Sete bens primários concentram 88,5% de toda exportação da indústria goiana

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 19 de julho de 2023

O perfil das exportações da indústria goiana de transformação parece confirmar a capacidade reduzida do setor de produzir bens de maior valor agregado e alto conteúdo tecnológico, reafirmando ainda a dependência elevada do setor em relação ao processamento de produtos de base agropecuária e mineral. Essa concentração deixa o setor mais vulnerável às oscilações conjunturais e a mudanças de tendência no mercado internacional de grãos, carnes e minérios, o que explica o desempenho negativo das exportações do setor ao longo da primeira metade do ano.

Essa sensibilidade às flutuações naturalmente observadas no comércio global ganha maior expressão quando se considera que apenas sete categorias de bens ou itens passaram a representar 88,51% das vendas externas da indústria, frente a uma participação d 85,62% no ano passado. Esse grupo seleto de produtos inclui farelo e óleo de soja, carnes (bovina, suína, aves e miúdos), ferroligas, açúcar, ouro e álcool. Em conjunto, as vendas externas daqueles itens caíram 11,87% e foram responsáveis ainda por praticamente 69,0% de toda a redução anotada pelas exportações totais da indústria. Em dólares, baixaram de quase US$ 2,726 bilhões no semestre inicial de 2022 para US$ 2,402 bilhões no mesmo intervalo deste ano, numa redução equivalente a US$ 323,646 milhões.

Com os preços das principais commodities em baixa desde os meses finais de 2022, as vendas externas da indústria foram afetadas negativamente. No acompanhamento feito mensalmente pelo Banco Central (BC), que calcula o Índice de Commodities-Brasil (IC-Br), os preços médios das commodities da agropecuária no mercado internacional acumularam baixa de 6,70% nos últimos 12 meses finalizados em junho deste ano, considerando as flutuações das cotações da carne bovina, algodão, óleo de soja, trigo, açúcar, milho, café, arroz, carne de porco, suco de laranja e cacau.

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Desde dezembro do ano passado, a queda chegou a 4,29%. Para os metais, incluindo alumínio, minério de ferro, cobre, estanho, zinco, chumbo, níquel, ouro e prata, o IC-Br registrou baixas de 16,46% na comparação com junho de 2022 e de 10,95% entre dezembro passado e junho deste ano. O minério de ferro lidera a lista e não tem peso na pauta de exportações do Estado, mas outros grupos de produtos de classe mineral sofreram baixas importantes ao longo do ano.

Perda de participação

Na soma geral, a indústria de transformações realizou exportações a partir de Goiás de US$ 2,714 bilhões nos seis primeiros meses deste ano, em queda de 14,74% na comparação com o primeiro semestre de 2022, quando os embarques do setor haviam alcançado US$ 3,183 bilhões. Como o tombo foi mais intenso do que a redução observada para o total das exportações estaduais, a participação da indústria nesta área recuou de 41,93% para 38,89%. No lado das importações, a queda foi menos intensa do que a diminuição média experimentada pelo total importado, que anotou retração de 20,6% no primeiro semestre. As compras internacionais realizadas pela indústria saíram de US$ 2,916 bilhões entre janeiro e junho do ano passado para pouco menos do que U$ 2,447 bilhões nos mesmos seis meses deste ano, numa redução de 16,09%. O setor, que havia respondido por 93,17% de tudo o que o Estado importou na primeira metade de 2022, elevou sua participação para 98,47%.

Balanço

  • O saldo na balança comercial da indústria praticamente não saiu do lugar, recuando levemente de US$ 267,695 milhões para US$ 267,346 milhões, o que correspondeu a qualquer coisa próxima de 6,0% do superávit total da balança goiana (exportações menos importações).
  • No lado das importações ainda, houve salto de 41,98% para as compras de produtos farmacêuticos, que passaram de US$ 619,631 milhões para US$ 879,723 milhões (ou seja, US$ 260,092 milhões a mais). O avanço foi anulado pelo tombo de 59,22% nas compras de adubo e fertilizantes importados, que despencaram de US$ 1,092 bilhão para somente US$ 445,450 milhões (conforme já registrado neste espaço, mais uma vez). A queda nesta área recebeu o empurrão dos preços, que sofreram baixa de 36,14% na média entre os dois semestres analisados. O produto devolveu parte da escalada registrada no ano passado, quando seus preços chegaram a dobrar em alguns casos.
  • Houve baixa de 2,13% nas compras externas de máquinas e aparelhos mecânicos, de US$ 296,917 milhões para US$ 290,605 milhões e elevação de 9,75% nas importações de veículos, suas peças e acessórios, partindo de US$ 243,306 milhões para US$ 266,987 milhões.
  • Houve baixas ainda para as importações de produtos químicos orgânicos (-19,31%, de US$ 183,873 milhões para US$ 148,362 milhões), de instalações e aparelhos ópticos (-7,91%, de US$ 96,753 milhões para US$ 89,100 milhões), de máquinas e aparelhos elétricos (-28,07%, de US$ 87,437 milhões para US$ 62,897 milhões), de plásticos e suas obras (-14,94%, saindo de US$ 34,556 milhões para US$ 29,395 milhões), de produtos diversos da indústria química (-40,42%, de US$ 46,814 milhões para US$ 27,892 milhões) e de móveis (-58,4%, de US$ 23,971 milhões para US$ 9,972 milhões).
  • Desagregadas entre seus principais itens, as exportações da indústria registraram perdas severas em ferroligas, óleo de soja e ouro, com baixas, respectivamente, de 25,58%, de 47,13% e de 51,05%. As exportações de ferroligas até chegaram a experimentar alguma alta, mas os preços médios baixaram 31,4% na média do primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, trazendo as vendas externas de US$ 499,011 milhões para US$ 371,384 milhões.
  • As exportações de óleo de soja caíram de US$ 235,224 milhões para US$ 124,369 milhões, numa perda de US$ 110,855 milhões. Com tombo de 46,48% nos preços médios pagos na exportação, as vendas de ouro lá fora encolheram de US$ 259,455 milhões para US$ 126,996 milhões (US$ 132,459 milhões a menos). O grupo carnes registrou vendas de US$ 907,840 milhões no primeiro semestre deste ano, frente a US$ 932,876 milhões em igual período de 2022. Os volumes embarcados chegaram a crescer 18,0%, atingindo 259,554 mil toneladas. Mas os preços médios recuaram 17,52%.
  • Líder na pauta de exportações da indústria, os embarques de farelo de soja sofreram baixa de 2,30%, saindo de US$ 670,399 milhões para US$ 654,960 milhões. Neste caso, os volumes despachados para fora ficaram quase 5,0% menores, somando 1,245 milhão de toneladas, frente a quase 1,310 milhão de toneladas entre janeiro e junho do ano passado. Os preços, contrariando a tendência geral, experimentaram elevação de 2,8%.