Salto na tarifa de energia explica perto de 29,5% do IPCA-15 de julho

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 24 de julho de 2021
Brasília – O consumo de energia elétrica no país fechou os primeiros três meses do ano com queda acumulada de 4,2% em relação ao mesmo período do ano passado (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A alta da tarifa da energia residencial respondeu, isoladamente, por algo em torno de 29,5% da inflação registrada entre as duas semanas finais de junho e a primeira quinzena deste mês, segundo dados divulgados na sexta-feira, 23, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos 30 dias de junho, a contribuição da energia na formação do custo de vida dos brasileiros havia sido de 16,3%. A revisão desde 1º de julho dos valores embutidos na chamada “bandeira tarifária vermelha”, já em seu nível dois, tenderá a puxar ainda mais a inflação esperada para as quatro semanas de julho e, neste caso, a alta dos juros básicos pelo Banco Central (BC) tende a ter um efeito praticamente nulo, mas atuará para desaquecer ainda mais a demanda numa tentativa de conter o que a autoridade monetária classifica como “efeitos de segunda ordem” sobre os indicadores inflacionários causados pelo encarecimento da energia.

Como se recorda, a “bandeira tarifária” subiu 51,56% desde o primeiro dia de julho, num verdadeiro “tarifaço disfarçado” aplicado pelo governo para evitar a adoção de medidas mais drásticas para desestimular o consumo de energia e evitar um apagão no sistema elétrico. O valor adicional imposto pela “bandeira vermelha” sobre as tarifas da energia residencial saltou de R$ 6,243 para R$ 9,492 a cada 100 quilowatts/hora consumidos. A taxa de variação da tarifa saiu de 1,95% em junho, considerando as quatro semanas do mês passado, para 4,79% no período de 30 dias finalizado em 13 de julho, ou seja, uma elevação de 2,84 pontos de porcentagem em apenas duas semanas.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de julho, desta forma, atingiu 0,72%, saindo de uma taxa mensal de 0,53% em junho. O IPCA chegou a anotar recuo na quinzena final do mês passado, lembrando que o IPCA-15 de junho, medido entre os dias 14 de maio e 14 do mês seguinte, havia alcançado 0,83%. A comparação entre o IPCA-15 de junho e o de julho sugere uma desaceleração enganosa, portanto, já que o ritmo de alta dos preços voltou a ganhar fôlego nas primeiras duas semanas de julho, sob influência, além da energia, também dos aumentos nos preços da gasolina, do gás de cozinha, carnes e pão francês.

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Impacto dos planos de saúde

Como compensação, não suficiente para compensar as demais altas, as prestações dos planos de saúde sofreram baixa de 1,36% até a segunda semana de julho, refletindo a redução de 8,19% determinada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) desde 8 de julho, mas retroativo a a maio deste ano e com vigência até abril de 2022. “Desse modo, no IPCA-15 de julho foram apropriadas as frações mensais relativas aos meses de maio, junho e julho”, anota o IBGE. Excluído os efeitos dessa redução sobre o IPCA, a inflação teria avançado de 0,50% em junho para 0,77% nos 30 dias terminados em 13 de julho.

Balanço

  • A possibilidade de novos aumentos extraordinários nas tarifas de energia ainda não pode ser descartada, diante da crise hídrica enfrentada pelo País. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), até ontem, 23, os níveis dos reservatórios nas regiões Sudeste e Centro-Oeste correspondiam a 27,05% da capacidade máxima, correspondendo a um volume de 40,229 megawatts/hora de energia armazenada.
  • No mesmo período do ano passado, aqueles reservatórios apresentavam níveis equivalentes a 48,07% de sua capacidade, acumulando em torno de 71,480 MWh. Em julho deste ano, portanto, o volume de energia armazenada havia desabado 43,7%. Proporcionalmente, o nível de água nas represas das duas regiões se aproximava daquele registrado em julho de 2001, quando haviam baixado para 26,85%, apenas um mês depois de decretado o racionamento de energia naquele ano.
  • Mais da metade do IPCA-15 de julho deveu-se aos aumentos registrados nos preços da energia, gás, passagens aéreas e combustíveis, com destaque para a gasolina. Mais precisamente, a influência daquele grupo de produtos sobre o índice chegou a 56,0%, diante de 33,1% nas quatro semanas de junho. Excluídos aqueles itens, os demais bens e serviços registraram variação de quase 0,32%, ligeiramente abaixo da taxa de 0,35% registrada no IPCA de junho.
  • Depois da energia, a segunda maior influência veio das passagens aéreas, que saltaram 35,64% nas quatro semanas finalizadas em 13 de julho, saindo de uma redução de 5,57% nos 30 dias de junho. O salto resultou em um impacto de 15,8% sobre o IPCA-15 deste mês.
  • No acumulado do ano até 13 de julho, os aumentos nos preços da gasolina (27,08%), etanol (32,29%), diesel (26,21%), gás de botijão (19,43%), gás encanado (14,69%) e energia (10,54%) explicam 54,48% do IPCA de 4,88% registrado no período. As passagens aéreas, a despeito do aumento mais recente, ficaram 26,51% mais baratas. Em 12 meses, gasolina, etanol e diesel subiram, pela ordem, 40,32%, 49,08% e 30,24%, com saltos de 42,1% para as passagens aéreas, de 26,3% para o botijão de gás, de 16,95% para a energia e 13,88% para o gás encanado. Esse conjunto de produtos contribuiu em 47,9% na composição do IPCA, que acumulou alta de 8,59% no mesmo período.
  • De acordo com o Itaú BBA, o IPCA-15 de julho veio acima das previsões do banco (0,64%) e também superior à taxa mediana esperada pelos mercados (0,65%). A projeção preliminar para a inflação de julho passou a 1,01%, com previsões de 0,34% para agosto e de 0,35% em setembro. No primeiro caso, se confirmada a previsão, o índice tenderia a superar a taxa de agosto do ano passado (0,24%), mas fiaria abaixo da inflação de setembro daquele ano (0,64%). “A pressão no curto prazo é explicada pela aceleração em preços administrados, destacadamente (por conta da) energia elétrica”, avalia a instituição.