Seca drástica no Norte coloca exportações de milho sob risco

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de outubro de 2023

A ocorrência de um El Niño mais forte simultaneamente ao aquecimento das águas do Atlântico Norte, com consequências agravadas pelas mudanças globais no clima, tornou muito mais dramática a seca que atinge duramente o Norte do País, levando os rios da Bacia Amazônica a enfrentar níveis históricos de baixa. O cenário, desenhado pela Consultoria Agro do Itaú BBA, poderá colocar sob risco as exportações de milho pelos portos do chamado Arco Norte, localizados acima do Paralelo 16 – o que inclui terminais públicos e privados em Santarém, Barcarena, Manaus, São Luís, Belém, Salvador, Ilhéus, além de terminais de transbordo na região de Itaituba (PA), onde se localiza o distrito de Miritituba, às margens do Tapajós, ponto final dos caminhões que transportam grãos produzidos em Mato Grosso. Dali, as cargas seguem em barcaças com destino ao porto de Santarém, partindo na sequência rumo ao mercado internacional em navios cargueiros de grande porte.

Segundo a consultoria, “a preocupação agora é que o baixo nível dos rios possa prejudicar a navegabilidade e as exportações de grãos, sobretudo o escoamento da segunda safra de milho, cujas exportações seguem em ritmo acelerado”. Os piores efeitos da seca, prossegue o relatório divulgado na semana que se encerra, “estão concentrados próximos a Manaus, porém, a cada semana, os rios Tapajós e Madeira [principais vias de escoamento da produção mato-grossense] registram diminuição dos níveis”. Em períodos normais, durante a estação mais seca do ano, as barcaças que trafegam por aquelas vias “operam com dois terços da capacidade”. Mas, neste momento, “os comboios de barcaças começaram a operar com metade da capacidade para evitar problemas de navegabilidade”.

A consultoria observa que, pelo menos até setembro, os dados sobre as exportações pelo Arco Norte ainda não pareciam ter sido afetados pela seca. Mas, acrescenta o banco, “a movimentação do milho começou a ser feita também por caminhões até os terminais fluviais (…) a um custo mais elevado”. Em outubro, os dados sobre escalas de embarques passaram a mostrar o que parece ser uma migração de cargas do Norte do País para o Sul, “principalmente para o porto de Santos, o que deve se refletir em aumento do tempo de espera no porto”, além de um “possível encarecimento do frete” ao longo da rota até a região portuária paulista, com esperado impacto negativo sobre os prêmios de exportação.

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Cronograma apertado

Mas a preocupação, destaca a consultoria do banco, diz respeito aos efeitos da situação climática, que já tem gerado uma situação humanitária grave na região amazônica, sobre o “programa de exportação de milho”. As previsões sugerem que o Brasil poderá exportar algo entre 52,0 milhões a 57,0 milhões de toneladas do grão no ano comercial que se encerra em janeiro de 2024, superando os Estados Unidos (que produz praticamente três vezes mais milho do que o País). Até setembro, haviam sido embarcados em torno de 28,0 milhões de toneladas, com dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) sugerindo a exportações de mais 9,0 milhões de toneladas em outubro. A se confirmar o número, o total subiria para 37,0 milhões de toneladas, restando 20,0 milhões para embarque no trimestre entre novembro e janeiro, o que exigirá a plena operação dos portos do Arco Norte num momento em que as projeções indicam chuvas abaixo do normal para a região nos próximos meses. Para reforçar, a consultoria mostra que os terminais portuários da região respondem pelo escoamento de 45% do milho exportado pelo País, diante de apenas 7,0% em 2012.

Balanço

  • Primeiro banco digital dedicado exclusivamente a pessoas jurídicas, com uma plataforma comercial instalada no Centro-Oeste desde maio deste ano e sediada em Goiânia, o BS2 trabalha em parceria com agrotechs no desenvolvimento de um produto inovador destinado ao segmento de revenda de insumos agropecuários, adianta Jean Jorge da Silva Araújo, superintendente comercial do banco na região. A formatação do novo produto, que utilizará recebíveis do setor como lastro, está sendo finalizada e seu lançamento está previsto para o verão de 2024, a tempo de cobrir a fase final da safra em curso. A intenção, prossegue Araújo, é que a solução esteja integralmente disponível para o ciclo 2024/25.
  • A utilização intensiva de tecnologias de monitoramento dos plantios por imagens de satélite, aposta o superintendente, deverá reduzir os riscos da operação e abrir espaço para que as revendas façam um uso mais robusto dos recebíveis, capturando uma parcela mais significativa do seu potencial de captação de recursos. O sistema em desenvolvimento permitirá o acompanhamento de todas as fases da lavoura, identificando se o produtor realizou o plantio na janela agronomicamente correta e acompanhando os índices de crescimento das plantações e o desenvolvimento da produtividade em tempo real. Dessa forma, prossegue Araújo, o banco terá maior segurança na gestão dos recebíveis e poderá oferecer ao cliente um produto que atenda melhor a suas necessidades de recursos.
  • Com uma história iniciada há mais de três décadas, ainda como Banco Bonsucesso, com sede em Belo Horizonte, o BS2 imprimiu novos rumos ao negócio há dois anos, quando passou a focar especificamente o chamado “middle market”, criando soluções digitais completas para pequenas e médias empresas, envolvendo operações de crédito, câmbio, seguros, gestão de caixa, antecipação de recebíveis, capital de giro, investimentos, gestão de ativos, pagamento e cobrança.
  • O braço implantado há quase seis meses no Centro-Oeste já acumula uma carteira com 30 grupos e pretende fechar o ano com R$ 150,0 milhões em operações na região, dos quais 90% originados pelo agronegócio e principalmente em operações com Cédula de Produto Rural (CPR), com lastro em recursos da tesouraria do próprio banco. Conforme Araújo, Goiás responde atualmente por 45% da carteira, com 30% e 25% distribuídos, respectivamente, entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os planos para 2024 incluem praticamente dobrar o time de executivos e especialistas de apoio às operações do banco na região, o que deverá elevar o total de profissionais para algo entre dez a 12 pessoas.