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domingo, 14 de dezembro de 2025

Serviços desaceleram, mas inflação no setor segue ritmo mais acelerado

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 14 de dezembro de 2025
Serviços
Foto: Divulgação

O setor de serviços tem registrado, neste ano, ritmo menos intenso do que em 2024, com taxas de crescimento menos exuberantes, e tende a encerrar o exercício em curso com avanço ligeiramente mais modesto do que nos dois anos anteriores. Ainda assim, a taxa de inflação no setor, aferida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem alcançado níveis discretamente acima daqueles observados no ano passado.

A explicação talvez esteja no desempenho de segmentos ligados a serviços de tecnologia e informação, que têm preservado forte elevação, além dos transportes aéreos — hipótese que ainda precisa ser testada por estudos mais aprofundados.

O dado concreto é que a intensidade do processo inflacionário no setor parece seguir determinantes distintos dos resultados agregados da atividade de serviços. Isso cria um complicador adicional para a política monetária, já que os juros absurdamente elevados aparentam ter pouca ou quase nenhuma influência sobre o comportamento dos preços nessa área.

A política de juros, de certa forma, assume papel menos decisivo no controle da inflação, atuando mais como mecanismo de atração de dólares da especulação global para o Brasil. Esse movimento contribui para segurar o câmbio — ou seja, a cotação da moeda norte-americana —, barateando bens importados e ajudando a conter os preços de mercadorias e produtos exportados pelo País. O “trabalho” efetivo contra a inflação, sob esse ponto de vista, deve ser creditado principalmente ao dólar mais barato.

Freio secundário

Evidentemente, os juros nas nuvens afetam negativamente as decisões de investimento das empresas por dois caminhos. Primeiro, ao tornar mais caro o crédito destinado a financiar novos projetos, a expansão de fábricas e a instalação de novas unidades. Segundo, ao tornar financeiramente mais atrativa a aplicação de sobras de caixa no grande cassino brasileiro de juros altos.

No caso das famílias mais endividadas, o impacto ocorre na forma de restrição ao consumo, diante do maior comprometimento da renda com o pagamento de juros, prestações de crediário e cartões de crédito. A desaceleração dos investimentos empresariais e do consumo das famílias afeta a chamada “demanda agregada”, esfriando a atividade econômica por caminhos indiretos e funcionando como um segundo desestímulo à alta de preços.

Balanço

No caso dos serviços, o “efeito câmbio” praticamente não se aplica, já que, por definição, serviços não se enquadram na categoria dos bens “transacionáveis”. Em termos mais claros, a maior entrada de dólares na economia não contribui para segurar os preços nesse setor, que depende pouco de exportações e importações na maioria de seus segmentos.

O desempenho dos serviços está mais relacionado ao comportamento da renda das famílias, que também tem apresentado desaceleração recente, conforme dados do Banco Central (BC). A renda nacional bruta disponível das famílias — conceito que inclui salários, aluguéis, transferências governamentais, ganhos financeiros e outras formas de rendimento, descontados impostos e contribuições — chegou a crescer 6,64% em termos reais em 2023, já descontada a inflação e com ajustes sazonais.

Em 2024, essa renda avançou 5,95% e, nos 12 meses encerrados em outubro deste ano, segundo dado mais recente divulgado pelo BC, passou a subir 3,90%. Trata-se da menor variação desde a queda real de 2,84% registrada em 2021, no período pós-pandemia, quando houve cortes nas políticas públicas de transferência de renda para as famílias mais pobres.

Também na série acumulada em 12 meses do IBGE, os serviços apresentaram salto de 10,9% em 2021, após retração de 7,8% em 2020, ano marcado pelas medidas mais severas de distanciamento social. O ritmo desacelerou nos períodos seguintes, com avanços de 8,3% em 2022 e 2,9% em 2023, seguido de modesta aceleração em 2024, quando o setor cresceu 3,2%. Nos 12 meses até outubro deste ano, observa-se novo desaquecimento, com alta de 2,8%.

A inflação dos serviços, também medida pelo IBGE, ilustra esse descompasso. Em 2018, por exemplo, a inflação do setor atingiu 3,36%, mesmo sem crescimento da atividade. Em 2020, ano mais crítico da pandemia, a atividade despencou 7,8%, mas a inflação ainda alcançou 1,73%, cerca de metade da taxa registrada em 2019 (3,50%), permanecendo, ainda assim, em terreno positivo.

O ritmo de alta dos preços dos serviços atingiu recorde em 2022, chegando a 7,58% — cerca de 2,83 pontos percentuais acima da inflação de 2021, que foi de 4,75% —, mesmo com desaceleração do crescimento da atividade, que passou de 10,9% para 8,3%. Já em 2024, com expansão de 3,2% no setor, a inflação recuou para 4,78%, o menor nível em três anos.

Nos 12 meses encerrados em outubro deste ano, apesar do crescimento ainda mais moderado da atividade, a inflação dos serviços voltou a subir, alcançando 6,20%, com leve recuo para 5,96% na medição de novembro, também no acumulado em 12 meses.

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