Salto nos custos da educação explica metade do IPCA-15

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 25 de fevereiro de 2023

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de fevereiro, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre os dias 13 de janeiro a 10 de fevereiro deste ano, ficou aproximadamente dentro das expectativas, embora tenha apresentado elevação na comparação com as quatro semanas do mês passado e mesmo em relação ao IPCA-15 de janeiro, aferido entre a segunda quinzena de dezembro e as duas primeiras semanas deste ano. A alta em questão deveu-se exclusivamente aos gastos com educação, pressionados todo começo de ano pelo aumento das matrículas, por reajustes de mensalidades escolares e ainda pelas despesas com material didático, artigos de papelaria e uniformes.

Nas quatro semanas encerradas em 10 de fevereiro, o IPCA-15 atingiu 0,76% diante de taxas de 0,53% nos 30 dias de janeiro e de 0,55% na quadrissemana finalizada na primeira metade do mês passado. O índice de variação dos gastos com educação, que vinha se mantendo numa faixa mensal de 0,36% em janeiro, saltou para 6,41% na taxa mensal medida até dia 10 deste mês. A contribuição do setor na composição do IPCA-15 chegou a pouco mais de 0,36 pontos percentuais, correspondendo a qualquer coisa acima de 48,0%. Quando incluídas as despesas com uniformes e transporte escolar, aquela contribuição supera ligeiramente a faixa de 48,7%.

Excluído o grupo educação ou, dito de outra forma, caso sua família, rara leitora e raro leitor, não tenha registrado despesas nesta área, a inflação nos demais setores da economia teria anotado até mesmo um ligeiro recuo, baixando de 0,51% nas quatro semanas de janeiro para 0,39% nos 30 dias terminados no dia 10 de fevereiro, uma sexta-feira. A queda, neste caso, pode ser explicada principalmente pela forte desaceleração observada para o ritmo de variação dos preços dos alimentos, que saíram de 0,59% em janeiro para 0,39% na quadrissemana encerrada naquela mesma sexta-feira. A alimentação, que havia contribuído com 24,3% na formação do IPCA de janeiro, passou a representar 11,2% no cálculo do IPCA-15 deste mês.

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“Desinflação” dos alimentos

A menor intensidade de variação dos preços dos alimentos, portanto, foi fundamental para explicar como a taxa geral do IPCA ficou mais baixa do que aquela registrada no mesmo período do ano passado, quando as despesas com educação chegaram a subir até um pouco menos do que neste ano. Para comparação, o IPCA-15 de fevereiro do ano passado havia alcançado 0,99%, sob influência da alta de 5,64% nos gastos com educação (o que se compara com o índice geral de 0,76% observado neste ano e com o aumento de 6,41% no grupo educação). A diferença está na inflação dos alimentos, que havia alcançado 1,20% nos 30 dias terminados ao final da primeira quinzena de fevereiro de 2022 e passou a anotar variação de 0,39% nas mesmas quatro semanas deste ano. O item educação, que havia respondido por 32% do IPCA-15 de fevereiro do ano passado, teve sua contribuição elevada para 48%, conforme já mencionado, enquanto a “influência” dos preços dos alimentos saiu de praticamente 25% há um ano para 11,2% na medição mais recente.

Balanço

  • No acumulado em 12 meses, o IPCA-15 atingiu 5,63% em fevereiro deste ano, frente a um índice de 5,77% registrado pelo IPCA “cheio” de janeiro. A redução deve-se à “saída” da taxa de 0,99% registrada há um ano e à “entrada” do IPCA-15 mais baixo registrado em fevereiro deste ano.
  • Segundo acompanhamento feito pelo Itaú BBA, considerando a taxa de variação mês a mês, a “dinâmica da inflação subjacente” (quer dizer, descontadas pressões de alta ou de queda temporárias ou meramente circunstanciais, a exemplo do salto nos custos da educação) tem se mostrado favorável. A taxa de variação média dos chamados “núcleos” da inflação, que desconsidera preços mais voláteis e aumentos ou quedas mais acentuadas, no acumulado em 12 meses, saiu de 10,77% em agosto do ano passado para 8,80% em fevereiro deste ano.
  • A tendência de melhora no índice inflacionário do IBGE, no entanto, não parece ter entusiasmado a equipe de macroeconomistas do banco, que projeta um IPCA de nada menos do que 6,3% para este ano e de 4,2% em 2024. Para comparação, o IPCA de 2022 havia estacionado em 5,79%.
  • No curto prazo, a tendência é de menor pressão sobre os preços em geral em função de uma previsível redução nas taxas de variação dos custos da educação, como ocorre sazonalmente. Por uma questão de diferenças metodológicas, embora essa tendência ainda não tenha sido captada pelo IBGE, o movimento já pode ser percebido em outros indicadores.
  • O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), chegou a anotar variação de 0,8% nas quatro semanas de janeiro, com elevação de 3,28% nos preços da educação (como se percebe, um nível bem abaixo da variação identificada pelo IBGE). De toda forma, nas quatro semanas encerradas no dia 22 de fevereiro, a “inflação” já havia encolhido para 0,29% no setor de educação, contribuindo para reduzir o IPC-S para 0,41%.
  • Houve contribuição positiva igualmente do grupo alimentação, que saiu de uma taxa de 0,48% em janeiro para apenas 0,03% nos 30 dias encerados em 22 de fevereiro.
  • Comportamentos semelhantes tendem a contribuir para esvaziar pressões de alta também sobre o índice do IBGE daqui para frente. Nos dois casos – educação e alimentos –, a relação entre preços mais comportados e a política de juros altos é quase nenhuma, já que os aumentos de preços e agora o esvaziamento da tendência altista naqueles setores não parecem relacionados a flutuações eventuais da demanda.
  • O aumento nos custos do crédito, no entanto, parece contaminar outro setor, ainda que estimulando tendência no sentido inverso à pretendida. Os preços médios dos aluguéis residenciais saíram de uma taxa quase nula de variação em janeiro (0,02%) para 0,89% nas duas primeiras semanas de fevereiro (considerando sempre a taxa mensal de variação), reflexo, em parte, do encarecimento do crédito habitacional. O aumento dos aluguéis em fevereiro explicou 4,4% do IPCA-15 deste mês frente a 0,1% em janeiro.