Quinta-feira, 28 de março de 2024

Segundo trimestre começa com sinais de baixo desempenho para a indústria

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 19 de maio de 2022

Depois de cambalear ao longo do primeiro trimestre do ano, a indústria aparentemente teria mantido o ritmo trôpego em abril, conforme sugerem indicadores divulgados até o momento. A produção, vendas domésticas e o consumo aparente de aço experimentaram queda na comparação com o mesmo mês do ano passado e recuaram também frente a março deste ano, segundo dados do Instituto Aço Brasil, que representa o setor siderúrgico. Na mesma linha, a produção de veículos registrou nova baixa no mês, mantendo níveis historicamente reduzidos, conforme estatísticas recentemente divulgadas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

No mês passado, a produção de aço bruto sofreu baixa de 2,2% em relação a março, saindo de 2,988 milhões para 2,923 milhões de toneladas, e caiu 3,8% frente a abril do ano passado, quando as siderúrgicas haviam processado em torno de 3,037 milhões de toneladas. Entre janeiro e abril, a produção atingiu 11,553 milhões de toneladas neste ano, o que se compara com 11,729 milhões no mesmo intervalo de 2021, demonstrando um recuo de 1,5%. As vendas no mercado interno, por sua vez, anotaram queda de 4,9% na passagem de março para abril e encolheram 8,6% na comparação com abril de 2021, limitadas a 1,762 milhão de toneladas. Em março deste ano e em abril do ano passado, a indústria do setor havia vendido, respectivamente, 1,852 milhão e 1,927 milhão de toneladas. No quadrimestre, as vendas neste ano somaram 6,648 milhões de toneladas, despencando 15,0% diante de 7,823 milhões de toneladas vendidas entre janeiro e abril do ano passado.

O consumo aparente de aço, que soma os volumes vendidos aqui dentro com as importações, deduzidas das exportações de aço, continuou murchando, com queda de 5,3% na saída de março para abril, passando de 2,097 milhões para 1,986 milhão de toneladas, o que significou, por sua vez, baixa de 10,3% na comparação com abril do ano passado, quando o mercado havia consumido 2,215 milhões de toneladas. Em consequência, os dados do primeiro quadrimestre, igualmente comparado ao mesmo período de 2021, mostram um retrocesso de 14,2% no consumo aparente, saindo de 8,980 milhões para 7,701 milhões de toneladas.

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Importações ladeira abaixo

Além da queda nas vendas domésticas, as importações de aço bruto embicaram para baixo, reforçando a impressão de uma demanda ainda muito enfraquecida no setor industrial e, em consequência, no conjunto da economia. A indústria do setor importou apenas 223,0 mil toneladas de aços laminados e semiacabados em abril deste ano, num retrocesso de 37,4% diante de 356,0 mil toneladas em igual mês do ano passado. Nos quatro meses iniciais de 2021 e de 2022, pela ordem, foram importadas 1,417 milhão e 1,059 milhão de toneladas, correspondendo a uma retração de 25,3%. A alta das exportações, até aqui, não parece ter sido suficiente para compensar a retração das vendas, como mostram os dados da produção. De toda forma, as vendas externas de produtos siderúrgicos saltaram 42,9% em abril deste ano, para 1,186 milhão de toneladas, diante de 830,0 mil toneladas no mesmo mês de 2021. No quadrimestre, as exportações avançaram 32,7% (de 3,514 milhões para 4,663 milhões de toneladas).

Balanço

  • Os problemas e gargalos enfrentados pelas montadoras de veículos ainda em operação no Brasil explicam em parte o desempenho das siderúrgicas, embora o insumo seja consumido por setores mais amplos da indústria, como fabricantes de produtos da chamada linha branca (geladeiras, freezers e outros), eletroeletrônicos, outros equipamentos de transportes, máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos mecânicos e elétricos, entre outros.
  • Divulgados no começo deste mês, os dados da Anfavea para abril vieram também negativos, a despeito de ligeira variação de março para abril, quando a produção oscilou 0,4% ao passar de 184,786 mil para 185,449 mil unidades. Mas, na comparação com os 190,907 mil veículos montados em abril do ano passado, a produção caiu 2,9%, passando a acumular perdas de 13,6% no quadrimestre. Para comparação, a indústria de veículos chegou a montar 788,68 mil unidades nos quatro primeiros meses do ano passado, mas concluiu a montagem de 681,587 mil em igual período deste ano.
  • Não deverá surpreender, portanto, caso os dados da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a produção industrial apontarem mais uma derrapada do setor como um todo em abril. A conferir.
  • Os números da inflação começaram a ceder em maio, embora em um ritmo ligeiramente acima das expectativas iniciais dos mercados. Mas o frio intenso e geadas ao longo da semana poderão afetar negativamente a produção e, portanto, os preços de verduras e folhas, atingindo igualmente a produção de leite, o que poderá reforçar as pressões altistas no curtíssimo prazo.
  • Até meados do mês, de toda forma, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), desacelerou de 1,84% nos 30 dias encerrados em 15 de abril para 0,41% nas quatro semanas terminadas em 15 de maio, saindo de 0,83% até a primeira semana deste mês. A principal influência, embora não a única, veio das tarifas de energia, com a volta da bandeira verde, o que resultou numa queda de 15,45% até 15 de maio (frente a redução de 10,78% nos 30 dias terminados no dia 7 do mesmo mês).
  • As despesas com habitação passaram a anotar queda de 2,98%, diante de uma redução de 0,69% nas quatro semanas de abril. Os gastos com alimentação registraram desaceleração, saindo de 1,97% até 15 de abril para 1,59% nas quatro semanas terminadas no dia 7 de maio e daí para 1,19% até 15 deste mês. Como já ressaltado acima, a melhora relativa na tendência observada para os preços dos alimentos pode ser revertida pelo clima muito mais frio nos últimos dias, o que poderá afetar os índices inflacionários nas próximas semanas. A entrada da safra de grãos, no entanto, poderá suavizar o ciclo esperado de altas para hortifrútis.