%, baixando de US$ 3,555 bilhões para US$ 2,509 milhões (US$ 1,047 bilhão a menos), determinado por uma queda mais intensa nas vendas externas (em baixa de 9,0%) do que na ponta das importações (redução de 5,4%). A redução no saldo comercial reduziu o impacto gerado pelas despesas menores com serviços e pela redução das remessas de lucros, dividendos e juros.
  • No primeiro bimestre deste ano, a redução do déficit na conta de transações correntes, que cobre a balança comercial (exportações menos importações) de bens e mercadorias, despesas e receitas de serviços, remessas de lucros e dividendos e pagamento de juros, foi influenciado – agora positivamente – pelo incremento de 53,88% do saldo comercial, que avançou de US$ 2,201 bilhões para US$ 3,386 bilhões (US$ 1,186 bilhão a mais).
  • Os gastos com serviços, da mesma forma, contribuíram de forma positiva, com redução de 19,75% frente aos valores acumulados nos dois primeiros meses do ano passado, reduzidos de US$ 5,366 bilhões para US$ 4,306 bilhões, quer dizer, praticamente US$ 1,060 bilhão a menos.
  • Nessa comparação, os mesmos dois segmentos explicam quase todo o “ganho” (considerando que a redução de despesas corresponde a menos dólares enviados para fora do País): menores gastos com transportes e maiores receitas com “outros serviços”. Os pagamentos destinados a cobrir despesas com transportes baixaram de US$ 2,915 bilhões para US$ 2,244 bilhões, numa redução de 23,03%. O gasto com fretes, especificamente, caiu de US$ 2,569 bilhões para US$ 1,774 bilhão, numa retração de 30,95%.
  • Nas remessas de renda, que subiram levemente, de US$ 10,903 bilhões para US$ 11,199 bilhões, numa elevação de 2,71%, houve queda de 15,75% nas despesas com juros, saindo de quase US$ 5,510 bilhões para US$ 4,641 bilhões. Mas as remessas de lucros e dividendos aumentaram de US$ 5,411 bilhões para US$ 6,594 bilhões, crescendo 21,86% (US$ 1,183 bilhão a mais).
  • Os investimentos estrangeiros no Brasil, em fevereiro deste ano, desabaram 40,23% em relação ao mesmo mês do ano passado, caindo de US$ 10,793 bilhões para US$ 6,451 bilhões, acumulando redução de 16,17% no primeiro bimestre (passando de US$ 15,898 bilhões para US$ 13,328 bilhões, correspondendo a uma redução de US$ 2,570 bilhões). Em março, o BC registra alguma reação, com o investimento atingindo perto de US$ 9,028 bilhões até o dia 22. O valor já supera em 31,3% o investimento realizado nos 31 dias de março do ano passado, quando haviam somado US$ 6,875 bilhões.